São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 2002

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LIVRO/LANÇAMENTO

MÚSICA

"Jazz Panorama", livro de Jorge Guinle, ganha nova roupagem

Marco da "jazzlogia" é reeditado

CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Quando Jorge Guinle nasceu, o jazz ainda engatinhava, lá nas bandas de Nova Orleans. O menino abriu berreiro em 1916. O jazz, em 1917, quando ganhou, oficialmente, sua primeira gravação.
Ambos, Guinle e jazz, não demoraram a se cruzar. Aos cinco anos, conheceu o ragtime. Aos 11, ouviu "Jubilee Stomp", de Duke Ellington. "Fiquei enfeitiçado."
Filho de família de US$ 2 bilhões, Guinle teve fôlego financeiro (e olfato) para acompanhar "in loco" os principais passos da paixão do jazz. Em 1953, já pavimentada sua fama de "o" playboy nacional, ele resolveu pôr o que viu no papel. "Jazz Panorama" entraria para a história como o primeiro livro brasileiro sobre o gênero.
Quase meio século mais tarde, com Guinle saracoteando por aí seus 86 anos, essa pedra fundamental da "jazzlogia" nacional ganha novo lustro.
Com jam session liderada pelo saxofonista Juarez Araújo no apolíneo hotel Copacabana Palace -construído pelos Guinle-, a editora José Olympio lança neste domingo edição repaginada e atualizada do livro.
"Jazz Panorama", como o próprio autor assinala, nasceu com a idéia de "explicar as diferentes modalidades do jazz, focalizar a atenção dos leitores sobre os discos representativos e assim familiarizá-los com músicos importantes ou originais".
É um trabalho feito do "ponto de vista eclético", ou seja, não privilegia o jazz moderno nem Nova Orleans, a despeito do "lobby" feito para a velha guarda por Vinicius de Moraes. O "poetinha", que assina o prefácio para a primeira edição -mantido na original-, começa dizendo, a respeito de Guinle, que "ninguém no Brasil, e muito pouca gente no mundo, possui a sua cultura e o seu cabedal jazzístico" e termina cravando: "Guinle sabe, evidentemente, que nenhum jazz é melhor que o de Nova Orleans".
Não é bem assim. Guinle assistiu de perto, na hora mesmo de seu big bang, o nascimento do bebop, nos primeiros anos 40. Isso deixou marcas em seu gosto. Da mesma forma, ficaram cravados, nos ouvidos e pequenos olhos azuis, a sua primeira noite em Nova York, em 1939. "Cheguei de navio pela manhã. De noite, eu estava assistindo Billie Hollyday cantar "Strange Fruit'", diz em conversa com a Folha, no Copacabana Palace.
Mais tarde, Guinle veio a conhecer Billie, assim como 95% da nata jazzística. Se no campo amoroso, do alto de seu 1,60 m, dividiu camas com uma bela coleção de diamantes hollywoodianos, de Rita Hayworth a Jayne Mansfield, no jazz compartilhou notas musicais com lista que vai do "a", de Armstrong, ao "z", de Zoot Sims, que quando vinham ao Brasil peregrinavam a seu apartamento.
Mas "Jazz Panorama" não é feito, em essência, dessas histórias, ainda que na nova edição exista espaço para elas, em uma entrevista com Guinle feita pelo crítico Luiz Orlando Carneiro.
O livro é mais bem um manual introdutório ao jazz. Guinle repassa os principais estilos, perfila os principais músicos e traz divertidas listas de "quem são seus músicos prediletos" que o autor conseguiu recolher em contatos pessoais que teve com nomes como mestre Charlie Parker (a saber: Dizzy Gillespie, Chu Berry, Fats Navarro, J.J. Johnson, Art Tatum, Charlie Christian, Max Roach, Benny Carter, Louis Armstrong e Sidney Bechet).
O trabalho termina com uma discografia básica, a parte mais atualizada do livro, que usa como base a segunda edição, de 1959. "Depois desse ano, a única coisa importante que apareceu foi Ornette Coleman. O jazz acabou, no sentido de que não tem mais gênios, assim como na pintura não há mais Picassos."


JAZZ PANORAMA. Autor: Jorge Guinle. Editora: José Olympio. Quanto: R$ 40 (205 págs.). Lançamento: dom, às 17h. Onde: Copacabana Palace (av. Atlântica, 1.702, Rio, tel. 0/xx/21/ 2585-2074).


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