São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2010

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OPINIÃO DRAMA

David Fincher constrói um bom thriller ao mirar nos criadores e não na criatura

THALES DE MENEZES
EDITOR-ASSISTENTE DA SÃO PAULO

Fazer um filme sobre um fenômeno que reúne meio bilhão de pessoas pelo planeta pode ser fácil. O interesse do público é garantido. Mas fazer um bom filme protagonizado por um nerd muito antipático que criou a coisa toda é tarefa para gente de talento. Gente como David Fincher.
O diretor de "Clube da Luta" e "Zodíaco" quis simplificar no recente Festival de Nova York, que foi aberto por "A Rede Social". Para Fincher, "críticos sofisticam demais meus filmes. Eu apenas gosto de usar personagens excluídos, que não aceitam o mundo que é oferecido a eles".
Assim ele emparelhou Mark Zuckerberg, o criador do Facebook, ao enlouquecido que planeja acabar com as companhias de cartões de crédito em "Clube da Luta" e ao repórter que, contra o ceticismo de todos, não admite deixar sem solução os crimes do serial killer em "Zodíaco".
Em "A Rede Social", o relato sobre a rejeição das garotas em Harvard que teria motivado Zuckerberg a construir o site embrionário do Facebook acaba sendo seu lado menos interessante.
É quando parte para os depoimentos e conversas entre os colegas que brigaram nos tribunais com Zuckerberg, material bem árido para um cineasta qualquer, que Fincher se posiciona mais uma vez como um dos raros autores no cinema americano.
Eletrizante é a melhor definição para "A Rede Social", que deve estrear no Brasil em 3 de dezembro. Méritos para a edição rápida e o roteiro do badalado Aaron Sorkin, que conseguiu transformar o dia a dia da Casa Branca em novelão na série "West Wing".
O confronto de interpretações entre Zuckerberg e seus ex-sócios (todos bem interpretados por empolgados novos nomes de Hollywood, principalmente Jesse Eisenberg como o protagonista) traz ecos de "Rashomon", de Kurosawa, e o tiroteio verbal que mira em lealdade, traição e luta de classes injeta um DNA shakespeariano.
O filme não sacia quem quer conhecer a criação do Facebook. Discute como garotos excluídos podem ter dificuldades no processo de reconhecimento social que o sucesso e a fortuna trazem. O Zuckerberg de Fincher é quase um Neymar da internet.


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