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LITERATURA
Nobel faz segunda viagem ao país neste ano para falar em congresso educacional e debater livro de entrevistas
Educação traz Saramago de volta ao Brasil
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
José Saramago está mais uma
vez entre nós. Menos de cinco
meses depois de fazer uma palestra em São Paulo, o Nobel português faria ontem outra aterrissagem no aeroporto de Cumbica.
O escritor de 80 anos não terá
muito tempo de descanso. Hoje,
às matutinas 9h, ele deve estar no
Anhembi para a abertura do 1º
Congresso Internacional de Educação, congresso bancado pela
editora Moderna e seu controlador espanhol, o Grupo Santillana.
Saramago vai fazer a conferência "A Educação, Uma Experiência Pessoal", onde deve lembrar a
sua tortuosa convivência com o
ensino formal. Filho de camponeses sem-terra do Ribatejo, ele teve
de trocar o curso secundário por
uma escola técnica, onde se formou serralheiro mecânico.
Experiências como essas o autor
de mais de 20 livros narra também em um volume que divide
suas atenções na turnê brasileira.
Amanhã à noite ele participará
de debate da série Café Filosófico,
da livraria Cultura do Conjunto
Nacional, em São Paulo, onde será lançado o livro "José Saramago:
Um Amor Possível", resultado de
entrevistas com o jornalista e escritor espanhol Juan Arias.
Lançado em 1998 na Espanha,
pouco antes da vitória do Nobel
-que esta semana completa cinco anos-, o trabalho do correspondente do jornal espanhol "El
País" no Rio de Janeiro está sendo
publicado no Brasil pela editora
carioca Manati.
Arias promete para o encontro
um prolongamento das conversas
que teve com o romancista em
uma semana quente de setembro
de 1997, na casa de Saramago, na
ilha Lanzarote, na Espanha. No
bate-papo, o escritor falou de temas até então nunca explorados,
como a pobreza de sua infância
na cidade de Azinhaga.
O entrevistador diz que desta
vez pretende cutucar um aspecto
que só enxergou mais tarde no
entrevistado. "Vou perguntar como ele consegue ser um profeta.
Tudo o que ele falou no livro, suas
análises econômicas, a antecipação de uma crise mundial, o ataque ao império americano, tudo
já estava lá", conta Arias à Folha.
Ele também pretende conversar
com Saramago sobre o "engajamento do intelectual". Arias, que
já publicou mais de dez livros,
quer fazer o autor português falar
sobre o papel do escritor.
"Mesmo sendo um dos maiores
escritores do mundo, e dono do
Nobel, ele não se refugia em seus
livros e continua lutando com
mesma intensidade pela democracia em todo o planeta."
E no que mudou Saramago pós-Nobel? "Em nada. A melhor coisa
a dizer sobre ele é que é "um dos
poucos homens que sabemos de
que raça é'", afirma, relembrando
frase que escutou do jornalista italiano Indro Montanelli sobre o escritor Leonardo Sciascia, durante
o período de 34 anos em que trabalhou como correspondente do
"El País" na Itália.
Se ainda houver tempo, Arias
deve levar a conversa para o campo da religiosidade, sua especialidade. Autor de "Jesus - Esse Grande Desconhecido" (editora Objetiva) e prestes a finalizar um livro
chamado "A Bíblia e seus Secredos", o jornalista toma Saramago
como "alguém profundamente
religioso", em sua relação com a
natureza -tema recorrente de
"Um Amor Possível".
Para quem for impossível
acompanhar a conversa na livraria Cultura existe a oportunidade
de ver o Nobel ao vivo nesta noite
na TV. O escritor está no miolo do
"Roda Viva", da TV Cultura, que
será exibido as 22h30.
Só depois disso tudo Saramago
volta para Lanzarote, onde vem
trabalhando em seu próximo romance, que deve ser batizado de
"Ensaio sobre a Lucidez".
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