|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ERIKA PALOMINO
NY FAZ FORÇA PARA SEU INVERNO 2003
Nova York abre a temporada
internacional de moda para o
inverno 2003. O clima é complexo: iminência de guerra,
com todo mundo (e todo o
mundo) colado no noticiário
de Colin Powell; alerta laranja
(ou seja: risco de ataque terrorista a qualquer momento);
um frio danado nas ruas -o
que afasta e inibe o varejo; coleções de estilistas que tentam
apresentar algo diferente, com
platéias que continuam evocando a presença de celebridades para garantir cobertura de
mídia.
O pensamento geral é a perda de energia da cidade, pós-Giuliani, pós-11 de setembro,
agora com Bloomberg e todo o
quadro do primeiro parágrafo
deste texto. "Nova York não é
mais a mesma", reclamava um
taxista na gelada noite de segunda (eles sempre expressam
o clima do momento).
Os focos criativos, entretanto, continuam, claro. E muitos
deles convergem para o
Brooklyn, onde, desde a highway, uma placa já confirma:
Believe the Hype (acredite no
hype). Vêm de lá ecos como a
moderna cena fashion e musical, como vista na revista bianual "K48" (posse da qual faz
parte, aliás, o brasileiro Eli Sudbrack). O local sempre foi casa
de artistas e alternativos em geral, mas recentemente muitas
lojas descoladas abriram, dando conta dos jovens estilistas,
criadores e DJs (o local é lar da
cena electroclash, como se sabe). A Bedford Street é o novo
foco, e a multimarca Isa é a
mais bacana (00/xx/1/718/387-3363), vendendo novos e consagrados, com muito jeans. NY pede renovação.
MARC JACOBS GRITA:
ANOS 60!!!
Marc Jacobs, um dos artífices
da moda americana hoje, causou mais uma vez impacto na
temporada de lançamentos em
Nova York, no início da semana, enquanto não vinham Zac
Posen e Nicolas Ghesquière
(desfiles marcados para ontem
à noite na cidade).
O primeiro look: anos 60!!! Um
grande ponto de exclamação
tomou conta da badalada platéia, na New York State Armory. E bem literal:
Cardin, Courreges, Mary
Quant, Rudi Gernreich... a imagem é space age, com muitas
minis, muitos trapézios e tubinhos, muita linha A, botinhas
espaciais, meias-calças e perucas de franja à la Penélope Tree
e Veruschka. Grandes botões
redondos, bolsos e recortes em
tudo, com cores planas e alternadas em opções com bege, lilás, vermelho, azul, turquesa e
finalmente preto, em um dos
mais contemporâneos looks do
desfile, na russa Natalia, com
mangas em cetim bufante e saia
curta.
No começo, uma certa sensação
de fastio. Afinal, a Prada detonou isso na última estação de
verão. O que veremos agora,
pelos próximos meses, será somente essa história 60? E logo,
de novo, em Marc Jacobs, que
havia celebrado os 50? Aos poucos, entretanto, a maestria do
estilista se fez notar, nas combinações mais esportivas e informais do estilo, nas parcas de lã
deliciosas, nas perfeitas proporções e no descarado e bem-humorado mod.
Alegria, alegria, pede Marc Jacobs. Ainda que tudo pareça
meio engessado. O final, um
grande momento fashion, traz
paetês grandes e pequenos em
bege, rosa e (grite) prata, em fitas, bem 60 mesmo.
Na Marc, a segunda linha, um
megamix de 50 e 60, agora sim
feito para as ruas e para a mulher real, com muita sobreposição e preços mais baixos. Ainda que muito fashion, as consumidoras não vestiram ainda a camisa dos "swinging sixties".
MIELE DESFILA BRASIL
SEM BANDEIRA
Com a estelar presença da jovem diva Eve, bem como importantes editores na primeira fila, o brasileiro Carlos Miele fez
seu mais bem-sucedido desfile,
no final da tarde de terça, nas
tendas do Bryant Park, na semana de lançamentos da moda
americana.
Neste inverno, preserva uma
identidade nacional sem cair
nas armadilhas da brasilidade
fashion.
A nova cara brasileira de Carlos
Miele não vem explícita e, portanto, é mais sutil. Alívio: não
vemos mais índios sentados na
passarela, mas uma suave estampa de penugem, bem de
longe. Tudo está mais trabalhado, dos fuxicos, que agora aparecem (melhores do que nunca)
na seda e no jeans, como belos
patchworks, até os tricôs, rústicos, com fitas, terminando na
simpática trilha sonora de Eugênio Lima, amarrando tudo
com Djavan, Gil, Jorge Benjor,
Tim Maia.
Sem precisar carregar bandeira
verde e amarela, mas fazendo
dela seu branding e DNA, Miele
faz sua mais global apresentação. O styling vale ouro e vem
assinado por Lori Goldstein.
Miele e sua nova equipe parecem ter consertado a maior parte dos tradicionais problemas
de proporção e edição de seu estilo, acertando até mesmo nos
grandes bombers em lã e nos
vestidos longos do final. Depois, Miele é totalmente bombardeado no camarim: Eve, Sônia Braga, Bebel Gilberto, Collin
McDowell. "A moda americana
é muito minimalista", declara,
para uma Suzy Menkes com
bloquinho na mão.
Ao acertar no mix de manufatura e Brasil, o inverno 2003 recoloca Miele de novo no foco e
pronto para brigar na disputada seara internacional, que requer hoje algum talento criativo, senso de business & marketing, e bala para bancar o investimento. Não necessariamente
nesta ordem.
A jornalista Erika Palomino viajou a
convite da marca Carlos Miele.
Texto Anterior: "Passatempos" são atração de megafestival Próximo Texto: Ruído: SP vende 45,2% menos CDs no Natal de 2002 Índice
|