São Paulo, domingo, 14 de fevereiro de 2010

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Batuque africano guia Sandra de Sá

Com participações de Seu Jorge e MC K, cantora lança "AfricaNatividade", disco de "música preta brasileira"

MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Sandra de Sá reinventou o sarau. Chamam-se "cervejais" os encontros entre músicos que a cantora promove, quase sempre nas tardes de sábado, em seu apartamento na Lagoa, Rio.
Foi em uma dessas tardes quentes -ou em uma série delas- que nasceu o protótipo de "AfricaNatividade - Cheiro de Brasil", álbum que marca os 30 anos de carreira (e, em agosto, os 55 de vida) da artista.
Sucessor de um trabalho que vertia ao português a black music americana da Motown ("Pare, Olhe, Escute", de 2002), o lançamento joga foco em outro aspecto do gênero. Traz à frente da cena a África percussiva dos batuques, dos tambores.
"Minha vida inteira eu passei de lá pra cá entre os bailes e os terreiros, então conheço bem as duas coisas", diz a cantora.
"A cultura africana é isso tudo, mas a essência dela está nesse batuque. O samba que a gente dança só veio muito depois." Apesar disso, "AfricaNatividade..." não se detém na raiz de tal árvore genealógica. Corre por muitos de seus galhos.
Estão representadas as hastes do soul ("Imaginação"), do samba rock ("Tem Alguma Coisa Errada Aí"), do sambalanço ("Baile do Asfalto", com participação de Seu Jorge), do rap (o angolano MC K faz as rimas em "Evoluir"), do samba-canção ("Copacabana").
"Isso é pra carimbar tudo o que eu chamo de música preta brasileira", afirma. "Esse batuque tem em todo o som que a gente faz, mas quase sempre fica camuflado. Nas senzalas já era assim: tinham que fazer tudo camuflado para não serem pegos pelos brancos."
Ela própria, segundo conta, já teve que disfarçar sua música para não ser "pega" pelos "brancos" das gravadoras nos anos 80, tempo em que sua popularidade esteve no auge. Naquele período, emplacava, um atrás do outro, hits radiofônicos como "Joga Fora", "Retratos e Canções" (ambos compostos pela dupla Michael Sullivan e Paulo Massadas) e "Bye Bye, Tristeza" (de Carlos Colla e Marcos Valle).
"Eu engambelava os dirigentes", afirma. "Eles achavam que eu estava fazendo exatamente o que queriam. Não estava. Fazia o que eles queriam, mas completamente do meu jeito. Acho que só sobrevivi porque estava disfarçada. Então, meu amor, agora que eu posso tudo, vou me colocar toda pra fora."


AFRICANATIVIDADE - CHEIRO DE BRASIL

Artista: Sandra de Sá
Lançamento: Universal Music
Quanto: R$ 28




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