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CINEMA
Retrospectiva lembra o diretor, morto na última sexta, ao exibir "O Bandido da Luz Vermelha" e "A Mulher de Todos"
Canal Brasil examina a obra de Sganzerla
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O Canal Brasil exibe a partir de
hoje uma retrospectiva compacta
da obra de Rogério Sganzerla
(1946-2004), que morreu na última sexta-feira.
Alem de um excelente "Retratos
Brasileiros" do cineasta, realizado
por Joel Pizzini, a seleção destaca
filmes representativos das várias
fases da filmografia do diretor.
"O Bandido da Luz Vermelha"
(1968) e "A Mulher de Todos"
(69), realizados na Boca do Lixo
paulistana, configuram um momento em que Sganzerla, no auge
da potência criativa, realizou um
cinema ao mesmo tempo experimental e popular.
O primeiro canibaliza o cinema
clássico norte-americano, a nouvelle vague, a ficção cientifica e as
narrativas policiais radiofônicas,
sob o signo da chanchada, para
fazer da glória do bandido mascarado que aterrorizou São Paulo
uma síntese do país.
No segundo, o dialogo mais evidente é com o cinema erótico.
Passa ao primeiro plano a figura
da atriz Helena Ignez (mulher do
cineasta e parceira em inúmeros
filmes), como a fatal Angela Carne e Osso, que seduz milionários e
pobretões. Atenção para a atuação de Jô Soares.
Os filmes seguintes, "Sem Essa
Aranha" e "Copacabana Mon
Amour", foram realizados em
1970 no Rio, na produtora Belair,
fundada por Sganzerla e Julio
Bressane. Nessa fase, as experiências de linguagem se radicalizam,
o plano-sequência substitui a
montagem dinâmica dos primeiros longas, o sentido se esgarça e a
comunicação com o público fica
mais problemática.
A destacar, em "Sem Essa Aranha", o achado que foi a escalação
do grande cômico Jorge Loredo
(o "Zé Bonitinho") no papel do
magnata cafajeste Aranha, signo
da burguesia nacional, segundo o
diretor. O filme é composto de 17
longuíssimos planos-sequência.
"Copacabana Mon Amour", definido por Sganzerla como "uma
mistura alucinada de todos os êxtases", foi filmado com câmera na
mão e uma lente similar à cinemascope. A trama mistura prostituição e possessão demoníaca.
Já "Abismu" (78), estrelado por
Norma Bengell, é o que o critico
Jairo Ferreira chamou de "chanchada psicodélica", inspirada em
inscrições rupestres da Amazônia
e na musica lisérgica do guitarrista americano Jimi Hendrix.
"Isto É Noel" (90) e "Nem Tudo
É Verdade" (85) são ensaios sobre
duas referências básicas do cineasta, Noel Rosa e Orson Welles.
RETROSPECTIVA ROGÉRIO
SGANZERLA. No Canal Brasil. Hoje:
"Retratos Brasileiros", às 21h, e "O
Bandido da Luz Vermelha", às 22h.
Amanhã: "A Mulher de Todos", às 22h30,
e "Sem Essa Aranha", à 0h15. Sex.:
"Copacabana Mon Amour", às 22h50 e
"Abismu", à 0h20. Sáb.: "Isto É Noel", às
0h10, e "Nem Tudo É Verdade", à 1h.
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