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Livros/Crítica/"The Man who Owns the News"
Biografia mostra faro para dinheiro de Murdoch
Sai nos EUA livro sobre dono do grupo que inclui "Wall Street Journal", Fox e MySpace
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Quando Rupert Murdoch concluiu a ofensiva diplomática-financeira que foi a operação de
compra do "Wall Street Journal", em 2007, o empresário visitou a Redação do principal
diário econômico dos EUA.
Queria assegurar aos jornalistas que ele não era o brucutu
que as páginas do próprio jornal haviam pintado então.
Subiu num palanque improvisado em quatro caixas de papel de impressora e, microfone
em punho, disse que não interferiria no noticiário e que seus
comandados continuariam a
fazer o jornal que faziam. A frase inteira era mentira: quase
dois anos depois, o "Journal" é
melhor que antes, e Murdoch
interfere, sim, como de resto
faz em todos as suas empresas.
Não são poucas.
Aos 77 anos e com uma fortuna de US$ 8,3 bilhões (cerca de
R$ 19 bilhões), o australiano
naturalizado norte-americano
é a 109ª pessoa mais rica do
mundo, segundo a revista "Forbes" (2008). É provavelmente a
mais influente há mais tempo
no universo da mídia e uma das
mais polêmicas também.
Sua News Corporation controla jornais, sites, editoras,
TVs e estúdios de cinema em
três continentes, incluindo negócios no Brasil, em nomes tão
familiares ao consumidor e díspares entre si como Fox, HarperCollins e MySpace.
Nos últimos 30 anos, foi acusado diversas vezes e em diferentes países de monopólio e
excesso de influência política.
Na era Bush, sua Fox News foi a
TV oficial da Casa Branca e dos
neocons. Imprevisível, ele causou espécie quando seu tabloide "New York Post" apoiou Barack Obama nas eleições.
Avesso à imprensa, principalmente àquela que não controla e que, avalia, o persegue,
Murdoch ganhou a mais detalhada biografia já escrita sobre
ele. É "The Man who Owns the
News", lançada em dezembro,
cujo título, o homem que é dono da notícia, faz trocadilho
com o nome de seu conglomerado e sua principal atividade.
O autor é Michael Wolff, colunista da "Vanity Fair", que
passou nove meses se encontrando semanalmente com
Murdoch, seus parentes e funcionários de suas empresas -o
magnata deu acesso irrestrito
ao jornalista, um fato sem precedentes. A única dificuldade,
contaria Wolff num artigo na
revista, resumindo o principal
do livro, era entender o empresário.
Com sotaque australiano
carregado, apesar de morar nos
EUA desde os anos 70, Murdoch resmunga muito, em especial quando contrariado. Não
raro, o autor saía dos encontros
semanais sem ter entendido
metade do que ouvira.
Narrativa à Wolfe
Do relato, colorido e cujo estilo lembra o de Tom Wolfe, sai
um empresário com faro sem
igual para fazer dinheiro, que
apesar das múltiplas atividades
se define primeiro como um
"homem de jornais" e que
transformou um pequeno e endividado império jornalístico
australiano herdado do pai na
atual potência global.
Ainda assim e ainda hoje,
Murdoch se sente um "outsider", um marginal entre seus
pares. É o que defende Wolff
depois de gravar 50 horas com
Murdoch e entrevistar seus filhos mais velhos e até sua mãe,
de 99 anos, que vive na Austrália e o recebeu apenas depois de
um telefonema do filho autorizando-a a "contar tudo".
Adquirir o "Wall Street Journal" seria seu mais recente passo em busca do reconhecimento e da respeitabilidade. O objetivo final, sugere Wolff, é comprar o "New York Times".
THE MAN WHO OWNS
THE NEWS
Autor: Michael Wolff
Editora: Random House (importado)
Quanto: US$ 30 (cerca de R$ 66, mais
taxas, na Amazon.com; 464 págs.)
Avaliação: bom
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