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São Paulo, sábado, 13 de dezembro de 2003

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ARTES PLÁSTICAS

Mostra na Pinacoteca exibe em 58 trabalhos a multiplicidade de espaço e de técnica do artista espanhol

Retrospectiva aponta Barceló "viajante"

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em cinco salas da Pinacoteca, o artista plástico espanhol Miquel Barceló apresenta uma retrospectiva de sua produção nos últimos 20 anos. A mostra tem início com uma tela de 1983, na qual se vê um rio, e termina com três imagens marítimas recentes. "Nasci numa ilha pequena, viajar sempre foi necessário", disse Barceló à Folha, durante a montagem da exposição.
Nascido em Mallorca, na Espanha, em 1957, o artista revela-se de fato um viajante na mostra, seja por usar temas como rios e mar, temática de passagens, seja pelos diversos locais onde trabalhou e trabalha: Portugal, Paris, Nova York, África, Espanha.
Essa multiplicidade no espaço de produção reflete-se de maneira contundente nas 58 obras expostas, já que o trabalho de Barceló possui uma diversidade impressionante.
"Quando comecei a pintar, nos anos 70, éramos muito preocupados com a coerência e, por isso, uma tendência era copiar a si mesmo para se ter um estilo. Mas descobri que eu queria ser incoerente", conta o artista.
A porta de entrada da mostra está localizada no meio do percurso, o que faz com que o visitante opte por um retorno ao passado ou uma viagem ao presente. Com isso, a primeira obra exposta, que representa o meio do percurso cronológico da montagem, é uma tela na qual se vê um gorila branco.
"Ele vivia até recentemente no zoológico de Barcelona e me parecia um artista também", brinca Barceló sobre Floco de Neve, o gorila albino que morreu no mês passado em decorrência de câncer de pele. Os auto-retratos, no entanto, são uma constante na mostra.
Quem optar por começar pelas obras do início dos anos 80, vai observar que a materialidade da pintura de Barceló vai ganhando densidade ao longo da mostra.
"Vivemos num tempo no qual tudo é muito virtual. Por isso exagero a natureza da pintura. Ela tentou copiar a fotografia, mas creio que agora é o momento de afirmação da pintura", conta o artista.

Ponta-cabeça
Com isso, a própria pintura e, por consequência, a técnica acabam sendo um tema e o eixo da exposição, apesar da mostra apresentar também algumas esculturas do artista, realizadas a partir dos anos 90. Algumas das telas apresentadas são verdadeiros quebra-cabeças.
De longe, várias obras parecem pinturas abstratas, mas de perto revelam um jogo de Barceló em camuflar imagens. É o caso, por exemplo, de suas obras mais recentes, expostas nas últimas duas salas, realizadas de ponta-cabeça. Explicando melhor: ao contrário de Pollock, que pintava suas telas no chão, Barceló as estende no teto, criando uma massa de estalactites de tinta que se dispõem de acordo com uma variação de grau das próprias telas. Nessas obras, há imagens de alcachofras a representações do mar, tema da última sala.
A mostra apresenta também um significativo conjunto de peças pintadas na região de Goa, na África, onde o artista passa parte do ano, várias delas em papel. Está lá também sua primeira tela pintada naquele continente, "Paisagem para Cegos".
Após a Pinacoteca, a retrospectiva segue para a Áustria, Alemanha e México, mas a decisão de iniciar o roteiro por São Paulo foi do próprio artista. "Acho este um grande museu e sinto que o Brasil é um país feito para mim. Ainda vou trabalhar aqui", diz Barceló.


BARCELÓ. Mostra com 58 trabalhos do artista plástico espanhol. Curadoria: Christian Dominguez. Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, Centro, São Paulo, tel. 0/xx/11/229-9844). Quando: abertura hoje, às 11h; de ter. a dom., das 10h às 17h30. Até 22 de fevereiro. Quanto: R$ 4.


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