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Mundo árabe boicota Salão de Paris
Escolha de Israel como homenageado provoca saída de quatro países e editores de outros; direção do evento lamenta "politização"
Entidades de escritores árabes e palestinos, além de representações de Irã, Iêmen, Arábia Saudita e Líbano, rechaçam salão
ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
O Salão do Livro de Paris, um
dos maiores eventos literários
da Europa, será inaugurado hoje para o público sem a participação de diversos países e editores árabes, que protestam
contra a escolha de Israel como
convidado de honra.
A seleção de Israel no mesmo
ano em que se comemoram os
60 anos da criação do Estado
hebreu é vista, por parte do
mundo árabe, como um apoio
velado à política do premiê
Ehud Olmert, principalmente
às incursões israelenses em
territórios palestinos.
Nas últimas semanas, as manifestações de protesto não pararam de aumentar, inclusive
com vozes dissonantes mesmo
entre intelectuais israelenses.
A Isesco (Organização Islâmica
para Educação, Ciências e Cultura) foi uma das primeiras entidades a se manifestar, pedindo publicamente aos seus 50
países membros que boicotassem o evento.
A União dos Escritores Palestinos e a União dos Escritores Árabes, com sede no Egito,
também pediram às editoras
que cancelassem os estandes
no salão, que segue até a próxima quarta-feira.
Entre os países que se pronunciaram oficialmente, o Líbano, pedra angular da francofonia no mundo árabe, foi o primeiro a afirmar que não participaria do encontro em Paris,
iniciativa seguida por Arábia
Saudita, Iêmen e Irã. Editores
de outros países, como Argélia,
Marrocos e Tunísia, também
cancelaram a presença.
Para o escritor e conselheiro
cultural da Embaixada do Líbano em Paris, Abdallah Naaman,
os escritores oficialmente convidados para representar a literatura israelense não representam o conjunto da população.
"Como explicar o fato de que
todos os convidados escrevam
em hebraico, quando sabemos
que o árabe é muito presente
no país, sem falar nos escritores
que se exprimem em outros
idiomas, como francês, russo e
o inglês? A escolha do hebraico
como única língua prova que
uma parte importante da população é rejeitada", afirma ele.
Entre os organizadores, o
sentimento é de surpresa. "Não
é Israel que é convidado, mas
sim a literatura israelense", diz
o presidente do salão, Serges
Eyrolles, que lamenta o que
chama de "politização" do debate e insiste sobre a casualidade entre a participação de Israel e o aniversário de sua criação como Estado. "Tudo isso é
uma grande coincidência. Eu
mesmo só soube que neste ano
se celebrava a criação de Israel
em dezembro do ano passado."
Mas o argumento não convence todos. "O chamado campo da paz, formado por escritores como Amos Oz e Yehoshua
e Grossman, é uma falácia. Eles
não deram uma só palavra sobre os ataques recentes na Faixa de Gaza, que são uma forma
de legitimação moral e cultural
da política de Israel", diz Eric
Hazan, um dos donos da La Fabrique, uma pequena editora
francesa que publica obras traduzidas do hebraico e do árabe.
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