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"Monk" faz rir de agruras de detetive
1º ano da série estrelada por Tony Shalhoub tem mistério consistente, apesar da estrutura engessada
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Olhos de lince, fixação pelo
detalhe e capacidade de dedução ímpar fazem de Adrian
Monk um ás da investigação
criminal, mas também catalisam a condição psiquiátrica
que põe em risco sua carreira
policial: o transtorno obsessivo-compulsivo.
O agudo senso de observação
pode garantir que ele seja o único a vislumbrar um assassinato
onde os outros vêem suicídio
-desde que assimetrias não
surjam em seu campo de visão,
atordoando-o. "É uma bênção e
uma maldição", resume o protagonista de "Monk", em um
dos episódios da primeira temporada, que acaba de ser lançada em DVD.
As histórias iniciais acompanham o esforço de Monk para
ser reintegrado à polícia de San
Francisco. O desligamento
"oficial" (já que, na prática, é ele
quem soluciona muitos casos
da corporação, na condição de
consultor) ocorreu pouco após
a morte de sua mulher. A razão? O agente começou a apresentar sintomas de TOC e exibir uma farta galeria de fobias.
Em virtude disso, vale o aviso: chame o homem para elucidar as ocorrências mais enigmáticas, mas certifique-se de
que a cena do crime (ou o criminoso em fuga) esteja distante
de escadas, rodas-gigantes e
elevações afins. Para desespero
de sua assistente Sharona (a
ótima Bitty Schram) e de seu
ex-chefe, o capitão Stottlemeyer (Ted Levine), Monk tampouco dá expediente perto de grandes concentrações humanas ou ambientes que não tenham sido previamente "higienizados" com germicidas.
As manias e esquisitices do
detetive andam transcendendo
a ficção. Na semana passada,
em entrevista por telefone à
imprensa internacional da qual
a Folha participou, Tony Shalhoub, intérprete de Monk,
contou que recentemente se
viu encucado com a limpeza de
cardápios de restaurantes. "Me
dei conta que milhares de pessoas manuseiam os menus todos os dias. Eles não os lavam, certo? Agora tenho que viver
com essa dúvida pelo resto da
vida", brincou, para completar
em seguida: "No início [em
2002], via o Monk como um
"outsider" bizarro. Mas quanto
mais penso nos problemas dele, mais normal ele me parece".
Normal, para ele, virou colecionar láureas nas principais
premiações norte-americanas:
sua estante tem três Emmys e
um Globo de Ouro (que pode
ganhar companhia amanhã à
noite). Às vésperas da estréia
da segunda parte do quinto ano
de "Monk" nos EUA (ainda
sem previsão de exibição no
Brasil), o ator disse que o diferencial da série é o fato de os
roteiros não se restringirem ao
ambiente de trabalho, "levarem os personagens para casa".
"Isso permite desenvolvê-los e
introduzir humor."
O foco nas tramas pessoais,
intensificado nas temporadas
mais recentes, não é unanimidade. Em fóruns virtuais, alguns fãs reclamam que o segmento "criminal" anda capenga. No DVD do primeiro ano, a
impressão é outra: apesar da
estrutura um tanto repetitiva
(Monk começa a investigar um
crime; as fobias atormentam-no; ele soluciona o caso), os
mistérios são bem amarrados,
as resoluções, verossímeis, e as
agruras de Monk, dolorosamente impagáveis.
MONK - 1ª TEMPORADA
Criador: Andy Breckman
Distribuidora: Universal (R$ 99,90)
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