São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2004

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MÚSICA

Para holandês, que toca hoje em São Paulo, trance "parou no tempo"

Considerado o melhor DJ do mundo, Tiësto prega evolução

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

Todo ano a revista britânica "DJ Mag" publica a relação dos "cem melhores DJs do planeta", a partir de pesquisa com leitores. Polêmica, a lista gera reclamações de praticamente todos os lados (artistas, selos, jornalistas, fãs...). Provavelmente o único satisfeito com o resultado é o holandês Tiësto. Em 2003, ele apereceu no topo pela segunda vez consecutiva.
O fato nem chega a ser surpresa grande. Tiësto é o mais conhecido nome do trance, o mais popular gênero da eletrônica.
De sonoridade melódica, viajante, acessível, menos "agressivo" do que o tecno e o drum'n'bass, por exemplo, o trance vai adquirindo adeptos na mesma proporção em que é criticado por seu caráter "comercial" e por não apresentar nada novo há anos. O curioso é que o próprio Tiësto concorda com as afirmações. "O trance realmente parou no tempo há pelo menos cinco anos. Mas a minha música continua evoluindo", defende-se o DJ e produtor de 35 anos.
Autor de vários discos de mixagens e de um álbum solo, "In My Memory", de 2001, Tiësto está no Brasil para se apresentar dentro do campeonato de DJs Heineken Thirst. Ontem, tocaria no Rio; hoje, em São Paulo. Ele conversou com a Folha, por telefone, dos EUA, sobre as críticas ao trance e o futuro após ser escolhido como o melhor do mundo.

Folha - Você é dos DJs que mais viajam pelo mundo. Em um ano, quanto tempo consegue ficar em sua casa?
Tiësto -
Estive "mais ou menos" em casa nos último quatro meses, pois toquei apenas na Europa. Então dava para voar para a Holanda após as apresentações.

Folha - A dance music em geral ainda não caiu no gosto americano, mas você é muito popular por lá, não? O mercado dos EUA é muito importante para você?
Tiësto -
Muita gente nos EUA não conhece música eletrônica, então ainda é um gênero underground por lá, o que é bom. Na Inglaterra há muita coisa comercial, está sempre nas rádios, na televisão, nas paradas. As pessoas lá parecem meio entediadas, já. Nos EUA você pode tocar qualquer hit, pois ainda será uma novidade.

Folha - Você foi eleito o DJ número um do mundo. Você concorda? O título é importante para você?
Tiësto -
É um prêmio importante, para a música eletrônica é como um Oscar. Quem não ganha diz que não é importante, claro, mas eu acho que é. Uma vez por ano dá para medir a popularidade e a importância de um DJ. Estou lá porque lancei muitas músicas, muitos remixes, toquei bastante...

Folha - Por que o público gosta tanto de você?
Tiësto -
Porque quando toco, mais ou menos 70% das músicas são feitas ou remixadas por mim, é como uma apresentação de um artista. O Brasil é um bom exemplo: nunca toquei aí; as pessoas me conhecem pelas músicas que faço, e não pelos meus sets.

Folha - O trance é muito popular no mundo todo. Qual é o grande apelo desse tipo de música?
Tiësto -
As pessoas gostam de melodias, e o trance é melódico, para cima. E também porque quando as pessoas saem elas querem esquecer seus problemas, se divertir, e o trance é divertido, feliz, perfeito para se tocar num clube. O drum and bass também é legal, mas acho que é para se escutar em casa ou no carro. Não conseguiria dançar d'n'b.

Folha - Mas muitos DJs e produtores de outros estilos dizem que o trance parou no tempo, que não evolui, que é comercial...
Tiësto -
Concordo com isso, é verdade. Mas não com a minha música. Sempre trago novas melodias, novos elementos nas minhas produções. Mas você está certo, muitos DJs e produtores estão fazendo a mesma coisa há cinco anos. Mas isso acontece também com a house. Os discos de house hoje soam como os feitos há dez anos atrás. No geral, somente alguns DJs e produtores inovam, o resto apenas vai atrás.

Folha - Sendo o DJ número um do mundo, tendo tocado em praticamente todos os lugares, você chegou ao topo. Para onde você quer seguir agora?
Tiësto -
Acho que agora só posso ir para baixo... Sem brincadeiras, eu quero lançar outros álbuns, estou terminando meu segundo agora [será lançado em maio], tocarei nos festivais europeus de verão... Não sei como será no futuro. Talvez em cinco anos eu seja mais um produtor do que um DJ.


HEINEKEN THIRST. Festa com os DJs Tiësto, Smokin Jo, Miss Motif, Mau Mau e outros. Onde: hotel Unique (av. Brig. Luís Antônio, 4.700, São Paulo). Quando: hoje, a partir das 22h. Quanto: de R$ 80 a R$ 120 (todos esgotados).


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