São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2009

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Livros/Crítica/"The Man who Owns the News"

Biografia mostra faro para dinheiro de Murdoch

Sai nos EUA livro sobre dono do grupo que inclui "Wall Street Journal", Fox e MySpace

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Quando Rupert Murdoch concluiu a ofensiva diplomática-financeira que foi a operação de compra do "Wall Street Journal", em 2007, o empresário visitou a Redação do principal diário econômico dos EUA. Queria assegurar aos jornalistas que ele não era o brucutu que as páginas do próprio jornal haviam pintado então.
Subiu num palanque improvisado em quatro caixas de papel de impressora e, microfone em punho, disse que não interferiria no noticiário e que seus comandados continuariam a fazer o jornal que faziam. A frase inteira era mentira: quase dois anos depois, o "Journal" é melhor que antes, e Murdoch interfere, sim, como de resto faz em todos as suas empresas. Não são poucas.
Aos 77 anos e com uma fortuna de US$ 8,3 bilhões (cerca de R$ 19 bilhões), o australiano naturalizado norte-americano é a 109ª pessoa mais rica do mundo, segundo a revista "Forbes" (2008). É provavelmente a mais influente há mais tempo no universo da mídia e uma das mais polêmicas também.
Sua News Corporation controla jornais, sites, editoras, TVs e estúdios de cinema em três continentes, incluindo negócios no Brasil, em nomes tão familiares ao consumidor e díspares entre si como Fox, HarperCollins e MySpace. Nos últimos 30 anos, foi acusado diversas vezes e em diferentes países de monopólio e excesso de influência política. Na era Bush, sua Fox News foi a TV oficial da Casa Branca e dos neocons. Imprevisível, ele causou espécie quando seu tabloide "New York Post" apoiou Barack Obama nas eleições.
Avesso à imprensa, principalmente àquela que não controla e que, avalia, o persegue, Murdoch ganhou a mais detalhada biografia já escrita sobre ele. É "The Man who Owns the News", lançada em dezembro, cujo título, o homem que é dono da notícia, faz trocadilho com o nome de seu conglomerado e sua principal atividade. O autor é Michael Wolff, colunista da "Vanity Fair", que passou nove meses se encontrando semanalmente com Murdoch, seus parentes e funcionários de suas empresas -o magnata deu acesso irrestrito ao jornalista, um fato sem precedentes. A única dificuldade, contaria Wolff num artigo na revista, resumindo o principal do livro, era entender o empresário.
Com sotaque australiano carregado, apesar de morar nos EUA desde os anos 70, Murdoch resmunga muito, em especial quando contrariado. Não raro, o autor saía dos encontros semanais sem ter entendido metade do que ouvira.

Narrativa à Wolfe
Do relato, colorido e cujo estilo lembra o de Tom Wolfe, sai um empresário com faro sem igual para fazer dinheiro, que apesar das múltiplas atividades se define primeiro como um "homem de jornais" e que transformou um pequeno e endividado império jornalístico australiano herdado do pai na atual potência global.
Ainda assim e ainda hoje, Murdoch se sente um "outsider", um marginal entre seus pares. É o que defende Wolff depois de gravar 50 horas com Murdoch e entrevistar seus filhos mais velhos e até sua mãe, de 99 anos, que vive na Austrália e o recebeu apenas depois de um telefonema do filho autorizando-a a "contar tudo".
Adquirir o "Wall Street Journal" seria seu mais recente passo em busca do reconhecimento e da respeitabilidade. O objetivo final, sugere Wolff, é comprar o "New York Times".


THE MAN WHO OWNS THE NEWS

Autor: Michael Wolff
Editora: Random House (importado)
Quanto: US$ 30 (cerca de R$ 66, mais taxas, na Amazon.com; 464 págs.)
Avaliação: bom



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