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SALÃO DO LIVRO DE PARIS
Delegação é a maior já enviada ao exterior
Brasil manda
"seleção' literária
LUIZ ANTONIO RYFF
enviado especial ao Rio
O Brasil está mandando a
maior delegação de escritores já
formada para participar de um
evento no exterior: o 18º Salão
do Livro de Paris, que ocorre entre os dias 20 e 25 deste mês e
que, neste ano, tem o país como
homenageado.
"Estamos levando a seleção titular", brinca Sérgio Machado,
presidente do Snel (Sindicato
Nacional dos Editores de Livro).
Quarenta e dois escritores foram convidados pelos governos
brasileiro e francês. Há também
alguns escritores que viajarão
por conta própria ou de seus editores, caso de Paulo Coelho.
Além dos escritores convidados, editores, livreiros e políticos
-como o ministro da Cultura,
Francisco Weffort, e a primeira-dama, Ruth Cardoso- também participarão do salão. Com
isso, a delegação chega a quase
cem pessoas.
Para o escritor Antonio Torres,
a proximidade da Copa do Mundo deve ter ajudado a escolha do
Brasil como país homenageado.
Segundo ele, há algum preconceito intelectual pelo futebol,
mas ele deve ser posto de lado.
"Dessa vez ele está ajudando
bastante a literatura. Viva o Ronaldinho", brincou ele, durante
uma entrevista sobre o salão no
consulado francês do Rio.
Se a comparação com o futebol, feita pelos escritores, for levada a extremos, o Ronaldinho
dessa seleção -do ponto de vista financeiro- seria Paulo Coelho. E sua escalação provoca certo incômodo.
Provocado por uma jornalista
francesa sobre a presença de
Paulo Coelho e intimado a formar um painel da diversidade literária brasileira, Antonio Torres não se perturbou. "A diversidade é tão grande que tem até
Paulo Coelho."
"Há os fenômenos de massa e
os fenômenos literários. Machado de Assis nunca entrou em lista de best sellers. Lendo entrevistas do Paulo Coelho, constato
que surgiu uma nova classe de
ressentidos, a dos ricos. Se tivesse a grana dele, eu não me importaria com reconhecimento."
O escritor, professor e crítico
literário Silviano Santiago, por
sua vez, acha que "a grande pergunta que se pode fazer é se a
obra de Paulo Coelho vai transcender sua própria época".
Divergências
Coelho não é o único ponto
polêmico. Há divergências na
"comissão técnica da seleção".
Os organizadores na França e a
Biblioteca Nacional -responsável pela parte brasileira- não
estão se entendendo bem.
Segundo Elmer Barbosa, diretor do Departamento Nacional
do Livro, representante da BN
na reunião no consulado, problemas foram causados pelas declarações incorretas de um funcionário na França.
O funcionário a que ele se referiu é Jean Sarzana, delegado-geral do Salão do Livro. Ou seja,
"o" responsável pelo evento.
Sarzana declarou em Paris, há
duas semanas, que estava preocupado com a montagem do estande brasileiro. Pois não sabia
como ele seria, nem como seria
montado a tempo. No Rio,
Eduardo Portella, presidente da
BN, retrucou dizendo que Sarzana não tinha "poder de fogo".
As relações entre as duas partes
ficaram estremecidas e a referência de Barbosa a um funcionário como autor das declarações parece mostrar que os problemas não foram resolvidos.
Inicialmente, os franceses se
ofereceram para montar o estande brasileiro -como foi feito no
ano passado, quando o Japão era
homenageado. A BN não aceitou
e apresentou um projeto que foi
recusado pelos organizadores.
"Há por trás outros interesses.
Se aprovássemos o projeto francês, iríamos ultrapassar a capacidade de pagamento do governo brasileiro", acusou Barbosa.
"O Brasil não é mais o país dos
papagaios, araras e sucuris andando na av. Rio Branco. Não
queremos uma visão exótica."
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