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São Paulo, sexta-feira, 14 de fevereiro de 2003

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ERIKA PALOMINO

NY FAZ FORÇA PARA SEU INVERNO 2003

Nova York abre a temporada internacional de moda para o inverno 2003. O clima é complexo: iminência de guerra, com todo mundo (e todo o mundo) colado no noticiário de Colin Powell; alerta laranja (ou seja: risco de ataque terrorista a qualquer momento); um frio danado nas ruas -o que afasta e inibe o varejo; coleções de estilistas que tentam apresentar algo diferente, com platéias que continuam evocando a presença de celebridades para garantir cobertura de mídia.
O pensamento geral é a perda de energia da cidade, pós-Giuliani, pós-11 de setembro, agora com Bloomberg e todo o quadro do primeiro parágrafo deste texto. "Nova York não é mais a mesma", reclamava um taxista na gelada noite de segunda (eles sempre expressam o clima do momento).
Os focos criativos, entretanto, continuam, claro. E muitos deles convergem para o Brooklyn, onde, desde a highway, uma placa já confirma: Believe the Hype (acredite no hype). Vêm de lá ecos como a moderna cena fashion e musical, como vista na revista bianual "K48" (posse da qual faz parte, aliás, o brasileiro Eli Sudbrack). O local sempre foi casa de artistas e alternativos em geral, mas recentemente muitas lojas descoladas abriram, dando conta dos jovens estilistas, criadores e DJs (o local é lar da cena electroclash, como se sabe). A Bedford Street é o novo foco, e a multimarca Isa é a mais bacana (00/xx/1/718/387-3363), vendendo novos e consagrados, com muito jeans. NY pede renovação.

MARC JACOBS GRITA: ANOS 60!!!
Marc Jacobs, um dos artífices da moda americana hoje, causou mais uma vez impacto na temporada de lançamentos em Nova York, no início da semana, enquanto não vinham Zac Posen e Nicolas Ghesquière (desfiles marcados para ontem à noite na cidade).
O primeiro look: anos 60!!! Um grande ponto de exclamação tomou conta da badalada platéia, na New York State Armory. E bem literal:
Cardin, Courreges, Mary Quant, Rudi Gernreich... a imagem é space age, com muitas minis, muitos trapézios e tubinhos, muita linha A, botinhas espaciais, meias-calças e perucas de franja à la Penélope Tree e Veruschka. Grandes botões redondos, bolsos e recortes em tudo, com cores planas e alternadas em opções com bege, lilás, vermelho, azul, turquesa e finalmente preto, em um dos mais contemporâneos looks do desfile, na russa Natalia, com mangas em cetim bufante e saia curta.
No começo, uma certa sensação de fastio. Afinal, a Prada detonou isso na última estação de verão. O que veremos agora, pelos próximos meses, será somente essa história 60? E logo, de novo, em Marc Jacobs, que havia celebrado os 50? Aos poucos, entretanto, a maestria do estilista se fez notar, nas combinações mais esportivas e informais do estilo, nas parcas de lã deliciosas, nas perfeitas proporções e no descarado e bem-humorado mod.
Alegria, alegria, pede Marc Jacobs. Ainda que tudo pareça meio engessado. O final, um grande momento fashion, traz paetês grandes e pequenos em bege, rosa e (grite) prata, em fitas, bem 60 mesmo.
Na Marc, a segunda linha, um megamix de 50 e 60, agora sim feito para as ruas e para a mulher real, com muita sobreposição e preços mais baixos. Ainda que muito fashion, as consumidoras não vestiram ainda a camisa dos "swinging sixties".

MIELE DESFILA BRASIL SEM BANDEIRA
Com a estelar presença da jovem diva Eve, bem como importantes editores na primeira fila, o brasileiro Carlos Miele fez seu mais bem-sucedido desfile, no final da tarde de terça, nas tendas do Bryant Park, na semana de lançamentos da moda americana.
Neste inverno, preserva uma identidade nacional sem cair nas armadilhas da brasilidade fashion.
A nova cara brasileira de Carlos Miele não vem explícita e, portanto, é mais sutil. Alívio: não vemos mais índios sentados na passarela, mas uma suave estampa de penugem, bem de longe. Tudo está mais trabalhado, dos fuxicos, que agora aparecem (melhores do que nunca) na seda e no jeans, como belos patchworks, até os tricôs, rústicos, com fitas, terminando na simpática trilha sonora de Eugênio Lima, amarrando tudo com Djavan, Gil, Jorge Benjor, Tim Maia.
Sem precisar carregar bandeira verde e amarela, mas fazendo dela seu branding e DNA, Miele faz sua mais global apresentação. O styling vale ouro e vem assinado por Lori Goldstein. Miele e sua nova equipe parecem ter consertado a maior parte dos tradicionais problemas de proporção e edição de seu estilo, acertando até mesmo nos grandes bombers em lã e nos vestidos longos do final. Depois, Miele é totalmente bombardeado no camarim: Eve, Sônia Braga, Bebel Gilberto, Collin McDowell. "A moda americana é muito minimalista", declara, para uma Suzy Menkes com bloquinho na mão.
Ao acertar no mix de manufatura e Brasil, o inverno 2003 recoloca Miele de novo no foco e pronto para brigar na disputada seara internacional, que requer hoje algum talento criativo, senso de business & marketing, e bala para bancar o investimento. Não necessariamente nesta ordem.


A jornalista Erika Palomino viajou a convite da marca Carlos Miele.


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