São Paulo, quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

O som da rede

Com uma jogada bombástica, o Radiohead tornou-se um novo "ícone" da migração musical para a net

QUEM na indústria fonográfica não gostaria de ter acesso aos dados da venda de downloads do álbum "In Rainbows", do Radiohead? Embora não seja uma pioneira da web, a banda transformou-se -como gostam de escrever jornalistas do mundo pop- numa espécie de "ícone" da migração do negócio de música para a internet. Patrocinou um dos lances mais ruidosos -e simples- do ano, só comparável à decisão de Prince de distribuir gratuitamente seu CD numa edição dominical do "Daily Mail".
O Radiohead, como se sabe, anunciou em seu site que o novo disco estaria disponível para download, cabendo ao freguês pagar o que achasse conveniente.
Cerca de 1,2 milhão de pessoas teriam visitado o site. Mas quantas baixaram o álbum? A que preço médio? Qual a distribuição geográfica dos compradores?
Os dados são mantidos em sigilo. Uma companhia de pesquisas on-line, chamada ComScore, apresentou algumas estimativas.
O valor médio pago por download teria sido de US$ 2,26, cerca de R$ 4 -dado que foi rejeitado pela banda. Mas a ComScore não diz quantas pessoas compraram. Teria sido um número "considerável". Numa conta simples, a acreditar nas estimativas apresentadas, se 1 milhão de fãs baixassem "In Rainbows", o faturamento seria de R$ 4 milhões.
Comentando esses dados no "New York Times", o crítico Jon Pareles observa que as grandes gravadoras -as difamadas "majors"- oferecem normalmente aos artistas royalties de 15% sobre o total das vendas, descontadas as despesas. Como o Radiohead não tem contrato com "majors" e as despesas para essa venda on-line aparentemente foram mínimas, não haveria do que se queixar. "Para não falar da publicidade mundo afora", lembra Pareles. Publicidade que ajuda a vender o CD normal, já que a banda, convenhamos, não rasga dinheiro. E ainda vem a turnê por aí.
Ontem, em entrevista à Folha, o baterista Phil Selway definiu a venda de downloads como "uma agradável surpresa" e explicou que "se não lançarmos "In Rainbows" em CD, muita gente não conseguirá ouvir o disco". É verdade. Ou ainda é verdade, já que a marcha musical para a rede parece incontível. Neste ano, a loja virtual iTunes tornou-se a terceira maior vendedora de música nos EUA.
Houve um tempo em que a vertigem da revolução tecnológica e dos superlucros financeiros criou a imagem de que o mundo real seria absorvido por um duplo virtual chamado internet -dimensão paralela para a qual se transfeririam as mais corriqueiras atividades do homem moderno, tais como encomendar uma pizza. Profetas da net vaticinaram a extinção de diversas atividades "físicas".
Com o tempo, os exageros cederam ao peso da realidade -e você continua lendo o jornal que, a crer em alguns, já deveria ter acabado. Mas o fato é que, depois do devido ajuste de contas com as finanças e o bom senso, a web, ao menos no terreno da circulação de música, está próxima de dar sentido a algumas daquelas profecias.


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