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OPINIÃO DRAMA
David Fincher constrói um bom thriller ao mirar nos criadores e não na criatura
THALES DE MENEZES
EDITOR-ASSISTENTE DA SÃO PAULO
Fazer um filme sobre um
fenômeno que reúne meio bilhão de pessoas pelo planeta
pode ser fácil. O interesse do
público é garantido. Mas fazer um bom filme protagonizado por um nerd muito antipático que criou a coisa toda
é tarefa para gente de talento.
Gente como David Fincher.
O diretor de "Clube da Luta" e "Zodíaco" quis simplificar no recente Festival de Nova York, que foi aberto por "A
Rede Social". Para Fincher,
"críticos sofisticam demais
meus filmes. Eu apenas gosto
de usar personagens excluídos, que não aceitam o mundo que é oferecido a eles".
Assim ele emparelhou
Mark Zuckerberg, o criador
do Facebook, ao enlouquecido que planeja acabar com as
companhias de cartões de
crédito em "Clube da Luta" e
ao repórter que, contra o ceticismo de todos, não admite
deixar sem solução os crimes
do serial killer em "Zodíaco".
Em "A Rede Social", o relato sobre a rejeição das garotas em Harvard que teria motivado Zuckerberg a construir o site embrionário do
Facebook acaba sendo seu
lado menos interessante.
É quando parte para os depoimentos e conversas entre
os colegas que brigaram nos
tribunais com Zuckerberg,
material bem árido para um
cineasta qualquer, que Fincher se posiciona mais uma
vez como um dos raros autores no cinema americano.
Eletrizante é a melhor definição para "A Rede Social",
que deve estrear no Brasil em
3 de dezembro. Méritos para
a edição rápida e o roteiro do
badalado Aaron Sorkin, que
conseguiu transformar o dia
a dia da Casa Branca em novelão na série "West Wing".
O confronto de interpretações entre Zuckerberg e seus
ex-sócios (todos bem interpretados por empolgados novos nomes de Hollywood,
principalmente Jesse Eisenberg como o protagonista)
traz ecos de "Rashomon", de
Kurosawa, e o tiroteio verbal
que mira em lealdade, traição e luta de classes injeta
um DNA shakespeariano.
O filme não sacia quem
quer conhecer a criação do
Facebook. Discute como garotos excluídos podem ter dificuldades no processo de reconhecimento social que o
sucesso e a fortuna trazem. O
Zuckerberg de Fincher é quase um Neymar da internet.
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