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ARTES PLÁSTICAS
Mostra na Pinacoteca exibe em 58 trabalhos a multiplicidade de espaço e de técnica do artista espanhol
Retrospectiva aponta Barceló "viajante"
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em cinco salas da Pinacoteca, o
artista plástico espanhol Miquel
Barceló apresenta uma retrospectiva de sua produção nos últimos
20 anos. A mostra tem início com
uma tela de 1983, na qual se vê um
rio, e termina com três imagens
marítimas recentes. "Nasci numa
ilha pequena, viajar sempre foi
necessário", disse Barceló à Folha, durante a montagem da exposição.
Nascido em Mallorca, na Espanha, em 1957, o artista revela-se
de fato um viajante na mostra, seja por usar temas como rios e mar,
temática de passagens, seja pelos
diversos locais onde trabalhou e
trabalha: Portugal, Paris, Nova
York, África, Espanha.
Essa multiplicidade no espaço
de produção reflete-se de maneira
contundente nas 58 obras expostas, já que o trabalho de Barceló
possui uma diversidade impressionante.
"Quando comecei a pintar, nos
anos 70, éramos muito preocupados com a coerência e, por isso,
uma tendência era copiar a si
mesmo para se ter um estilo. Mas
descobri que eu queria ser incoerente", conta o artista.
A porta de entrada da mostra
está localizada no meio do percurso, o que faz com que o visitante opte por um retorno ao passado ou uma viagem ao presente.
Com isso, a primeira obra exposta, que representa o meio do percurso cronológico da montagem,
é uma tela na qual se vê um gorila
branco.
"Ele vivia até recentemente no
zoológico de Barcelona e me parecia um artista também", brinca
Barceló sobre Floco de Neve, o gorila albino que morreu no mês
passado em decorrência de câncer de pele. Os auto-retratos, no
entanto, são uma constante na
mostra.
Quem optar por começar pelas
obras do início dos anos 80, vai
observar que a materialidade da
pintura de Barceló vai ganhando
densidade ao longo da mostra.
"Vivemos num tempo no qual
tudo é muito virtual. Por isso exagero a natureza da pintura. Ela
tentou copiar a fotografia, mas
creio que agora é o momento de
afirmação da pintura", conta o artista.
Ponta-cabeça
Com isso, a própria pintura e,
por consequência, a técnica acabam sendo um tema e o eixo da
exposição, apesar da mostra apresentar também algumas esculturas do artista, realizadas a partir
dos anos 90. Algumas das telas
apresentadas são verdadeiros
quebra-cabeças.
De longe, várias obras parecem
pinturas abstratas, mas de perto
revelam um jogo de Barceló em
camuflar imagens. É o caso, por
exemplo, de suas obras mais recentes, expostas nas últimas duas
salas, realizadas de ponta-cabeça.
Explicando melhor: ao contrário
de Pollock, que pintava suas telas
no chão, Barceló as estende no teto, criando uma massa de estalactites de tinta que se dispõem de
acordo com uma variação de grau
das próprias telas. Nessas obras,
há imagens de alcachofras a representações do mar, tema da última sala.
A mostra apresenta também
um significativo conjunto de peças pintadas na região de Goa, na
África, onde o artista passa parte
do ano, várias delas em papel. Está lá também sua primeira tela
pintada naquele continente, "Paisagem para Cegos".
Após a Pinacoteca, a retrospectiva segue para a Áustria, Alemanha e México, mas a decisão de
iniciar o roteiro por São Paulo foi
do próprio artista. "Acho este um
grande museu e sinto que o Brasil
é um país feito para mim. Ainda
vou trabalhar aqui", diz Barceló.
BARCELÓ. Mostra com 58 trabalhos do
artista plástico espanhol. Curadoria:
Christian Dominguez. Onde: Pinacoteca
do Estado (pça. da Luz, 2, Centro, São
Paulo, tel. 0/xx/11/229-9844). Quando:
abertura hoje, às 11h; de ter. a dom., das
10h às 17h30. Até 22 de fevereiro.
Quanto: R$ 4.
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