São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 2005

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Forgotten Boys, exemplo da renovação da cena do rock nacional, lança seu terceiro álbum

Quero ser grande

"Eu assisto à TV/ Esqueço o que me dizem/ Bem, eu sou muito jovem/ E eles são muito velhos."
The Strokes, "Hard to Explain"

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Faz quatro anos, mas não custa relembrar: 2001 viu o rock como o conhecíamos chacoalhar, cair e crescer com uma nova cara. Culpa de bandas como os Strokes, que recolocaram as guitarras nas mãos de gente jovem, nas pistas de dança, nas rádios, na MTV.
Pois o 2001 brasileiro, finalmente, chegou. As bandas sempre estiveram por aí, mas faltava estrutura, sustentação, um circuito firme de shows, certa qualidade. Mas a coisa vem se acertando: festivais de porte dão espaço a grupos novos, revistas especializadas estão reaparecendo, a mídia internacional está olhando para cá.
É a movimentação que levou o "New York Times" a dedicar recentemente página inteira a uma reportagem que tenta explicar o fenômeno Pitchfork, site (www.pitchforkmedia.com) que cobre quase exclusivamente bandas independentes e novas e que está na contramão de revistas e publicações, on-line ou não, que vêm se debatendo para manter leitores/ audiência. No meio disso tudo, entram os Forgotten Boys.
O quarteto, formado há sete anos em São Paulo, lança, nesta quinta, o terceiro álbum, agora com produção refinada e com uma gravadora que, apesar de independente, deve atuar com estrutura de majors na divulgação do disco. Produzido por Daniel Ganjaman, integrante do coletivo Instituto, "Stand by the D.A.N.C.E." é provavelmente o melhor disco de rock brasileiro a ganhar espaço decente na mídia em muitos anos.
Os Forgotten Boys já haviam sido responsáveis por outros dois álbuns, mas nenhum tão bem-acabado quanto este "Stand by the D.A.N.C.E.". "Quem sempre acabava produzindo nossos discos, no final das contas, éramos nós mesmos. Muita coisa que aparece nos discos anteriores é terrível, mambembe", reconhece o guitarrista Chuck Hipolitho, 27. "Este é o primeiro que fazemos que realmente tem a mão do produtor. Às vezes chegávamos no estúdio, gravávamos um som de guitarra, mas o Ganjaman falava: "Não, o som da guitarra deve ser outro". Ou indicava como cantar uma canção", diz o guitarrista e vocalista Gustavo Riviera, 28.
O álbum traz novidades: é o primeiro em que a banda aparece cantando em português -em "5 Mentiras", "Blá Blá Blá" e "Não Vou Ficar". "Tentamos gravar em português outras vezes, mas não ficou bom. Desta vez até achávamos que não iria ficar bom, mas gostamos delas", diz Riviera. "No final, nem sei se as pessoas levam em conta se uma banda canta em português ou não. Quando os Raimundos apareceram, eles cantavam em português, mas não dava para entender nenhuma palavra", afirma o baixista Zé Mazzei, 24. O baterista Flávio Cavichioli, 31, completa o grupo.
Se cantar em português aproxima o Forgotten Boys de um público acostumado com os velhos nomes "roqueiros" brasileiros, a banda se dissocia de qualquer parentesco com esses grupos.
"Não dá para comparar com essas bandas [brasileiras]. Esses grupos não fazem o som que fazemos. As referências são outras", diz Hipolitho. "Nossas influências são Stooges, MC5, Stones, é disso que gostamos", afirma Riviera. "Não queríamos nos diferenciar de outras bandas nacionais por cantarmos em inglês. Agora estamos botando a cara a tapa."
Mas o grupo vê com entusiasmo o parentesco com os novos grupos independentes do Brasil, nomes como Cansei de Ser Sexy, Los Pirata, Mombojó, Irmãos Rocha!. "É legal estar no meio disso, até porque essas bandas são todas diferentes entre si. Mas, se está havendo uma repercussão grande, é porque fazem algo diferente, original, que está faltando no rock brasileiro", explica Hipolitho. "Há mesmo esse movimento de bandas independentes serem contratadas por gravadoras de porte, com uma estrutura boa, mas que não procuram uma exposição exagerada. É legal saber que tem gente olhando para isso", diz Riviera. "Fazia tempo que não aparecia bandas novas nesse meio."
Os Forgotten Boys se apresentaram em agosto no festival Campari Rock, abrindo para o MC5. Antes, excursionaram com Pitty. Devem entrar em turnê pelo país ainda neste mês.
"Fizemos poucos shows com a Pitty, alguns no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas, como éramos a banda de abertura, o público não era o nosso. Mas muita gente comprou nossos discos", diz Riviera. "Mesmo com o MC5: tocamos antes deles, pensávamos que iríamos ser hostilizados, mas o público foi legal, nos aplaudiu bastante." Em pouco tempo, eles é que vão ser os donos das turnês.


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