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Última Moda
Estilista de Marisa abre Fashion Rio
Walter Rodrigues, que fez os looks da primeira-dama, diz que ela tem pernas lindas e está mais elegante
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA
O estilista Walter Rodrigues
adora livros. No momento, está
lendo "Confissões de um Burguês", do escritor húngaro Sándor Márai. No seu ateliê, em
São Paulo, o escritório onde
trabalha é cercado de estantes
repletas de volumes.
Sua paixão por livros é tanta
que ele conseguiu convencer a
diretoria do Real Gabinete Português de Leitura, uma das bibliotecas mais bonitas do mundo, a abrigar o seu desfile que
acontece hoje, no primeiro dia
do Fashion Rio.
A coleção mescla imagens futuristas com formas que ele foi
buscar na China, na Guatemala
e no Peru. "Eu deveria ter estudado antropologia", ele diz,
mostrando a pesquisa "etnográfica" que fez pelo mundo.
Quando não está imerso nos
livros, Walter Rodrigues dirige
um dos ateliês de "demi-couture" mais requisitados do Brasil,
sobretudo por noivas ricas e famosas, como Maria Fernanda
Cândido, Carolina Ferraz e
Eliana, que casaram com roupas desenhadas por ele.
Em 2002, Walter recebeu a
principal encomenda de sua vida até o momento: desenhar os
vestidos da primeira-dama Marisa Letícia para a posse de Lula. Marisa apareceu num polêmico look vermelho.
No final do ano passado, o
Planalto ligou novamente para
Walter. Ele fôra escolhido outra vez para vestir a primeira-dama, na posse do segundo
mandato. O estilista projetou
três trajes: um amarelo, um
azul e um pink. Marisa preferiu
os primeiros, e optou pelo amarelo na cerimônia principal.
"Por ser loira, ela estava com
receio de usar amarelo. Conversamos, e eu a convenci de
que valia a pena. É um tabu brasileiro achar que loiras não devam usar amarelo", diz Walter,
que se espantou com a mudança que quatro anos no poder
operaram em Marisa. "Ela está
hoje mais forte e mais chique."
A cada vez, Marisa ficou cerca de duas horas no ateliê, para
escolher as roupas e fazer as
medidas. Ela fez poucas exigências ao estilista. Sempre pediu
decotes mais próximos do pescoço e mangas abaixo do cotovelo. E não se incomodou com a
altura dos vestidos -pouco
abaixo do joelho. "Ela é muito
segura quanto a isso, pois tem
pernas lindas e uma panturrilha muito elegante", observa.
O estilista preferido do Planalto também é um "self-made
man", como o presidente Lula.
Seu pai era tropeiro de gado em
Herculândia, no interior de São
Paulo, onde Walter nasceu há
47 anos. Aos 17, começou a trabalhar numa loja de roupas em
Tupã. Em 1983, veio para São
Paulo. Trabalhou com Glória
Coelho ("minha faculdade", ele
define) e com Clô Orozco
("meu MBA", completa) e também com o fotógrafo Miro.
Em 85, fundou a própria empresa, com Aurea Yamashita,
sua sócia até hoje. Vende suas
roupas em mais de 40 multimarcas, mas só agora está convencido de que deve abrir uma
loja própria, o que fará neste
ano ainda, em São Paulo.
Metade de sua produção é de
vestidos de noivas. A outra metade é de roupas de noite sob
medida e de prêt-à-porter, este
também exportado para países
árabes e o Japão, sobretudo.
"A costura é uma mentira.
Você esconde algo que não pode mostrar e expõe um detalhe
fascinante", revela Walter, sobre o segredo de sua arte.
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