São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2000


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Depois do "Oscar", governo muda regras do cinema

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
O diretor Marcelo Masagão, que ganhou duas estatuetas do Grande Prêmio Cinema Brasil e criticou a política cultural do governo



Ministério vai obrigar produtores a contratar auditoria para filmes; "Orfeu" leva prêmio de melhor filme nacional


DANIEL CASTRO
enviado especial a Petrópolis (RJ)


O governo federal deve anunciar nos próximos dias mudanças na legislação que sustenta o cinema nacional. A principal delas será uma portaria obrigando os produtores a contratarem empresas de auditoria para fiscalizarem projetos cinematográficos.
As mudanças devem ser anunciadas em cerimônia na qual o presidente Fernando Henrique Cardoso receberá, no Palácio do Planalto, os vencedores do Grande Prêmio Cinema Brasil, o "Oscar" nacional, entregue anteontem em Petrópolis.
"Orfeu", que é pré-candidato ao Oscar (o original) de filme estrangeiro (os finalistas serão anunciados amanhã), e "O Primeiro Dia" foram os maiores vencedores. Cada um levou três estatuetas -que imita um rolo de filme.
"Orfeu", de Carlos Diegues, levou o principal prêmio da festa, o de melhor longa-metragem nacional. Ganhou também o de melhor fotografia e compartilhou com "Outras Estórias", de Pedro Bial, o de melhor trilha sonora. A trilha de "Orfeu" é assinada por Caetano Veloso. A de "Outras Estórias", pelo grupo Uakti.
"O Primeiro Dia" deu a Walter Salles (que está em Berlim) e Daniela Thomas o título de melhores diretores do cinema nacional. A produção também rendeu a Matheus Nachtergaele o prêmio de melhor ator. E dividiu com "Dois Córregos" (Carlos Reichenbach) o de melhor roteiro.
Denise Fraga foi considerada a melhor atriz por sua atuação em "Por Trás do Pano", dirigido pelo marido Luiz Villaça.
"Tudo sobre Minha Mãe" ganhou o prêmio de melhor longa-metragem estrangeiro. O filme de Pedro Almodóvar é favorito ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Curiosamente, compartilha com "Orfeu" o mesmo diretor de fotografia, Affonso Beato.
A maior surpresa do Oscar nacional foi o documentário "Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos", que levou os prêmios de melhor montagem e melhor lançamento de cinema.
Surpreendeu também quando seu diretor, o estreante Marcelo Masagão, quebrou o clima chapa-branca da festa (totalmente paga pelo Ministério da Cultura).
Ao receber a primeira estatueta, Masagão disse que não tinha o que comemorar. "Não tenho o que comemorar porque temos um Ministério da Cultura que tem vergonha de administrar o dinheiro público. Hoje a gente discute muito mais dinheiro do que cinema", afirmou. O ministro da Cultura, Francisco Weffort, apenas sorriu.

Mudanças
As mudanças do Ministério da Cultura, no entanto, não deverão contemplar o discurso de Masagão. O governo manterá a atual estrutura do cinema nacional: as leis Rouanet e do Audiovisual, pelas quais os cineastas captam recursos com as empresas, que por sua vez abatem o valor investido no Imposto de Renda.
A criação de auditorias externas deverá ser a única mudança imediata. A medida visa impedir "escândalos" como "Chatô, o Rei do Brasil", de Guilherme Fontes, e "O Guarani", de Norma Bengell. O primeiro está inacabado, após consumir cerca de R$ 10 milhões. O segundo apresentou notas fiscais frias na prestação de contas.


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