São Paulo, sábado, 14 de março de 1998

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SALÃO DO LIVRO DE PARIS
Delegação é a maior já enviada ao exterior
Brasil manda "seleção' literária

LUIZ ANTONIO RYFF
enviado especial ao Rio

O Brasil está mandando a maior delegação de escritores já formada para participar de um evento no exterior: o 18º Salão do Livro de Paris, que ocorre entre os dias 20 e 25 deste mês e que, neste ano, tem o país como homenageado.
"Estamos levando a seleção titular", brinca Sérgio Machado, presidente do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livro).
Quarenta e dois escritores foram convidados pelos governos brasileiro e francês. Há também alguns escritores que viajarão por conta própria ou de seus editores, caso de Paulo Coelho.
Além dos escritores convidados, editores, livreiros e políticos -como o ministro da Cultura, Francisco Weffort, e a primeira-dama, Ruth Cardoso- também participarão do salão. Com isso, a delegação chega a quase cem pessoas.
Para o escritor Antonio Torres, a proximidade da Copa do Mundo deve ter ajudado a escolha do Brasil como país homenageado. Segundo ele, há algum preconceito intelectual pelo futebol, mas ele deve ser posto de lado.
"Dessa vez ele está ajudando bastante a literatura. Viva o Ronaldinho", brincou ele, durante uma entrevista sobre o salão no consulado francês do Rio.
Se a comparação com o futebol, feita pelos escritores, for levada a extremos, o Ronaldinho dessa seleção -do ponto de vista financeiro- seria Paulo Coelho. E sua escalação provoca certo incômodo.
Provocado por uma jornalista francesa sobre a presença de Paulo Coelho e intimado a formar um painel da diversidade literária brasileira, Antonio Torres não se perturbou. "A diversidade é tão grande que tem até Paulo Coelho."
"Há os fenômenos de massa e os fenômenos literários. Machado de Assis nunca entrou em lista de best sellers. Lendo entrevistas do Paulo Coelho, constato que surgiu uma nova classe de ressentidos, a dos ricos. Se tivesse a grana dele, eu não me importaria com reconhecimento."
O escritor, professor e crítico literário Silviano Santiago, por sua vez, acha que "a grande pergunta que se pode fazer é se a obra de Paulo Coelho vai transcender sua própria época".
Divergências
Coelho não é o único ponto polêmico. Há divergências na "comissão técnica da seleção".
Os organizadores na França e a Biblioteca Nacional -responsável pela parte brasileira- não estão se entendendo bem.
Segundo Elmer Barbosa, diretor do Departamento Nacional do Livro, representante da BN na reunião no consulado, problemas foram causados pelas declarações incorretas de um funcionário na França.
O funcionário a que ele se referiu é Jean Sarzana, delegado-geral do Salão do Livro. Ou seja, "o" responsável pelo evento.
Sarzana declarou em Paris, há duas semanas, que estava preocupado com a montagem do estande brasileiro. Pois não sabia como ele seria, nem como seria montado a tempo. No Rio, Eduardo Portella, presidente da BN, retrucou dizendo que Sarzana não tinha "poder de fogo".
As relações entre as duas partes ficaram estremecidas e a referência de Barbosa a um funcionário como autor das declarações parece mostrar que os problemas não foram resolvidos.
Inicialmente, os franceses se ofereceram para montar o estande brasileiro -como foi feito no ano passado, quando o Japão era homenageado. A BN não aceitou e apresentou um projeto que foi recusado pelos organizadores.
"Há por trás outros interesses. Se aprovássemos o projeto francês, iríamos ultrapassar a capacidade de pagamento do governo brasileiro", acusou Barbosa. "O Brasil não é mais o país dos papagaios, araras e sucuris andando na av. Rio Branco. Não queremos uma visão exótica."



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