São Paulo, sexta, 13 de novembro de 1998

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"Quando a gente se mexia, ele falava "stop"


da Reportagem Local

"Ha, ha, ha! O Michael não ficou parecido. Ficou parecendo mulher!" Esse veredicto da obra do irlandês Brian Maguire foi dado por um de seus próprios retratados, o garoto Renan Santos Lima, 9.
Renan faz parte do grupo de crianças retratadas com carvão sobre tela por Brian Maguire em março deste ano. Todas são moradoras da favela de Vila Prudente. A convite da Folha, cinco delas visitaram a exposição na terça-feira passada.
O menino Renan, que acha engraçado o retrato do amigo Michael, se vê retratado de outro modo: "O meu ficou legal. O gringo desenha muito bem".
Estar ali, exposto no térreo da Bienal, é um motivo de orgulho para os cinco. "É bom, porque as pessoas podem ver a gente no meio das culturas", fala Monique Pereira da Silva Lima, 10.
"Ele desenha a gente olhando bem no olho", conta Cristiane de Jesus Pereira, 12. "E quando a gente se mexia, ele falava "stop'", completa Renan.
O mais tímido, Fernando Pereira da Silva, 11, é também o mais interessado. "Meu sonho, desde criança, era fazer escola de arte. Agora eu faço", diz.
Fernando se refere às aulas que tem no Centro Cultural Vila Prudente, local onde Maguire conheceu a criançada que retratou. O centro é coordenado pelo artista mineiro Antônio de Marcos, que também ajudou Maguire em seu trabalho para a Bienal.
"Eu achei o gringo legal, porque ele preferiu trabalhar com a gente da favela do que com outros", diz Cristiane.
Maguire, que já não está mais no Brasil, volta em dezembro, quando retira os quadros da Bienal e os entrega a cada uma das crianças.
Neide da Silva Corrêa, 12, que travou um diálogo em inglês ao conhecer o artista -"What is your name?", "My name is Neide"- aguarda a sua volta.
"Saudades? Mais ou menos. Ele é legal, mas não entendo muito ele. Quero que volte para poder levar meu quadro para casa. Meus pais não viram e estão curiosos." (IF)



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