São Paulo, sábado, 14 de janeiro de 2006

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A cidade de 1863 é cenário para história de amor não correspondido

SP à moda antiga

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

No dia 25, aniversário de 452 anos de São Paulo, a história de um amor não correspondido chega às livrarias contendo, nas entrelinhas, a história da cidade às vésperas da virada do século.
Em "Muito Romântico", o autor Toni Brandão descortina São Paulo em 1863, uma cidade com 25 mil habitantes, 600 dos quais eram alunos da austera Faculdade de Direito do Largo São Francisco. O lugar é um dos cenários do romance, que conta as desventuras amorosas de Antônio, 20. Um "morcego", como eram conhecidos aqueles estudantes, por conta da capa preta que usavam sobre o uniforme.
A cidade que Brandão apresenta, e cujos contornos o autor mostra num mapa no fim do volume, é fruto de um ano de pesquisa no Patrimônio Histórico, Arquivo Histórico da Cidade, Faculdade de Direito etc. Outra fonte fundamental foram os registros de Militão Augusto de Azevedo, ator carioca que morava em São Paulo, vivia dos retratos que fazia dos estudantes para suas famílias e registrou a cidade em 1862.
"Militão voltou a fotografar São Paulo em 1887, quando a cidade já havia mudado bastante, com a chegada do bonde e outras novidades. Essas imagens me ajudaram a construir a ficção, com o nome das ruas por onde os personagens passam e as várzeas que contornavam São Paulo", conta Brandão, que deu ao fotógrafo uma "participação especial" em sua trama.
Há cerca de três anos, Brandão, que é conhecido como o "rei da quinta série", por conta de seus livros infanto-juvenis, que já venderam mais de 700 mil exemplares, resolveu se lançar como escritor para adultos e jovens adultos retratando um momento da história em que a juventude teve grande representatividade. Assim surgiu "Muito Romântico", no Brasil Imperial, na segunda geração do romantismo.
"É o primeiro momento em que os jovens se estabelecem em São Paulo, vindos de várias partes do país. Eles estudam de manhã e passam o resto do tempo lendo poesia, escrevendo jornais, fazendo pichações e azucrinando a burguesia", sintetiza Brandão.
A trama de "Muito Romântico" se passa no "triângulo" que delimitava a cidade e em cujos vértices estavam os conventos de São Francisco, de São Bento e do Carmo. Outro triângulo, com as mulheres da vida de Antônio, divide em três partes o livro: a primeira, nomeada Diana Hataway, apresenta o Morcego e seus conflitos internos, marcados pelo amor impossível; na segunda, Sophia Zaragoza, os conflitos são com a cidade, suas relações sociais, inclusive com escravos, reveladas pela personagem Sophia.
A última, Isabela Juliana, traz um casamento imposto, e, na figura do pai de Antônio, que chega para tirar o filho do "mau caminho", o choque da modernidade.
"O pai é um dos investidores da estrada de Ferro Santos-Jundiaí e vem para a cidade comprar terras que serão valorizadas com a São Paulo Railway. É o fim das ilusões românticas, com a cidade se preparando para a virada do século e despertando para a vida adulta", diz Brandão, que prepara dois outros livros cujos protagonistas são dois "morcegos" que estão em "Muito Romântico".


Muito Romântico
Autor:
Toni Brandão
Editora: Jaboticaba
Quanto: R$ 36,50 (216 págs., lançamento no dia 25/01)


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