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ELE DISSE
Deus abençoe a canalhice feminina
FERNANDO BONASSI
colunista da Folha
Amor, sexo, amor&sexo, amor
x sexo... A idéia, convencionalmente aceita, de que essas coisas
andam separadas é apenas mais
um sinal do quanto estamos perdidos. Cuidado! Corremos perigo
com o que carregamos entre as
pernas! Muita atenção! De uma
hora pra outra, nossos inocentes
cacetes e xotas podem criar vida
própria e nos expor aos piores
desvarios!
Tudo isso poderia ser bem mais
interessante, não precisássemos
"enfiar" ferramentas de raciocínio onde o dito cujo não é chamado. Temos medo. Gostamos da
coisa, mas ela é boa demais.
Não suportamos coisas boas demais, essa é que é a verdade.
Quem dá presenteia. Quem come
se alimenta -e isso bem poderia
ser suficiente. Mas não: precisamos de inteligência até para lidar
com prazeres! Que miséria a da
nossa sensibilidade, não é mesmo?!
Quem eu amo não me come.
Quem me come eu não amo. Eis o
ponto de partida de "Romance",
dirigido por Catherine Breillat. O
filme francês está longe de ser original.
Longe mesmo das referências
cinematográficas da diretora, como, por exemplo, Nagisa Ogima.
O valor de filmes como "Império
da Paixão" e/ou "Império dos
Sentidos" vem, principalmente,
do "não dito", da experiência viva
do amor/sexo, e não dessa verborragia psicanalítica que costuma assolar tais lamentáveis "filmes de amor ousados".
De toda maneira, "Romance"
tem um ponto a seu favor e precisa ser visto. Há um aspecto pouco
desenvolvido no roteiro, que ilumina um caminho do que o filme
poderia ser.
Certos comentários femininos
em torno do comportamento dos
homens em situações de cama e
mesa são especialmente espirituosos.
Essa, digamos, "vulgaridade de
apreciação", que escapa aqui e ali
em certas reflexões da gostosíssima Marie (Caroline Ducey), é o
melhor e o mais efetivamente libertário que o filme pode oferecer. Trata-se de um registro cultural que foi monopolizado pelos
machos.
Pouco se sabe, ou se divulga, da
canalhice feminina. Apesar de
pouco simpático em relação aos
rapazes, eles próprios têm muito
a aprender com o filme.
No mais, bem... A idéia de que
ao mostrar uma xoxota amarrada
ou uma atriz "fingindo" um boquete está se fazendo um filme radical, me desculpe muito... mas lá
na Mooca lidamos com esse negócio desde muito cedo.
Ainda prefiro a clareza da pornografia. Fica aqui a sugestão de
que as mulheres também passem
a atuar (de forma diferente da que
vêm atuando, é claro) e exigir os
seus próprios produtos nesse nicho de mercado.
Avaliação:
Filme: Romance
Produção: França, 1999
Direção: Catherine Breillat
Com: Caroline Ducey, Sagamore
Stévenin, Rocco Siffredi
Quando: a partir de hoje, nos cines
Espaço Unibanco 2, Ipiranga 2, Morumbi
5 e circuito
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