São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2008

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O novo trabalho de Hércules

Ao fazer uma releitura da disco music apoiada por referências à mitologia grega, grupo norte-americano Hercules and Love Affair colhe elogios com seu álbum de estréia

O produtor Andrew Butler, responsável pelas letras e pelas músicas da banda, fará DJ set no Rio, na sexta, e em São Paulo, no sábado

Divulgação
O Hercules and Love Affair pode voltar ao país neste ano


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

É como se o Partenon ganhasse um globo de luz e servisse de cenário para Donna Summers cantar "I Feel Love".
A mitologia grega e a disco music estão integradas na estética do Hercules and Love Affair, grupo norte-americano responsável por um dos mais celebrados e originais discos lançados recentemente.
O grupo é, na verdade, projeto de um homem só: o produtor Andrew Butler. Ele faz as letras, as músicas e chama para cantar gente como Antony Hegarty, o andrógino vocalista com voz de Nina Simone, líder da cultuada banda Antony and the Johnsons (que se apresentou no Brasil no final do ano passado, no Tim Festival).
O Hercules and Love Affair poderá ser visto no Brasil nesta semana -na verdade, apenas o núcleo do grupo. Andrew Butler fará DJ set no Rio de Janeiro, na sexta, e em São Paulo, no sábado (leia texto abaixo).
A banda completa, com Antony e as vocalistas Kim Ann Foxman e Nomi, está sendo cotejada por pelo menos dois grandes festivais que ocorrem no país no segundo semestre.
Até fevereiro deste ano, ninguém sabia quem eram Hercules and Love Affair ou Andrew Butler. Aí, em março, veio o disco, homônimo, lançado pela gravadora DFA (a mesma do LCD Soundsystem) -a EMI deve lançar o CD no Brasil.
Difícil encontrar, nos últimos meses, um álbum que tenha motivado tantos elogios. E muitos deles concentram-se na criativa releitura da disco music promovida por Andrew Butler, apoiada em referências a mitos da Grécia antiga.
"Quando tinha uns sete anos, tive professores que, em vez de me contar histórias de fadas e coisas do tipo, me ensinavam mitologia grega. Eu ficava fascinado com aquelas aventuras. E aí comecei a ler por conta própria livros sobre o assunto", diz Butler à Folha, por telefone, de Nova York, onde mora.
"Quando comecei a compor músicas para este projeto, o tema estava na minha cabeça. Fiz uma canção, "Athene", depois veio outra, "Hercules Theme", e isso acabou deixando uma marca definitiva na música."
O nome do projeto nasceu, claro, a partir de Hércules, o herói grego. "Me interesso por sua história porque ele era o homem mais forte da Terra, mas se tornou vulnerável por causa de uma mulher [de acordo com a mitologia grega, Hércules vestiu uma túnica, manchada com o sangue do centauro Nesso, que lhe fora enviada por sua mulher, Dejanira; não suportou a dor e teve o corpo queimado numa pira]. Acho isso bonito. E o tema se encaixa de uma maneira curiosa com o tipo de música que quero fazer: algo dançante, mas sutil."

Melancolia
Andrew Butler cresceu em Washington; quando adolescente, se mudou para Denver (Colorado). Naquela cidade, longe de Nova York, Los Angeles, passou a fazer música. "Havia boas lojas de discos em Denver, bons DJs de Chicago e San Francisco iam tocar nas festas."
Foi a Nova York há pouco tempo, e lá o Hercules and Love Affair ganhou forma. A maioria das dez músicas do álbum empresta tanto acordes como espírito da disco music, mas guardam também algo de contemplativo e melancólico.
"As letras talvez sejam um pouco melancólicas. Costumo escrever poesia, e meus poemas normalmente são introspectivos, emocionais, e o disco foi nessa direção", conta. "Busquei muita coisa em minha memória, de canções que ouvia no rádio, nos clubes. O disco tem essas referências, que significaram muito para mim."
Mas ele não se sente confortável em posicionar o disco como "dance music". "É mais amplo. Tenho uma paixão pela música feita nos anos 1970. Isso influenciou na gravação do disco: eu queria músicos tocando ao vivo, fazendo um contraponto a instrumentos como bateria eletrônica e sintetizadores."
Os vocalistas que estão no disco são todos amigos pessoais de Butler -como Antony. "Ele foi a primeira pessoa que convidei para participar do disco. A primeira música que gravamos foi "Blind", há quatro anos", diz.
"Em sua banda, Antony trabalha mais com instrumentos acústicos, como violinos, piano. Mas sua voz tem um alcance muito maior, por isso queria que ele cantasse em cima de instrumentos sintéticos, em outro contexto. No início, ouvi-lo no disco foi um choque."


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