São Paulo, Sexta-feira, 14 de Janeiro de 2000


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CINEMA - ATRAVÉS DA JANELA
Tata Amaral filma desgoverno do desejo

da Equipe de Articulistas


À primeira vista, "Através da Janela" contrasta com o primeiro longa de Tata Amaral, o contundente "Um Céu de Estrelas".
Em vez do "huis clos" desesperado do filme anterior, em que uma câmera alucinada perscrutava o som e a fúria de um jovem casal em guerra, entra em cena o drama de uma aposentada de classe média (Laura Cardoso), que começa a perder o controle sobre o filho de 24 anos (Fransérgio Araujo) e mais, sobre seus sentimentos com relação a ele.
No novo filme, tudo é compassado. Cenas e ambientes se repetem -o café da manhã de mãe e filho, as conversas com a vizinha, as compras no supermercado.
À medida que o mundo físico perde firmeza, o filho também se mostra cada vez mais fugidio. Não é mais o menino ao alcance do afago: é um enigma que a mãe não consegue mais decifrar a partir dos poucos fragmentos de informação de que dispõe. Uma namorada? Más companhias? O que estará tirando o belo Raí debaixo da asa da mamãe?
À diferença de "Um Céu de Estrelas", em que o sexo e a violência explodiam na cara do espectador, aqui esses dois elementos são mantidos em surdina -mas seu poder não diminuiu.
Com garra e competência, Tata Amaral dá uma cara brasileira e contemporânea a esse desgoverno dos sentidos.
Contando praticamente com a mesma equipe de "Um Céu de Estrelas", ela leva adiante seu projeto de cinema como forma de conhecimento do homem.
E sobretudo da mulher: como no filme anterior, Tata se revela aqui uma grande diretora de atrizes. Se Leona Cavalli brilhava em "Um Céu de Estrelas", em "Através da Janela" é a vez de Laura Cardoso exibir uma das atuações mais marcantes do cinema recente. (JGC)


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