São Paulo, domingo, 14 de março de 2010

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Coleção Folha mostra origens da música brasileira

Série, que chega às bancas no próximo domingo, traz 25 livros-CDs de artistas dos anos 1910 a 1950

DA REPORTAGEM LOCAL

No próximo domingo, dia 21, chega às bancas a Coleção Folha Raízes da Música Popular Brasileira, que, ao longo de 24 semanas, trará um total de 25 livros-CDs, abordando alguns dos principais artistas do país entre os anos 1910 e 1950. Cada volume será dedicado a um compositor de grande importância para as bases de nossa música.
Os dois primeiros volumes, com lançamento simultâneo e vendidos juntos ao preço de um, serão dedicados a Noel Rosa e Lamartine Babo. Entre os próximos nomes estão Cartola, Pixinguinha, Lupicínio Rodrigues, Adoniran Barbosa, Ary Barroso, Nelson Cavaquinho, Dorival Caymmi, Herivelto Martins, Jackson do Pandeiro, Assis Valente e Silvio Caldas.
A edição e seleção de repertório é de Carlos Calado e os títulos contam com textos de críticos, jornalistas e escritores como Arthur de Faria, Zuza Homem de Mello Henrique Cazes, Hugo Sukman, Irineu Franco Perpetuo, João Máximo, Kiko Ferreira, Luiz Fernando Vianna, Mathilda Kovak, Moacyr de Andrade, Rodrigo Faour, Tárik de Souza e Tom Cardoso.
A série tem foco na produção musical de compositores essenciais da primeira metade do século 20 -época de consagração de estilos como samba, choro, baião e marchas-, dos princípios do registro do som em disco até a época em que surgem as gravações em alta fidelidade, a televisão e a bossa nova. Vivia-se a chamada Era do Rádio, em que os artistas se apresentavam em cassinos e programas de auditório e ficavam conhecidos do público pelos retratos nas revistas.
Era nesse Brasil que compunham e gravavam os principais músicos da época, dos quais trata a Coleção Folha. Ao longo de seus 25 volumes, a série vai apresentar pianistas do começo do choro, como Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga; nomes fundamentais do baião, como Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga; importantes sambistas, como Cartola e Nelson Cavaquinho; instrumentistas, como Pixinguinha e Jacob do Bandolim; e clássicos da música paulista, como Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini.
Os livros virão com 60 páginas cada um, acabamento em capa dura, papel de alta qualidade e a biografia do compositor, acompanhada pelo respectivo CD. Cada um deles traz 14 faixas gravadas na voz de grandes intérpretes, como Gal Costa, Maria Bethania, Elis Regina, Toquinho, Arnaldo Antunes e Beth Carvalho.
No repertório, aparecem músicas como "As Rosas Não Falam" (Cartola); "Aquarela do Brasil" (Ari Barroso); "Maracangalha" (Dorival Caymmi); "Chão de Estrelas" (Silvio Caldas); "Conversa de Botequim" (Noel Rosa) em um total de mais de 340 faixas remasterizadas.

1- NOEL ROSA
21 de março
Noel Rosa nasceu em 1910, no Rio de Janeiro, e ajudou a levar o samba do morro para o "asfalto" -ou seja, para as classes médias e para a rádio. Compositor, cantor, violonista e bandolinista, morreu com apenas 26 anos, em decorrência de tuberculose. Foi apelidado de "poeta da vila", dada sua habilidade para escrever letras como as das canções "Com que Roupa?" e "Conversa de Botequim". Entre seus parceiros de vida boêmia e música estiveram Ismael Silva e Vadico e outros grandes sambistas.

2- LAMARTINE BABO
21 de março
Com marchinhas carnavalescas humorísticas e irreverentes e hinos de clubes de futebol, Lamartine Babo marcou a história da música brasileira. Nascido no Rio de Janeiro, em 1904, começou a compor ainda na adolescência, e fez clássicos de Carnaval como "O Teu Cabelo Não Nega" e o hino que leva a famosa exaltação: "Uma vez Flamengo, sempre Flamengo".

3- CARTOLA
28 de março
Figura marcante da Mangueira no início da trajetória da escola, dos anos 20 aos 40, Cartola passou por longo "sumiço", até ser redescoberto em 1956 como lavador de carros. A partir daí ganhou destaque e pôde gravar seus primeiros álbuns. Seus clássicos, como "O Mundo É um Moinho", continuam sendo regravados a cada geração.

4- PIXINGUINHA
4 de abril
Nascido no Rio nos últimos anos do século 19, Pixinguinha se consagrou por consolidar o choro brasileiro, com músicas como "Carinhoso" e "Lamentos". Além de tocar flauta e saxofone, o músico regeu orquestras de música popular, como os Oito Batutas. Passou também pelo maxixe, pela valsa e por outros estilos musicais.

5- ATAULFO ALVES
11 de abril
Ataulfo Alves nasceu em Minas Gerais, em 1909, onde trabalhou desde criança para ajudar a família. Foi depois de se mudar para o Rio, no entanto, que surgiu para a cena musical, com canções que ficaram famosas nas vozes de grandes cantores como Carmen Miranda e Silvio Caldas. Entre elas, está "Ai, que Saudade da Amélia".

6- LUPICÍNIO RODRIGUES
18 de abril
Gaúcho e torcedor do Grêmio -clube do qual compôs o hino oficial-, Lupicínio produziu muitos sambas e marchinhas, os primeiros com apenas 12 anos. Durante a vida, abriu bares e restaurantes, que não deram certo, pois serviam mais para sustentar sua vida boêmia e festiva do que para lucrar. É dele a famosa "Nervos de Aço".

7- ADONIRAN BARBOSA
25 de abril
Além de ser um dos maiores nomes do samba paulista, Adoniran foi humorista e ator. Nascido em 1910, filho de imigrantes italianos, criou um linguajar peculiar, que marcou clássicos como "Saudosa Maloca" e "Trem das Onze". Destacou em suas letras, entre outras coisas, a vida dos bairros operários paulistanos.

8- DOLORES DURAN
2 de maio
Dolores teve uma vida repleta de acontecimentos precoces. Desde criança cantava em festas e aos 12 anos começou a trabalhar com música. Antes dos 20 estreou na Rádio Nacional e, a partir daí, teve rápida ascensão na carreira. Morreu aos 29 anos, em 1959, em decorrência de infarto, deixando canções como "A Noite de Meu Bem".

9- ARY BARROSO
9 de maio
Locutor de rádio, inclusive de jogos de futebol, e formado em direito em 1929 no Rio, o mineiro Ary Barroso se destacou mesmo como músico. Compositor de centenas de canções, entre elas "Aquarela do Brasil" e "No Tabuleiro da Baiana", criou com elas o "samba-exaltação", destacando qualidades do país e do povo.

10- LUIZ GONZAGA
16 de maio
Pernambucano, Gonzagão nasceu em 1912 e é o músico que mais difundiu pelo Brasil o baião, o forró e a música nordestina como um todo. Cantor, acordeonista (ou sanfoneiro, como se diz em sua terra) e compositor, é autor de "Asa Branca", "Assum Preto" e outros clássicos, que o fizerem ser chamado de "rei do baião".

11- NELSON CAVAQUINHO
23 de maio
Cavaquinista quando jovem, o que lhe rendeu o nome artístico Nelson Cavaquinho, o sambista carioca optou pelo violão na maturidade, adotando um estilo peculiar de tocar. Apesar de só ter lançado o primeiro disco em 1970, compôs centenas de músicas a partir dos anos 30, entre elas os sucessos "Folhas Secas" e "Juízo Final".

12- DORIVAL CAYMMI
30 de maio
As canções praieras, como "A Jangada Voltou Só", marcaram a obra de Caimmy. Nascido em Salvador em 1914, também destacou nas músicas a cultura de sua terra, fazendo referências à comida, às danças e às religiões afro-brasileiras. Com estilo peculiar de tocar e cantar, deixou outros clássicos como "Maracangalha" e "Marina".

13- BRAGUINHA
6 de junho
Conhecido também como "João de Barro", o carioca Braguinha nasceu em 1907 e chegou a cursar alguns anos de arquitetura quando jovem. Logo desistiu para se dedicar à música, compondo sucessos de Carnaval como "Chiquita Bacana" e "Touradas de Madri". É dele também a consagrada letra do choro "Carinhoso", de Pixinguinha.

14- HERIVELTO MARTINS
13 de junho
Sob influência do pai, Herivelto cantava e atuava desde criança, no Rio da década de 10. Anos depois, seu casamento com a cantora Dalva de Oliveira viria a marcar toda sua trajetória musical, principalmente pela rivalidade que criaram após a separação -o que rendeu canções como "Caminhemos". É dele, também, a clássica "Izaura".

15- JACKSON DO PANDEIRO
20 de junho
Nascido na Paraíba, em 1919, Jackson do Pandeiro foi chamado também de "o rei do ritmo", dada sua habilidade para tocar coco, samba, forró, baião e vários dos ritmos da música brasileira. Foi, junto com Luiz Gonzaga, um dos grandes responsáveis pela divulgação das levadas nordestinas pelo Brasil e pelo mundo.

16- PAULO VANZOLINI
27 de junho
Formado em medicina em 1947 e doutor em zoologia pela Harvard, Paulo Vanzolini é também um grande compositor de samba, criando clássicos como "Ronda" e "Volta por Cima". Atuante até os dias de hoje (também na academia), teve canções interpretadas por vários grandes nomes, como Chico Buarque e Paulinho da Viola.

17- SILVIO CALDAS
4 de julho
Criado no bairro de São Cristóvão, no Rio, nos anos 1910, Silvio cantava desde cedo, participando de festas de Carnaval e blocos de rua. A partir dos anos 30, se destacou como um dos grandes cantores da música popular, interpretando músicas próprias e de músicos como Ary Barroso. São dele "Favela", "Chão de Estrelas" e outras.

18- CHIQUINHA GONZAGA
11 de julho
Nascida ainda na época da escravidão, em 1847, Chiquinha Gonzaga foi pioneira da emancipação da mulher no Brasil. Primeira pianista de choro, primeira mulher a reger orquestra no país e autora de uma das primeiras marchas de Carnaval ("Ô Abre Alas"), compôs, em 88 anos de vida, cerca de 2.000 músicas e 80 peças teatrais.

19- JACOB DO BANDOLIM
18 de julho
Aos 12 anos, em 1930, Jacob ganhou um violino. Sem conseguir se adaptar, passou para o bandolim, com o qual construiu a carreira que consagrou seu nome na música brasileira e seu instrumento no choro. Em 1966 organizou o famoso conjunto Época de Ouro, com o qual tocou alguns de seus clássicos, como "Noites Cariocas".

20- ERNESTO NAZARETH
25 de julho
Apesar da grandeza e sofisticação de suas composições, Nazareth levou uma vida com dificuldades financeiras, além das amarguras pelas mortes da mulher e da filha. Nascido em 1863, foi compositor de importantes "tangos brasileiros", nome usado na época para algo semelhante ao choro. Seu reconhecimento só veio mais tarde.

21- ISMAEL SILVA
1º de agosto
Com sumiços e reaparecimentos durante a carreira -um deles após anos de prisão-, Ismael deixou clássicos como "Se Você Jurar" e "Antonico", e parcerias com Noel Rosa. Nascido em 1905, em Niterói, viveu na boemia, cheio de dificuldades financeiras. O reconhecimento público veio depois, levando até título de "cidadão carioca."

22- ASSIS VALENTE
8 de agosto
A alegre "Brasil Pandeiro" foi composta por um homem que, aos 48 anos, se matou ingerindo formicida, em 1958. Pois Assis Valente passou por tudo na vida, da glória ao esquecimento. E a partir dos anos 60 passou a ter suas canções, como "Camisa Listada", resgatadas pelas novas gerações (Chico Buarque, Elis Regina e outros).

23- GERALDO PEREIRA
15 de agosto
Outro sambista de vida boêmia, Geraldo Pereira morreu dias após brigar com Madame Satã (personagem emblemático da vida marginal carioca), em 1955, em decorrência dos ferimentos. Nasceu 37 anos antes, em Minas, e deixou as clássicas "Falsa Baiana" e "Sem Compromisso". Com o samba sincopado, influenciou a bossa nova.

24- WALDIR AZEVEDO
22 de agosto
Autor do choro "Brasileirinho", Waldir começou a tocar flauta aos sete anos, em 1930. Passou depois por bandolim, cavaquinho e violão, compondo outros clássicos, como "Delicado". Recebeu grande reconhecimento a partir dos anos 50, inclusive representando o Brasil mundo afora, em excursões patrocinadas pelo Itamaraty.

25- SINHÔ
29 de agosto
Na primeira década do século 20 Sinhô já era pianista profissional, pois aos 17 anos se casou e tinha que sustentar a casa. Nem por isso abandonou a noite e o choro, se envolvendo em várias polêmicas -uma delas reivindicando a autoria de "Pelo Telefone", registrada por Donga. São dele, com registro, "Jura" e "Sabiá", entre outras.


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