VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Criar roupas para filmes de época é uma tarefa complicada, que quase sempre termina em reconstituições literais medíocres e excessivamente livrescas. Os efeitos colaterais desse tipo de equívoco podem ser fatais: os atores, constrangidos e altamente desconfortáveis dentro de seus "trambolhos de museu", acabam atuando sem naturalidade.
Quando o figurinista consegue escapar das armadilhas do rigor técnico, no entanto, o resultado pode ser revelador, ajudando a narrativa a aproximar o espectador do essencial.
Essa capacidade de transformar peças de design antigo em objetos de desejo vibrantes e frescos é o segredo por trás do fantástico trabalho desenvolvido por Milena Canonero para o filme "Maria Antonieta", uma das produções cinematográficas de maior impacto fashion das últimas décadas.
Milena soube equilibrar com precisão elementos da indumentária do século 18 com peças criadas por designers contemporâneos, entre eles, os top estilistas Karl Lagerfeld e John Galliano. A Maria Antonieta retratada pela figurinista parece tão real que poderia estar na capa de qualquer tablóide, site ou revista. Na tela, é uma celebridade pop, lança tendências, é viciada em compras e tem um cabeleireiro hype.
Numa das cenas mais comentadas do filme, um par de Converse All Star azulzinho, propositalmente deixado pela produção, aparece entre os pisantes da rainha. A idéia não é somente reproduzir, mas traduzir, compreender e aproximar a partir do olhar contemporâneo. E nada mais perfeito do que o tênis-ícone dos indies. Versalhes é aqui e agora.
Milena saiu da cerimônia de premiação do Oscar deste ano com a merecidíssima estatueta de melhor figurino, a terceira de sua carreira -ganhou por "Carruagens de Fogo" e pelo ótimo "Barry Lyndon", além de seu trabalho mais influente, o visionário "Laranja Mecânica".
O figurino de "Maria Antonieta" deve continuar fazendo a cabeça dos fashionistas durante muitos anos.


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