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Última Moda
Alcino Leite Neto (em Paris) - ultima.moda@folhasp.com.br
Paris liberta as pernas e a imaginação
Futurismo, neominimalismo e microvestidos dominam temporada francesa
A temporada primavera-verão 2007 de Paris chegou ao fim
no último domingo com muitas
promessas para a moda, que vive hoje impasses bem complicados, como a disputa entre os
estilistas e as grandes companhias. Os primeiros desejam
estar livres para criar, introduzindo novidades no sistema. As
poderosas corporações querem
garantir o sucesso de suas vendas com idéias seguras.
Mais que Nova York e Milão,
foi Paris que conseguiu libertar
as coleções das limitações comerciais, abrir espaço para a
imaginação e buscar saídas para o futuro da moda. O ápice
desta "liberação para a frente"
foi o desfile do cipriota Hussein
Chalayan, que apresentou uma
coleção espantosa, na qual as
roupas se moviam e se metamorfoseavam no corpo, graças
a um controle remoto. No final,
um chapéu eletrônico engoliu
toda a roupa da modelo, deixando-a completamente nua.
Chalayan deu o passo mais
ousado rumo à simbiose da moda com a tecnologia, mas não
foi o único a ter inspirações futuristas. Elas também apareceram na Balenciaga, na Lanvin e
na Givenchy, indicando o desejo dos estilistas de superarem a
longa fase nostálgica e romântica das últimas temporadas.
Esportiva
Outra tendência forte para o
verão 2007 é a reelaboração
que a moda está fazendo da
roupa esportiva, cada vez mais
presente no cotidiano das pessoas. Francisco Costa criou para a Calvin Klein, na semana de
Nova York, a melhor e mais sofisticada releitura do sportswear até agora, mas outras grifes também se dedicaram ao assunto em Milão, como a Marni,
e em Paris, como Jean-Paul
Gaultier e Dries van Noten.
Tudo isto está relacionado à
preocupação com as novas exigências da mulher, que deseja
reunir a sofisticação das formas
com as demandas práticas do
cotidiano. Nas melhores coleções, como a Chanel, o resultado é ao mesmo tempo chique e
casual, sensual e sofisticado.
Apesar dos desfiles muito românticos de Alexander
McQueen e Louis Vuitton, um
novo minimalismo também se
apresentou em Paris, mas livre
da austeridade monástica que
caracterizou sua última grande
aparição na moda, nos anos 90.
Os criadores estão mais preocupados em buscar outras formas de relação do corpo com a
roupa e destes com o espaço do
que com os efeitos decorativos.
Por isso mesmo, apostaram em
silhuetas imprevistas e nos
geométricos, como a Miu Miu,
que fechou a temporada francesa com uma coleção inspirada no construtivismo russo.
Os estilistas também estão
investindo em novos tecidos
tecnológicos e no acabamento,
a fim de criar complicações para as redes de "fast fashion"
(como a Zara), que reproduzem
os looks mais fáceis, mas não
conseguem copiar nem a qualidade dos têxteis, nem certas
modelagens mais complexas.
Há também uma forte e divertida sensualidade na temporada, que propôs uma bombástica liberação das pernas, com
vestidos curtos e curtíssimos,
shortinhos e microssaias. Sempre que as mulheres encurtam
radicalmente as saias, como
nos anos 60, é porque alguma
mudança está prestes a eclodir
neste mundo. Prepare-se!
Semana de moda causa frenesi fashion
Um verdadeiro frenesi toma
conta de Paris durante a semana de moda. Desta vez, foram
mais de 80 desfiles do calendário oficial, sem falar nas apresentações extra-oficiais e nas
centenas de showrooms que
abrem as portas para compradores de todo o mundo.
O centro nevrálgico da semana de moda é o Carroussel do
Louvre, com três salas no subsolos do museu, onde foram
realizados 25 desfiles, sempre
pela manhã, como os de Valentino e Kenzo. Mas a maioria das
apresentações aconteceu fora
dali, levando os fashionistas estressados a cruzarem a cidade,
rumo ao Grand Palais (onde a
Dior e a Chanel mostraram
suas coleções), ao Museu do
Homem, à Sorbonne, à Escola
Superior de Belas Artes, ao centro esportivo de Bercy e uma
série de outros espaços.
As apresentações começavam, em geral, às 9h30 e prosseguiam até as 22h. Depois disso, jantares e festas fechadas pipocavam pela cidade. Um dos
convites mais cobiçados da
temporada foi para a festa de
30 anos de carreira de Jean-Paul Gaultier, no clube Olympia, em que o estilista bancou o
mágico e fez levitar o editor de
moda do jornal "Le Figaro".
Dezenas de celebridades internacionais desembarcaram
em Paris durante a temporada,
entre elas Demi Moore, Paul
McCartney, Orlando Bloom e
Janet Jackson. Franceses famosos também deram o ar da
graça nos desfiles, como Catherine Deneuve e as duas novas
estrelas do cinema francês: a
intrigante Charlotte Gainsbourg e a deliciosa Eva Green.
Benetton faz primeiro desfile de sua história
A Benetton fez o primeiro
desfile de toda a sua história na
última quarta-feira, no Centro
Georges Pompidou, o Beaubourg, em Paris. O show tinha
um bom motivo: comemorar os
40 anos da grife italiana.
Boa parte das roupas era inspirada em looks clássicos da
marca, com cores vivas e generosas -o que deixou a sensação
de que o desfile era uma grande
retrospectiva do estilo da grife.
No final, os irmãos Giuliana,
Gilberto e Carlo Benetton, liderados pelo mais conhecido
membro da família, Luciano,
foram aplaudidos de pé.
A festa continuou no Beaubourg, num jantar à italiana para 1.500 convidados e celebridades. O diretor Spike Lee era
uma delas, sentado diante do
palco onde se apresentaram,
para pocket shows, os cantores
Patti Smith e Youssou N'Dour e
a jazzista Dee Dee Bridgewater.
Até 6/11, o Beaubourg estará
mostrando a exposição "Os
Olhos Abertos", com extratos
das polêmicas publicidades da
grife, instalações e projetos em
todas as áreas (cinema, TV etc.)
feitos pela Fabrica, o centro de
criação e design mantido pela
Benetton em Treviso, na Itália.
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