UOL


São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LITERATURA

Nobel faz segunda viagem ao país neste ano para falar em congresso educacional e debater livro de entrevistas

Educação traz Saramago de volta ao Brasil

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

José Saramago está mais uma vez entre nós. Menos de cinco meses depois de fazer uma palestra em São Paulo, o Nobel português faria ontem outra aterrissagem no aeroporto de Cumbica.
O escritor de 80 anos não terá muito tempo de descanso. Hoje, às matutinas 9h, ele deve estar no Anhembi para a abertura do 1º Congresso Internacional de Educação, congresso bancado pela editora Moderna e seu controlador espanhol, o Grupo Santillana.
Saramago vai fazer a conferência "A Educação, Uma Experiência Pessoal", onde deve lembrar a sua tortuosa convivência com o ensino formal. Filho de camponeses sem-terra do Ribatejo, ele teve de trocar o curso secundário por uma escola técnica, onde se formou serralheiro mecânico.
Experiências como essas o autor de mais de 20 livros narra também em um volume que divide suas atenções na turnê brasileira.
Amanhã à noite ele participará de debate da série Café Filosófico, da livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, onde será lançado o livro "José Saramago: Um Amor Possível", resultado de entrevistas com o jornalista e escritor espanhol Juan Arias.
Lançado em 1998 na Espanha, pouco antes da vitória do Nobel -que esta semana completa cinco anos-, o trabalho do correspondente do jornal espanhol "El País" no Rio de Janeiro está sendo publicado no Brasil pela editora carioca Manati.
Arias promete para o encontro um prolongamento das conversas que teve com o romancista em uma semana quente de setembro de 1997, na casa de Saramago, na ilha Lanzarote, na Espanha. No bate-papo, o escritor falou de temas até então nunca explorados, como a pobreza de sua infância na cidade de Azinhaga.
O entrevistador diz que desta vez pretende cutucar um aspecto que só enxergou mais tarde no entrevistado. "Vou perguntar como ele consegue ser um profeta. Tudo o que ele falou no livro, suas análises econômicas, a antecipação de uma crise mundial, o ataque ao império americano, tudo já estava lá", conta Arias à Folha.
Ele também pretende conversar com Saramago sobre o "engajamento do intelectual". Arias, que já publicou mais de dez livros, quer fazer o autor português falar sobre o papel do escritor.
"Mesmo sendo um dos maiores escritores do mundo, e dono do Nobel, ele não se refugia em seus livros e continua lutando com mesma intensidade pela democracia em todo o planeta."
E no que mudou Saramago pós-Nobel? "Em nada. A melhor coisa a dizer sobre ele é que é "um dos poucos homens que sabemos de que raça é'", afirma, relembrando frase que escutou do jornalista italiano Indro Montanelli sobre o escritor Leonardo Sciascia, durante o período de 34 anos em que trabalhou como correspondente do "El País" na Itália.
Se ainda houver tempo, Arias deve levar a conversa para o campo da religiosidade, sua especialidade. Autor de "Jesus - Esse Grande Desconhecido" (editora Objetiva) e prestes a finalizar um livro chamado "A Bíblia e seus Secredos", o jornalista toma Saramago como "alguém profundamente religioso", em sua relação com a natureza -tema recorrente de "Um Amor Possível".
Para quem for impossível acompanhar a conversa na livraria Cultura existe a oportunidade de ver o Nobel ao vivo nesta noite na TV. O escritor está no miolo do "Roda Viva", da TV Cultura, que será exibido as 22h30.
Só depois disso tudo Saramago volta para Lanzarote, onde vem trabalhando em seu próximo romance, que deve ser batizado de "Ensaio sobre a Lucidez".



Texto Anterior: Política cultural: "Uso de dinheiro no cinema é irracional"
Próximo Texto: Série: Estética do morro carioca invade a TV
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.