São Paulo, Segunda-feira, 13 de Setembro de 1999
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"A ETERNIDADE E UM DIA"

da Reportagem Local

Um dia antes de receber a Palma de Ouro em Cannes, em 98, o cineasta grego Theo Angelopoulos disse sobre "A Eternidade e Um Dia", logo após a primeira projeção do filme no festival: "Eu optei por planos bem desenhados e cortes delicados para reproduzir, na narrativa, o tempo de ligação entre as palavras de um poema".
O diretor não foi pretensioso: seu filme é realmente um poema cinematográfico sobre o tempo. Ele fala de raízes e do futuro, durante a viagem de despedida de um poeta grego (Bruno Ganz, no papel que deveria ser de Marcello Mastroianni) que descobre ter uma doença fatal.
Decidido a dar adeus à vida, o poeta encontra-se com a filha, a empregada e a memória da esposa, em um acerto de contas com as suas raízes pessoais. Nesse percurso encontra o inesperado: um menino albanês (Achileas Skevis) à mercê da opressão da polícia grega e alvo do contrabando de crianças para o norte da Europa.
É a representação do futuro no batente do passado. O poeta não se nega ao resgate da criança, antes, decide ajudá-la a encontrar o seu destino, voltar à sua pátria. Esse jogo de tempo e identidades se dá pelo modo mais autêntico possível, que chega a dispensar o idioma como mediador e juiz.
Na súbita e terna relação entre o menino albanês e o velho grego estão compreendidas as fronteiras simbólicas do presente em seu viés político e social. Angelopoulos construiu uma ponte entre o antes e o depois de seu tempo com uma argamassa feita de memória e humanidade. Um verdadeiro legado. (FG)

Avaliação:     

Filme: A Eternidade e Um Dia (Mia Aiwniothta Kai Mia Mera) Diretor: Theo Angelopoulos Produção: Grécia/Itália/França, 1998, 130 min. Gênero: drama


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