JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A idéia não é originalíssima. Compositor masculino escrevendo para intérprete feminina sempre foi uma constante na MPB. Um disco deliberadamente sensual repleto de convidados também não chega a ser novidade. Mas o 3namassa nunca soaria banal.
Basicamente por causa do talento do time reunido. Em tempos de Mallu Magalhães, é saudável lembrar que há toda uma geração de jovens cantoras que veio se formando (e se impondo) nos últimos anos. Aqui ela é bem representada por Céu, que tem o poder de transformar até o verso mais corriqueiro em algo divino. Em "Doce Guia", canta a palavra "bocado" com o sotaque do autor, Junio Barreto. É de eriçar todos os pêlos.
Thalma de Freitas e Nina Becker também desempenham magistralmente. No samba-lounge de Jorge du Peixe, Thalma surge toda provocante, passeando pelos timbres deliciosamente bregas de Fernando Catatau. Nina, que pauta sua carreira pelo novo e inusitado, tinha de ficar mesmo com a nada óbvia composição do Mombojó. Aguça cantando baixinho, sem apelar para o sussurro.
É verdade que nem tudo encaixa. Mas haverá tarado para achar graça até na junção de Lirinha com Pitty. Sobre a cama instrumental, a única crítica que pode ser feita é que ela varia pouco, como se todo mundo ali transasse na mesma levada.
Não há nenhum momento mais selvagem. E não dá para entender como o encarte saiu sem as letras. Sacanagem.