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Batuque africano guia Sandra de Sá
Com participações de Seu Jorge e MC K, cantora lança "AfricaNatividade", disco de "música preta brasileira"
MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Sandra de Sá reinventou o sarau. Chamam-se "cervejais" os
encontros entre músicos que a
cantora promove, quase sempre nas tardes de sábado, em
seu apartamento na Lagoa, Rio.
Foi em uma dessas tardes
quentes -ou em uma série delas- que nasceu o protótipo de
"AfricaNatividade - Cheiro de
Brasil", álbum que marca os 30
anos de carreira (e, em agosto,
os 55 de vida) da artista.
Sucessor de um trabalho que
vertia ao português a black music americana da Motown ("Pare, Olhe, Escute", de 2002), o
lançamento joga foco em outro
aspecto do gênero. Traz à frente da cena a África percussiva
dos batuques, dos tambores.
"Minha vida inteira eu passei
de lá pra cá entre os bailes e os
terreiros, então conheço bem
as duas coisas", diz a cantora.
"A cultura africana é isso tudo,
mas a essência dela está nesse
batuque. O samba que a gente
dança só veio muito depois."
Apesar disso, "AfricaNatividade..." não se detém na raiz de
tal árvore genealógica. Corre
por muitos de seus galhos.
Estão representadas as hastes do soul ("Imaginação"), do
samba rock ("Tem Alguma
Coisa Errada Aí"), do sambalanço ("Baile do Asfalto", com
participação de Seu Jorge), do
rap (o angolano MC K faz as rimas em "Evoluir"), do samba-canção ("Copacabana").
"Isso é pra carimbar tudo o
que eu chamo de música preta
brasileira", afirma. "Esse batuque tem em todo o som que a
gente faz, mas quase sempre fica camuflado. Nas senzalas já
era assim: tinham que fazer tudo camuflado para não serem
pegos pelos brancos."
Ela própria, segundo conta,
já teve que disfarçar sua música
para não ser "pega" pelos
"brancos" das gravadoras nos
anos 80, tempo em que sua popularidade esteve no auge.
Naquele período, emplacava,
um atrás do outro, hits radiofônicos como "Joga Fora", "Retratos e Canções" (ambos compostos pela dupla Michael Sullivan e Paulo Massadas) e "Bye
Bye, Tristeza" (de Carlos Colla
e Marcos Valle).
"Eu engambelava os dirigentes", afirma. "Eles achavam que
eu estava fazendo exatamente
o que queriam. Não estava. Fazia o que eles queriam, mas
completamente do meu jeito.
Acho que só sobrevivi porque
estava disfarçada. Então, meu
amor, agora que eu posso tudo,
vou me colocar toda pra fora."
AFRICANATIVIDADE -
CHEIRO DE BRASIL
Artista: Sandra de Sá
Lançamento: Universal Music
Quanto: R$ 28
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