São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 2006

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Última Moda

Alcino Leite Neto (em Paris) - ultima.moda@folhasp.com.br

Paris liberta as pernas e a imaginação

Futurismo, neominimalismo e microvestidos dominam temporada francesa

A temporada primavera-verão 2007 de Paris chegou ao fim no último domingo com muitas promessas para a moda, que vive hoje impasses bem complicados, como a disputa entre os estilistas e as grandes companhias. Os primeiros desejam estar livres para criar, introduzindo novidades no sistema. As poderosas corporações querem garantir o sucesso de suas vendas com idéias seguras.
Mais que Nova York e Milão, foi Paris que conseguiu libertar as coleções das limitações comerciais, abrir espaço para a imaginação e buscar saídas para o futuro da moda. O ápice desta "liberação para a frente" foi o desfile do cipriota Hussein Chalayan, que apresentou uma coleção espantosa, na qual as roupas se moviam e se metamorfoseavam no corpo, graças a um controle remoto. No final, um chapéu eletrônico engoliu toda a roupa da modelo, deixando-a completamente nua.
Chalayan deu o passo mais ousado rumo à simbiose da moda com a tecnologia, mas não foi o único a ter inspirações futuristas. Elas também apareceram na Balenciaga, na Lanvin e na Givenchy, indicando o desejo dos estilistas de superarem a longa fase nostálgica e romântica das últimas temporadas.

Esportiva
Outra tendência forte para o verão 2007 é a reelaboração que a moda está fazendo da roupa esportiva, cada vez mais presente no cotidiano das pessoas. Francisco Costa criou para a Calvin Klein, na semana de Nova York, a melhor e mais sofisticada releitura do sportswear até agora, mas outras grifes também se dedicaram ao assunto em Milão, como a Marni, e em Paris, como Jean-Paul Gaultier e Dries van Noten.
Tudo isto está relacionado à preocupação com as novas exigências da mulher, que deseja reunir a sofisticação das formas com as demandas práticas do cotidiano. Nas melhores coleções, como a Chanel, o resultado é ao mesmo tempo chique e casual, sensual e sofisticado.
Apesar dos desfiles muito românticos de Alexander McQueen e Louis Vuitton, um novo minimalismo também se apresentou em Paris, mas livre da austeridade monástica que caracterizou sua última grande aparição na moda, nos anos 90. Os criadores estão mais preocupados em buscar outras formas de relação do corpo com a roupa e destes com o espaço do que com os efeitos decorativos. Por isso mesmo, apostaram em silhuetas imprevistas e nos geométricos, como a Miu Miu, que fechou a temporada francesa com uma coleção inspirada no construtivismo russo.
Os estilistas também estão investindo em novos tecidos tecnológicos e no acabamento, a fim de criar complicações para as redes de "fast fashion" (como a Zara), que reproduzem os looks mais fáceis, mas não conseguem copiar nem a qualidade dos têxteis, nem certas modelagens mais complexas.
Há também uma forte e divertida sensualidade na temporada, que propôs uma bombástica liberação das pernas, com vestidos curtos e curtíssimos, shortinhos e microssaias. Sempre que as mulheres encurtam radicalmente as saias, como nos anos 60, é porque alguma mudança está prestes a eclodir neste mundo. Prepare-se!

Semana de moda causa frenesi fashion

Um verdadeiro frenesi toma conta de Paris durante a semana de moda. Desta vez, foram mais de 80 desfiles do calendário oficial, sem falar nas apresentações extra-oficiais e nas centenas de showrooms que abrem as portas para compradores de todo o mundo.
O centro nevrálgico da semana de moda é o Carroussel do Louvre, com três salas no subsolos do museu, onde foram realizados 25 desfiles, sempre pela manhã, como os de Valentino e Kenzo. Mas a maioria das apresentações aconteceu fora dali, levando os fashionistas estressados a cruzarem a cidade, rumo ao Grand Palais (onde a Dior e a Chanel mostraram suas coleções), ao Museu do Homem, à Sorbonne, à Escola Superior de Belas Artes, ao centro esportivo de Bercy e uma série de outros espaços.
As apresentações começavam, em geral, às 9h30 e prosseguiam até as 22h. Depois disso, jantares e festas fechadas pipocavam pela cidade. Um dos convites mais cobiçados da temporada foi para a festa de 30 anos de carreira de Jean-Paul Gaultier, no clube Olympia, em que o estilista bancou o mágico e fez levitar o editor de moda do jornal "Le Figaro".
Dezenas de celebridades internacionais desembarcaram em Paris durante a temporada, entre elas Demi Moore, Paul McCartney, Orlando Bloom e Janet Jackson. Franceses famosos também deram o ar da graça nos desfiles, como Catherine Deneuve e as duas novas estrelas do cinema francês: a intrigante Charlotte Gainsbourg e a deliciosa Eva Green.

Benetton faz primeiro desfile de sua história

A Benetton fez o primeiro desfile de toda a sua história na última quarta-feira, no Centro Georges Pompidou, o Beaubourg, em Paris. O show tinha um bom motivo: comemorar os 40 anos da grife italiana.
Boa parte das roupas era inspirada em looks clássicos da marca, com cores vivas e generosas -o que deixou a sensação de que o desfile era uma grande retrospectiva do estilo da grife. No final, os irmãos Giuliana, Gilberto e Carlo Benetton, liderados pelo mais conhecido membro da família, Luciano, foram aplaudidos de pé.
A festa continuou no Beaubourg, num jantar à italiana para 1.500 convidados e celebridades. O diretor Spike Lee era uma delas, sentado diante do palco onde se apresentaram, para pocket shows, os cantores Patti Smith e Youssou N'Dour e a jazzista Dee Dee Bridgewater.
Até 6/11, o Beaubourg estará mostrando a exposição "Os Olhos Abertos", com extratos das polêmicas publicidades da grife, instalações e projetos em todas as áreas (cinema, TV etc.) feitos pela Fabrica, o centro de criação e design mantido pela Benetton em Treviso, na Itália.


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