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Forgotten Boys, exemplo da renovação da cena do rock nacional, lança seu terceiro álbum
Quero ser grande
"Eu assisto à TV/ Esqueço o que me
dizem/ Bem, eu sou muito jovem/ E eles são muito velhos."
The Strokes, "Hard to Explain"
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Faz quatro anos, mas não custa
relembrar: 2001 viu o rock como o
conhecíamos chacoalhar, cair e
crescer com uma nova cara. Culpa de bandas como os Strokes,
que recolocaram as guitarras nas
mãos de gente jovem, nas pistas
de dança, nas rádios, na MTV.
Pois o 2001 brasileiro, finalmente, chegou. As bandas sempre estiveram por aí, mas faltava estrutura, sustentação, um circuito firme de shows, certa qualidade.
Mas a coisa vem se acertando: festivais de porte dão espaço a grupos novos, revistas especializadas
estão reaparecendo, a mídia internacional está olhando para cá.
É a movimentação que levou o
"New York Times" a dedicar recentemente página inteira a uma
reportagem que tenta explicar o
fenômeno Pitchfork, site (www.pitchforkmedia.com) que cobre
quase exclusivamente bandas independentes e novas e que está na
contramão de revistas e publicações, on-line ou não, que vêm se
debatendo para manter leitores/
audiência. No meio disso tudo,
entram os Forgotten Boys.
O quarteto, formado há sete
anos em São Paulo, lança, nesta
quinta, o terceiro álbum, agora
com produção refinada e com
uma gravadora que, apesar de independente, deve atuar com estrutura de majors na divulgação
do disco. Produzido por Daniel Ganjaman, integrante do coletivo Instituto,
"Stand by the D.A.N.C.E." é provavelmente o melhor disco de
rock brasileiro a ganhar espaço
decente na mídia em muitos anos.
Os Forgotten Boys já haviam sido responsáveis por outros dois
álbuns, mas nenhum tão bem-acabado quanto este "Stand by
the D.A.N.C.E.". "Quem sempre
acabava produzindo nossos discos, no final das contas, éramos
nós mesmos. Muita coisa que
aparece nos discos anteriores é
terrível, mambembe", reconhece
o guitarrista Chuck Hipolitho, 27.
"Este é o primeiro que fazemos
que realmente tem a mão do produtor. Às vezes chegávamos no
estúdio, gravávamos um som de
guitarra, mas o Ganjaman falava:
"Não, o som da guitarra deve ser
outro". Ou indicava como cantar
uma canção", diz o guitarrista e
vocalista Gustavo Riviera, 28.
O álbum traz novidades: é o primeiro em que a banda aparece
cantando em português -em "5
Mentiras", "Blá Blá Blá" e "Não
Vou Ficar". "Tentamos gravar em
português outras vezes, mas não
ficou bom. Desta vez até achávamos que não iria ficar bom, mas
gostamos delas", diz Riviera. "No
final, nem sei se as pessoas levam
em conta se uma banda canta em
português ou não. Quando os
Raimundos apareceram, eles cantavam em português, mas não dava para entender nenhuma palavra", afirma o baixista Zé Mazzei,
24. O baterista Flávio Cavichioli,
31, completa o grupo.
Se cantar em português aproxima o Forgotten Boys de um público acostumado com os velhos nomes "roqueiros" brasileiros, a
banda se dissocia de qualquer parentesco com esses grupos.
"Não dá para comparar com essas bandas [brasileiras]. Esses
grupos não fazem o som que fazemos. As referências são outras",
diz Hipolitho. "Nossas influências
são Stooges, MC5, Stones, é disso
que gostamos", afirma Riviera.
"Não queríamos nos diferenciar
de outras bandas nacionais por
cantarmos em inglês. Agora estamos botando a cara a tapa."
Mas o grupo vê com entusiasmo
o parentesco com os novos grupos independentes do Brasil, nomes como Cansei de Ser Sexy, Los
Pirata, Mombojó, Irmãos Rocha!.
"É legal estar no meio disso, até
porque essas bandas são todas diferentes entre si. Mas, se está havendo uma repercussão grande, é
porque fazem algo diferente, original, que está faltando no rock
brasileiro", explica Hipolitho.
"Há mesmo esse movimento de
bandas independentes serem
contratadas por gravadoras de
porte, com uma estrutura boa,
mas que não procuram uma exposição exagerada. É legal saber
que tem gente olhando para isso",
diz Riviera. "Fazia tempo que não
aparecia bandas novas nesse
meio."
Os Forgotten Boys se apresentaram em agosto no festival Campari Rock, abrindo para o MC5. Antes, excursionaram com Pitty. Devem entrar em turnê pelo país
ainda neste mês.
"Fizemos poucos shows com a
Pitty, alguns no Rio de Janeiro e
em São Paulo. Mas, como éramos
a banda de abertura, o público
não era o nosso. Mas muita gente
comprou nossos discos", diz Riviera. "Mesmo com o MC5: tocamos antes deles, pensávamos que
iríamos ser hostilizados, mas o
público foi legal, nos aplaudiu
bastante." Em pouco tempo, eles
é que vão ser os donos das turnês.
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