São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Orquestra para o futuro Marin Alsop, que assume a Osesp em 2012, defende uso de mídias digitais e compositores atuais para orquestra refletir espírito contemporâneo da cidade
IRINEU FRANCO PERPETUO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Mídias digitais, programas sociais, repertório abrangendo o popular: a americana Marin Alsop, 54, que será a regente titular da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) por cinco anos a partir de 2012, pretende aprofundar e ampliar as atividades da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. "É hora de dizer: quais são as outras possibilidades?", afirma. "Não que devamos mudar a essência do que estamos fazendo. Mas, se o público quiser chegar às 23h, por que não? Isso não vai mudar nosso jeito de tocar "A Sagração da Primavera"." Na Sinfônica de Baltimore, que assumiu em 2007, Alsop é responsável por iniciativas como a de explicar uma obra antes do concerto, fazendo a orquestra tocar trechos da mesma antes de executá-la inteira. Ou ainda ficar depois das apresentações para uma conversa com o público, tendo a seu lado o solista convidado da noite. "Para fazer isso aqui, meu português teria que evoluir logo", afirma a maestrina, que em breve começará a ter aulas do idioma. "Hoje, o regente tem que se comprometer em muito mais níveis; não é só "estou vindo para reger meus concertos, sentem-se e desfrutem". Tem que haver uma relação pessoal com o público, com os músicos e com a música", diz. "As pessoas querem ser incluídas. É uma era de participação. Não é mais uma era de passividade." Nesse aspecto, como em outros, o modelo a ser seguido é o de seu antigo mestre, o compositor e regente norte-americano Leonard Bernstein (1918-1990). "Na época dele, a TV estava só começando. Mesmo assim, ele identificou o potencial da mídia nova e escreveu, produziu, dirigiu e estrelou programas", diz Alsop, que defende o uso das mídias digitais para a orquestra. Em termos de propostas concretas para as iniciativas que poderiam ser tomadas para a Osesp, contudo, ela ainda é cautelosa: "Preciso conhecer direito a cidade, a comunidade e as iniciativas que a orquestra já tem". A mesma prudência se refere às questões de técnica e sonoridade que necessitam ser aprimoradas. "Neste ano, venho ao Brasil em junho e agosto e faço dois programas bem diferentes. Daí, terei a oportunidade de ouvir os músicos de novo e ter uma ideia mais precisa." Qualificando a Osesp como "surpreendente", e com "potencial tremendo", ela pretende moldar a sonoridade de cada naipe: "Já em junho, gostaria de começar a lidar com cada seção e construir o som das cordas, a afinação das madeiras, o ataque dos metais etc". CONVITE Principal nome feminino da regência na atualidade, Alsop regeu a Osesp como convidada em setembro do ano passado em uma obra ambiciosa: a "Sinfonia nº 7", de Mahler. No começou, conta que hesitou em aceitar o convite: "Não sabia nada sobre a orquestra ou a cidade e estava muito ocupada na Europa, regendo como convidada". Veio por insistência de Timothy Walker, consultor internacional da Osesp e diretor artístico da Filarmônica de Londres. Agradou e foi abordada em dezembro com o convite oficial para assumir o grupo. "Quando pensei em equilibrar vida e trabalho, reparei que combina bem com Baltimore porque a temporada é oposta", diz. Os principais concertos da Osesp acontecem no verão do hemisfério Norte, quando a orquestra norte-americana de Alsop está em férias. Por aqui, ela deve aparecer na Sala São Paulo em dez programas por temporada, além de fazer turnês e gravações. "O principal é ter responsabilidade pela qualidade artística, elevá-la e coordenar, entre os músicos da orquestra, quem toca o que e quando -isso tem sido um pouco caótico." Com uma copiosa discografia, vastamente premiada internacionalmente, Alsop suscita expectativas com relação às gravações futuras que vá fazer com a Osesp. Ela defende um equilíbrio entre discos com o repertório tradicional -que permitam à Osesp ser comparada com as outras orquestras internacionais- e obras diferenciadas. "A tendência inicial e imediata seria o repertório brasileiro, latino-americano, mas isso parece muito óbvio", afirma. "Talvez fosse divertido fazer mais compositores contemporâneos que mesclam popular e erudito." A música de hoje é, para ela, uma evidente prioridade. "Todo mundo sente que essa é uma cidade contemporânea e isso tem que se refletir no repertório", diz, enquanto contempla São Paulo da janela do Hotel Renaissance. "Além de Mahler, Brahms e Beethoven, temos que trazer a música de hoje. Sou muito interessada na música nova brasileira, e tenho que me educar nisso." Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Regente associado gravará CD sobre Almeida Prado Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |