São Paulo, quinta, 13 de novembro de 1997. |
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Texto Anterior | Próximo Texto | Índice MÚSICA X VIOLÊNCIA "Sobrevivendo no Inferno" é o quarto disco de um dos grupos que mais combatem a polícia no país Racionais fazem 'Canudos da periferia'
XICO SÁ
Os Racionais fazem política pura e têm mais prestígio na periferia, principalmente na zona sul de São Paulo, base do grupo, do que os candidatos que fazem o discurso convencional de "esquerda". Na eleição de 1994, por exemplo, Luis Inácio Lula da Silva e José Dirceu, que concorriam pelo PT à presidência da República e ao governo de São Paulo, respectivamente, tiveram que fugir de pedradas em um comício na área da Capela do Socorro, na citada zona sul de São Paulo. Tudo por um motivo simples: a platéia preferia o naturalismo-realista dos versos de Mano Brown e companhia à plataforma eleitoral. Portishead e Jorge Com alta voltagem política, os Racionais MC's também fazem música de primeira. Não teriam como envolver milhares de fãs sem um fundo musical de respeito. A começar por "Jorge da Capadócia", clássico de Jorge Benjor que virou quase uma oração com o grupo de rap paulistano e um fundo Portishead na parada. Enquanto passa trechos da música "Glory Box" (do Portishead), Mano Brown e companhia recitam, sem a festividade de outros intérpretes da mesma música (uma das mais cantadas de Benjor), a oração ao velho Jorge. O mesmo Jorge já havia feito a festa em um dos primeiros sucessos dos Racionais, "Fim de Semana no Parque", do disco "Raio X Brasil", em 1994. Benjor comparece com versos sampleados ("Vamos passear no parque/ deixa o menino brincar/ vou rezar pra esse menino"). A música, bem dentro do universo poético de Jorge Benjor, conta historietas coloquiais de boys e os seus carros (objetos de desejo) sob os jatos de água no final de semana no asfalto ou terra batida das quebradas de São Paulo. Salmos Na sua nova temporada no inferno, Mano Brown, Edy Rock, KL Jay e Ice Blue recorrem ao livro bíblico dos "Salmos". "Refrigere minha alma e guia-me pelo caminho da Justiça", dizem, em coro. Podem parecer religiosos demais. Essa foi a primeira impressão ao ouvir o disco pela primeira vez. Eles fazem, no entanto, uma leitura apocalíptica, em vez do otimismo integrado e lucrativo de algumas igrejas evangélicas fincadas no fundão da zona sul, de onde surgiram os rappers. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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