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Crítica/DVD/"Os Boas-Vidas"
Em tom amargo, comédia mostra primórdios de Fellini
Filme aborda cinco rapazes que levam vida ociosa na Itália do pós-Guerra
ALEXANDRE AGABITI
FERNANDEZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Terceiro longa de Federico Fellini, "Os Boas-Vidas" (1953) é uma
obra satírica, estudo de costumes de certo meio social que já
traz os rudimentos do universo
do cineasta, apresentado ainda
sem a exuberância posterior.
Em uma pequena cidade costeira da Itália no período pós-Guerra, um grupo de cinco rapazes de classe média leva uma
existência ociosa, sem profissão ou projetos para o futuro,
morando com as famílias. Eles
matam o tédio com conversas
intermináveis, festas, bebedeiras e pequenas travessuras de
adolescentes, embora tenham
entre 25 e 30 anos.
Essa vida sossegada, da qual
pensam poder desfrutar eternamente, estremece quando
um deles, Fausto (Franco Fabrizi), o carismático don Juan
local, engravida Sandra (Leonora Ruffo), uma jovem da cidade. Ele é obrigado pelo pai a
casar e, pior, tem de começar a
trabalhar -tudo isso sob o riso
zombeteiro dos amigos.
Mas Fausto não muda sua
maneira de viver e continua
agindo de forma irresponsável:
acaba demitido da loja em que
trabalha ao assediar a mulher
do patrão; resolve roubá-lo
com o pretexto de que ele não
lhe pagara indenização alguma,
e envolve-se com outras mulheres, até que recebe uma surra do pai, como se fosse um moleque, em uma das muitas cenas engraçadíssimas do filme.
Fellini aborda com afetuosa
cumplicidade essa permanente
dificuldade de passar para a vida adulta, mas não deixa de endereçar um olhar crítico, cheio
de ironia. Outro membro do
grupo, o pusilânime Alberto
(Alberto Sordi), não hesita em
pedir dinheiro emprestado à irmã, que sustenta a casa, mas
quando esta se vai com um homem, ele chora nos braços da
mãe, jurando jamais partir.
O intelectual da turma, Leopoldo (Leopoldo Trieste), vive
com as tias, escreve peças de
teatro que nunca são encenadas e paquera a empregada doméstica do vizinho. Quando
consegue mostrar uma de suas
peças para um conhecido ator,
foge assombrado ao perceber
que este é homossexual e que o
interesse por sua comédia encobria outras motivações.
Riccardo (Riccardo Fellini,
irmão do diretor) é o personagem menos desenvolvido do
grupo. Bonachão, gosta de divertir os amigos cantando e está em todas as farras.
Moraldo (Franco Interlenghi), irmão de Sandra, é o mais
jovem dos cinco. Sério e sombrio, ele é o oposto de Fausto: é
o único que se recusa a continuar vivendo no vazio.
Resolve agir e abandona a cidade enquanto todos dormem.
É o personagem em crise do filme -como acontece em cada
obra de Fellini- e o mais identificado com o olhar do diretor.
É o mudo julgamento de Moraldo sobre seus amigos, inicialmente lisonjeiro e depois
cada vez mais crítico, que faz
avançar a narrativa.
Um dos pontos altos de "Os
Boas-Vidas" é a capacidade de
Fellini em tornar próximos esses personagens, sem lances de
efeito, psicologia ou grandiloquência. Um filme cômico com
gosto amargo.
OS BOAS-VIDAS
Direção: Federico Fellini
Lançamento: Versátil Home
Quanto: R$ 44,90
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
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