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ENTRELINHAS
Honra ao mérito
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Saara chamado "cenário
brasileiro dos prêmios literários" também tem os seus oásis
e suas miragens.
Os dois principais deles, o
mais tradicional e o de premiação mais bojuda, sacudiram de
leve a poeira nesta semana. O
veterano Jabuti fechou ontem as
estatísticas de sua próxima edição com o maior número de inscritos da história. Estão na briga
2.374, 18% mais do que em 2003.
Já o opulento (para os padrões
brasileiros) Portugal Telecom
de Literatura Brasileira teve a
primeira reunião de sua comissão artística anteontem e definiu
algumas mudanças.
Se não cresceu a verba, de R$
150 mil, aumentou o júri inicial
-agora com 500 (!) integrantes
na primeira fase-, o júri final
(de sete para dez) e instalou-se
um elástico nas categorias (agora valem também crônicas).
A mudança mais radical, proposta por Eduardo Correia de
Mattos, presidente da Portugal
Telecom no Brasil, não foi aceita. "Queria que os R$ 150 mil
fossem para um só premiado.
Mas a comissão vetou", diz.
EMPIRE STATES
As livrarias da terra de Bush
Jr. batem bumbo em torno de
um número nada discreto: US$
16,2 bilhões. Foi este o faturamento delas em 2003, crescimento pequeno -mas não esperado- de 2,4% em relação
ao ano anterior.
CINCO GATINHOS
Algumas das peças mais importantes da dramaturgia nacional vão ganhar suas primeiras edições individuais em
abril. Disponíveis só como
"teatro reunido", os textos de
Nelson Rodrigues "Vestido de
Noiva, "Viúva Porém Honesta", "Álbum de Família", "Senhora dos Afogados" e "Beijo
no Asfalto" serão reeditados,
um a um, pela Nova Fronteira.
ITAMARATY
A literatura brasileira ganhou
embaixador ambulante no
Reino Unido. O escritor João
Gilberto Noll (que tem seu
"Berkeley em Bellagio" relançado na semana que vem pela
Francis) está correndo até 30
de abril um amplo circuito de
universidades, incluindo Oxford, para falar sobre as letras
do país de Machado.
DENTRO DA ESTANTE
Tema da seção "Fora da Estante" de semanas passadas, a
obra literária de Salvador Dalí,
esquecida das editoras brasileiras, está sendo resgatada. A Girafa lança ainda neste semestre
dois títulos do catalão.
MATILHA DE HILDA
O escritor José Luiz Dutra de
Toledo vem espalhando em
tortos e direitos da internet o
apelo por uma "campanha nacional" para adoção das dezenas de cães de Hilda Hilst. Adesões: jelidato@terra.com.br.
CHUCHUZINHO
O escritor e fotógrafo de fofurinhas australiano Bradley Trevor
Greive é um dos primeiros gringos confirmados para a Bienal.
Ele vem a São Paulo comemorar a
vendagem de 1,5 milhão de livros
no país, meiguices como "Um Dia
Daqueles" (Sextante).
@ - elek@folhasp.com.br
FORA DA ESTANTE
Para muitos críticos de envergadura, "The Recognitions", de William Gaddis, é o grande monolito negro que inaugura o chamado pós-modernismo literário. O romance de 1955 seria nessa visão, "riocorrente", o elo perdido entre o modernismo de James Joyce & cia. e os invencionismos contemporâneos dos americanos Thomas Pynchon e Don DeLillo. Mas essa obra de estréia do romancista, nascido junto com "Ulisses" (1922) e morto há cinco anos, esbarra (se é que se pode dizer assim) justamente na sua grandeza. Com quase mil páginas, mais de 50 personagens e uma escrita que dialoga com estilos de dezenas de autores, de Aristóteles a T.S. Elliot, o livro sobre um falsificador de obras de arte (e todo o resto da obra de Gaddis) é inédito no Brasil.
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