São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2008

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Mundo árabe boicota Salão de Paris

Escolha de Israel como homenageado provoca saída de quatro países e editores de outros; direção do evento lamenta "politização"

Entidades de escritores árabes e palestinos, além de representações de Irã, Iêmen, Arábia Saudita e Líbano, rechaçam salão

ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

O Salão do Livro de Paris, um dos maiores eventos literários da Europa, será inaugurado hoje para o público sem a participação de diversos países e editores árabes, que protestam contra a escolha de Israel como convidado de honra.
A seleção de Israel no mesmo ano em que se comemoram os 60 anos da criação do Estado hebreu é vista, por parte do mundo árabe, como um apoio velado à política do premiê Ehud Olmert, principalmente às incursões israelenses em territórios palestinos.
Nas últimas semanas, as manifestações de protesto não pararam de aumentar, inclusive com vozes dissonantes mesmo entre intelectuais israelenses. A Isesco (Organização Islâmica para Educação, Ciências e Cultura) foi uma das primeiras entidades a se manifestar, pedindo publicamente aos seus 50 países membros que boicotassem o evento.
A União dos Escritores Palestinos e a União dos Escritores Árabes, com sede no Egito, também pediram às editoras que cancelassem os estandes no salão, que segue até a próxima quarta-feira.
Entre os países que se pronunciaram oficialmente, o Líbano, pedra angular da francofonia no mundo árabe, foi o primeiro a afirmar que não participaria do encontro em Paris, iniciativa seguida por Arábia Saudita, Iêmen e Irã. Editores de outros países, como Argélia, Marrocos e Tunísia, também cancelaram a presença.
Para o escritor e conselheiro cultural da Embaixada do Líbano em Paris, Abdallah Naaman, os escritores oficialmente convidados para representar a literatura israelense não representam o conjunto da população.
"Como explicar o fato de que todos os convidados escrevam em hebraico, quando sabemos que o árabe é muito presente no país, sem falar nos escritores que se exprimem em outros idiomas, como francês, russo e o inglês? A escolha do hebraico como única língua prova que uma parte importante da população é rejeitada", afirma ele.
Entre os organizadores, o sentimento é de surpresa. "Não é Israel que é convidado, mas sim a literatura israelense", diz o presidente do salão, Serges Eyrolles, que lamenta o que chama de "politização" do debate e insiste sobre a casualidade entre a participação de Israel e o aniversário de sua criação como Estado. "Tudo isso é uma grande coincidência. Eu mesmo só soube que neste ano se celebrava a criação de Israel em dezembro do ano passado."
Mas o argumento não convence todos. "O chamado campo da paz, formado por escritores como Amos Oz e Yehoshua e Grossman, é uma falácia. Eles não deram uma só palavra sobre os ataques recentes na Faixa de Gaza, que são uma forma de legitimação moral e cultural da política de Israel", diz Eric Hazan, um dos donos da La Fabrique, uma pequena editora francesa que publica obras traduzidas do hebraico e do árabe.


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