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LIVRO/LANÇAMENTO
MÚSICA
"Jazz Panorama", livro de Jorge Guinle, ganha nova roupagem
Marco da "jazzlogia" é reeditado
CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Quando Jorge Guinle nasceu, o
jazz ainda engatinhava, lá nas
bandas de Nova Orleans. O menino abriu berreiro em 1916. O jazz,
em 1917, quando ganhou, oficialmente, sua primeira gravação.
Ambos, Guinle e jazz, não demoraram a se cruzar. Aos cinco
anos, conheceu o ragtime. Aos 11,
ouviu "Jubilee Stomp", de Duke
Ellington. "Fiquei enfeitiçado."
Filho de família de US$ 2 bilhões, Guinle teve fôlego financeiro (e olfato) para acompanhar "in
loco" os principais passos da paixão do jazz. Em 1953, já pavimentada sua fama de "o" playboy nacional, ele resolveu pôr o que viu
no papel. "Jazz Panorama" entraria para a história como o primeiro livro brasileiro sobre o gênero.
Quase meio século mais tarde,
com Guinle saracoteando por aí
seus 86 anos, essa pedra fundamental da "jazzlogia" nacional
ganha novo lustro.
Com jam session liderada pelo
saxofonista Juarez Araújo no apolíneo hotel Copacabana Palace
-construído pelos Guinle-, a
editora José Olympio lança neste
domingo edição repaginada e
atualizada do livro.
"Jazz Panorama", como o próprio autor assinala, nasceu com a
idéia de "explicar as diferentes
modalidades do jazz, focalizar a
atenção dos leitores sobre os discos representativos e assim familiarizá-los com músicos importantes ou originais".
É um trabalho feito do "ponto
de vista eclético", ou seja, não privilegia o jazz moderno nem Nova
Orleans, a despeito do "lobby"
feito para a velha guarda por Vinicius de Moraes. O "poetinha",
que assina o prefácio para a primeira edição -mantido na original-, começa dizendo, a respeito
de Guinle, que "ninguém no Brasil, e muito pouca gente no mundo, possui a sua cultura e o seu cabedal jazzístico" e termina cravando: "Guinle sabe, evidentemente, que nenhum jazz é melhor
que o de Nova Orleans".
Não é bem assim. Guinle assistiu de perto, na hora mesmo de
seu big bang, o nascimento do bebop, nos primeiros anos 40. Isso
deixou marcas em seu gosto. Da
mesma forma, ficaram cravados,
nos ouvidos e pequenos olhos
azuis, a sua primeira noite em Nova York, em 1939. "Cheguei de navio pela manhã. De noite, eu estava assistindo Billie Hollyday cantar "Strange Fruit'", diz em conversa com a Folha, no Copacabana Palace.
Mais tarde, Guinle veio a conhecer Billie, assim como 95% da nata jazzística. Se no campo amoroso, do alto de seu 1,60 m, dividiu
camas com uma bela coleção de
diamantes hollywoodianos, de
Rita Hayworth a Jayne Mansfield,
no jazz compartilhou notas musicais com lista que vai do "a", de
Armstrong, ao "z", de Zoot Sims,
que quando vinham ao Brasil peregrinavam a seu apartamento.
Mas "Jazz Panorama" não é feito, em essência, dessas histórias,
ainda que na nova edição exista
espaço para elas, em uma entrevista com Guinle feita pelo crítico
Luiz Orlando Carneiro.
O livro é mais bem um manual
introdutório ao jazz. Guinle repassa os principais estilos, perfila
os principais músicos e traz divertidas listas de "quem são seus músicos prediletos" que o autor conseguiu recolher em contatos pessoais que teve com nomes como
mestre Charlie Parker (a saber:
Dizzy Gillespie, Chu Berry, Fats
Navarro, J.J. Johnson, Art Tatum,
Charlie Christian, Max Roach,
Benny Carter, Louis Armstrong e
Sidney Bechet).
O trabalho termina com uma
discografia básica, a parte mais
atualizada do livro, que usa como
base a segunda edição, de 1959.
"Depois desse ano, a única coisa
importante que apareceu foi Ornette Coleman. O jazz acabou, no
sentido de que não tem mais gênios, assim como na pintura não
há mais Picassos."
JAZZ PANORAMA. Autor: Jorge Guinle.
Editora: José Olympio. Quanto: R$ 40
(205 págs.). Lançamento: dom, às 17h.
Onde: Copacabana Palace (av. Atlântica,
1.702, Rio, tel. 0/xx/21/ 2585-2074).
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