São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 2006

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Meirelles adapta livro de Saramago

"Ensaio sobre a Cegueira" vai ser filmado pelo diretor de "Cidade de Deus" com locações em SP

J. Scott Applewhite - 27.jul.2005/ Associated Press
O diretor Fernando Meirelles, durante entrevista em Washington


EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A TORONTO

Em 1997, bem antes de lançar "Cidade de Deus" (2002), o diretor Fernando Meirelles tentou comprar os direitos de "Ensaio Sobre a Cegueira" (1995), romance de José Saramago. O escritor português ganharia o Nobel de Literatura em 1998. Meirelles queria fazer da adaptação do livro seu primeiro longa, mas Saramago não topou, argumentando que não havia muito sentido em transformar em imagens uma história sobre a cegueira.
Dois anos depois, Saramago aceitou vender os direitos à produtora canadense Rhombus Media e, por obra do destino, caberá a Meirelles assumir a direção de "Blindness" (título do romance em inglês).
O filme é uma co-produção entre Brasil (leia-se O2), Canadá, Reino Unido (Potboiler Productions, produtora de "O Jardineiro Fiel") e Japão (Bee Vine Pictures), apresentada oficialmente anteontem, durante o Festival de Toronto.
"Vocês foram mais persistentes do que eu", brincou Meirelles, durante o anúncio do projeto. "O engraçado é que voltou para minhas mãos."

Intercâmbio
O projeto irá se beneficiar de um programa de financiamento dos governos canadense e brasileiro, que hoje promovem encontros entre cineastas e produtores dos dois países.
Niv Fichman, produtor do filme do lado canadense, conta que Saramago se animou justamente pela idéia de co-produção internacional, sem uma "voz dominante", além de uma promessa de que o filme não cairia nas mãos de um grande estúdio hollywoodiano.
Aprovado o contrato, o escritor teria sido solícito, evitando, no entanto, fazer comentários sobre o roteiro. "Ele tinha mais idéias sobre elenco, coisas assim", afirma ele.
"Blindness" será falado em inglês, mas o elenco ainda não foi escolhido. O filme está orçado em US$ 20 milhões (cerca de R$ 43 milhões), e será rodado em meados do ano que vem, nos arredores de Toronto (a equipe começa a procurar ainda nesta semana uma locação para o asilo que aparece no livro) e São Paulo (sobretudo externas, sem identificar, como no livro, a cidade). Os produtores esperam lançá-lo até março de 2008.

Indicado ao Tony
A primeira versão da adaptação ficou pronta há cerca de dois anos e é assinada pelo ator, diretor e roteirista canadense Don McKellar, que havia lido o romance de Saramago pela primeira vez em 1999.
Para McKellar, que neste ano foi indicado ao Tony de melhor roteiro pelo musical "The Drowsy Chaperone", sucesso de público e crítica na Broadway, o desafio de verter para a tela a prosa de pontuação singular de "Ensaio" não assusta.
"A ação do livro é muito simples e clara. E, quando você se acostuma ao estilo, se torna bem fácil, porque a linguagem é bem oral", diz McKellar, mais preocupado com a fidelidade ao espírito do romance.
"Se eu apenas recontar a história, se transformar os cegos em zumbis, o longa será um erro, vai soar como um filme de gênero, de terror ou de ação, com um subenredo de vingança, o que seria uma desculpa para violência gráfica, como em muitos filmes americanos. Isto não seria fiel à obra. O tema essencial do livro é a dignidade humana. E como os artifícios para mantê-la, na nossa sociedade, são frágeis", avalia o roteirista.

O jornalista EDUARDO SIMÕES viaja a convite do consulado do Canadá em São Paulo

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