São Paulo, Quarta-feira, 13 de Outubro de 1999
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CINEMA

Festival internacional deixa as salas improvisadas do Zoo Palast, onde foi realizado durante 42 anos

Berlim celebra os 50 anos com nova sede

da equipe de articulistas

O Festival Internacional de Cinema de Berlim vai ganhar nova sede para celebrar, entre 9 e 20 de fevereiro de 2000, sua 50ª edição. Depois de 42 anos de projeções algo improvisadas no Zoo Palast, um conjunto de salas comerciais de cinema no coração da antiga Berlim Ocidental, o evento será transferido para o imponente Berlinale-Palast na Potsdamer Platz do antigo lado oriental.
A nova sede já está pronta, em mais um triunfo arquitetônico da Berlim tornada megacanteiro de obras devido à volta de status de capital político-administrativa da Alemanha. Defronte ao Palast, endereço das principais projeções, incluindo a mostra competitiva, situa-se uma ampla praça em homenagem a Marlene Dietrich.
Uma caminhada de cinco minutos leva a outro complexo de salas, batizado CinemaxX (sic). Dez cinemas vão ser sede das mostras paralelas, como o Panorama, a Retrospectiva e o Festival de Cinema Infantil, e o autônomo Fórum do Cinema Jovem. O mercado para o cinema europeu vai para o piso inferior do complexo.
"A mudança não foi uma decisão inicial do festival, mas faz sentido", reconhece o diretor do evento, Moritz de Hadeln, em texto publicado no catálogo de apresentação da nova sede. "Nos últimos dez anos o público mais que dobrou, superando a capacidade da presente localização".
Não será a estréia da Berlinale na antiga Berlim Oriental. A partir da queda do muro, desde a edição de 1990, o festival exibe parte de seu programa em salas na região.
Berlim é um evento acostumado a mudanças -de perfil mais que de logística. Nasceu sob o signo da Guerra Fria, numa cidade dividida pelas potências vitoriosas da Segunda Guerra. Não surpreende que, mais que Cannes e Veneza, seus parceiros entre os três grandes, tenha sido tradicionalmente o mais aberto ao cinema engajado.
O festival alemão foi pioneiro no lançamento dos chamados "cinemas novos" dos anos 60, como comprova o triunfo ainda em 1959 de "Os Primos" de Chabrol, em 1961 de "A Noite" de Antonioni e em 1965 de "Alphaville" de Godard. Vários clássicos do cinema novo brasileiro por lá passaram, ainda que a primeira vitória nacional tenha acontecido apenas no ano passado com "Central do Brasil".
Na última década, depois da dissolução do império soviético e da reunificação alemã, nova mudança de rumos procurou sintonizar o festival com o advento da Europa unida. Um mercado específico foi estabelecido e a produção européia tornou-se largamente majoritária, ao menos em número, na lista de concorrentes ao Urso de Ouro.
Berlim passou a ser ainda, dos grandes festivais, o mais sintonizado com a produção hollywoodiana. A coincidência entre o período do festival e o anúncio dos concorrentes ao Oscar transformou-o na principal plataforma de lançamento na Europa dos preferidos da academia.
Um olho nos independentes, outro em Hollywood -eis a presente fórmula. Cinco dos vitoriosos dos anos 90 vieram dos EUA. Ao mesmo tempo, Berlim revelou ao mundo cineastas do porte de Zhang Yimou, Ang Lee e Walter Salles, entre outros.
Não é a toa que o primeiro título confirmado para o 50º festival é o novo filme de Zhang, "O Caminho para Casa". Recém-detentor de um Leão de Ouro em Veneza 99 por "Nenhum a Menos", o cineasta chinês inaugurou sua estante de prêmios com o Urso de Ouro obtido em Berlim por seu filme de estréia, "Sorgo Vermelho" (1988). (AMIR LABAKI)


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