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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
O som da rede
Com uma jogada bombástica, o Radiohead tornou-se um novo "ícone" da migração musical para a net
QUEM na indústria fonográfica
não gostaria de ter acesso aos
dados da venda de downloads do álbum "In Rainbows", do
Radiohead? Embora não seja uma
pioneira da web, a banda transformou-se -como gostam de escrever
jornalistas do mundo pop- numa
espécie de "ícone" da migração do
negócio de música para a internet.
Patrocinou um dos lances mais ruidosos -e simples- do ano, só comparável à decisão de Prince de distribuir gratuitamente seu CD numa
edição dominical do "Daily Mail".
O Radiohead, como se sabe, anunciou em seu site que o novo disco estaria disponível para download, cabendo ao freguês pagar o que achasse conveniente.
Cerca de 1,2 milhão de pessoas teriam visitado o site. Mas quantas
baixaram o álbum? A que preço médio? Qual a distribuição geográfica
dos compradores?
Os dados são mantidos em sigilo.
Uma companhia de pesquisas on-line, chamada ComScore, apresentou
algumas estimativas.
O valor médio pago por download
teria sido de US$ 2,26, cerca de R$ 4
-dado que foi rejeitado pela banda.
Mas a ComScore não diz quantas
pessoas compraram. Teria sido um
número "considerável". Numa conta simples, a acreditar nas estimativas apresentadas, se 1 milhão de fãs
baixassem "In Rainbows", o faturamento seria de R$ 4 milhões.
Comentando esses dados no
"New York Times", o crítico Jon Pareles observa que as grandes gravadoras -as difamadas "majors"-
oferecem normalmente aos artistas
royalties de 15% sobre o total das
vendas, descontadas as despesas.
Como o Radiohead não tem contrato com "majors" e as despesas para
essa venda on-line aparentemente
foram mínimas, não haveria do que
se queixar. "Para não falar da publicidade mundo afora", lembra Pareles. Publicidade que ajuda a vender o
CD normal, já que a banda, convenhamos, não rasga dinheiro. E ainda
vem a turnê por aí.
Ontem, em entrevista à Folha, o
baterista Phil Selway definiu a venda de downloads como "uma agradável surpresa" e explicou que "se
não lançarmos "In Rainbows" em
CD, muita gente não conseguirá
ouvir o disco". É verdade. Ou ainda
é verdade, já que a marcha musical
para a rede parece incontível. Neste ano, a loja virtual iTunes tornou-se a terceira maior vendedora de
música nos EUA.
Houve um tempo em que a vertigem da revolução tecnológica e dos
superlucros financeiros criou a
imagem de que o mundo real seria
absorvido por um duplo virtual
chamado internet -dimensão paralela para a qual se transfeririam
as mais corriqueiras atividades do
homem moderno, tais como encomendar uma pizza. Profetas da net
vaticinaram a extinção de diversas
atividades "físicas".
Com o tempo, os exageros cederam ao peso da realidade -e você
continua lendo o jornal que, a crer
em alguns, já deveria ter acabado.
Mas o fato é que, depois do devido
ajuste de contas com as finanças e
o bom senso, a web, ao menos no
terreno da circulação de música,
está próxima de dar sentido a algumas daquelas profecias.
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