São Paulo, Sexta-feira, 13 de Agosto de 1999
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ELE DISSE
Deus abençoe a canalhice feminina

FERNANDO BONASSI
colunista da Folha

Amor, sexo, amor&sexo, amor x sexo... A idéia, convencionalmente aceita, de que essas coisas andam separadas é apenas mais um sinal do quanto estamos perdidos. Cuidado! Corremos perigo com o que carregamos entre as pernas! Muita atenção! De uma hora pra outra, nossos inocentes cacetes e xotas podem criar vida própria e nos expor aos piores desvarios!
Tudo isso poderia ser bem mais interessante, não precisássemos "enfiar" ferramentas de raciocínio onde o dito cujo não é chamado. Temos medo. Gostamos da coisa, mas ela é boa demais.
Não suportamos coisas boas demais, essa é que é a verdade. Quem dá presenteia. Quem come se alimenta -e isso bem poderia ser suficiente. Mas não: precisamos de inteligência até para lidar com prazeres! Que miséria a da nossa sensibilidade, não é mesmo?!
Quem eu amo não me come. Quem me come eu não amo. Eis o ponto de partida de "Romance", dirigido por Catherine Breillat. O filme francês está longe de ser original.
Longe mesmo das referências cinematográficas da diretora, como, por exemplo, Nagisa Ogima. O valor de filmes como "Império da Paixão" e/ou "Império dos Sentidos" vem, principalmente, do "não dito", da experiência viva do amor/sexo, e não dessa verborragia psicanalítica que costuma assolar tais lamentáveis "filmes de amor ousados".
De toda maneira, "Romance" tem um ponto a seu favor e precisa ser visto. Há um aspecto pouco desenvolvido no roteiro, que ilumina um caminho do que o filme poderia ser.
Certos comentários femininos em torno do comportamento dos homens em situações de cama e mesa são especialmente espirituosos.
Essa, digamos, "vulgaridade de apreciação", que escapa aqui e ali em certas reflexões da gostosíssima Marie (Caroline Ducey), é o melhor e o mais efetivamente libertário que o filme pode oferecer. Trata-se de um registro cultural que foi monopolizado pelos machos.
Pouco se sabe, ou se divulga, da canalhice feminina. Apesar de pouco simpático em relação aos rapazes, eles próprios têm muito a aprender com o filme.
No mais, bem... A idéia de que ao mostrar uma xoxota amarrada ou uma atriz "fingindo" um boquete está se fazendo um filme radical, me desculpe muito... mas lá na Mooca lidamos com esse negócio desde muito cedo.
Ainda prefiro a clareza da pornografia. Fica aqui a sugestão de que as mulheres também passem a atuar (de forma diferente da que vêm atuando, é claro) e exigir os seus próprios produtos nesse nicho de mercado.


Avaliação:   

Filme: Romance Produção: França, 1999 Direção: Catherine Breillat Com: Caroline Ducey, Sagamore Stévenin, Rocco Siffredi Quando: a partir de hoje, nos cines Espaço Unibanco 2, Ipiranga 2, Morumbi 5 e circuito

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