São Paulo, terça, 14 de abril de 1998

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MÚSICA
Cantora lança seu segundo disco em 17 anos de carreira, com shows hoje e amanhã, no Sesc Pompéia, em SP
Laura Finocchiaro "liberta" o CD "Ecoglitter"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

No Brasil às vezes é assim. Numa carreira musical de 17 anos, a cantora, compositora e instrumentista Laura Finocchiaro, 36, só agora consegue chegar a seu segundo disco -primeiro CD-, que lança hoje e amanhã com shows no Sesc Pompéia, em São Paulo.
"Ecoglitter", o CD, surge após novela de quatro anos, daquelas comuns vividas por artistas ditos independentes. "Já estou acostumada. Tinha jurado que se nada acontecesse até eu fazer dez anos de carreira, desistiria. No décimo ano, aconteceu o "Rock in Rio 2'."
Ela se refere a seu "descobrimento" pela mídia, em 91. Gaúcha de Porto Alegre se apresentando em "todos os lugares de São Paulo" desde 83, em 90 foi inscrita -por um fã anônimo- no concurso que levaria três bandas desconhecidas a abrir os shows do festival.
Conquistou o segundo lugar. "Tive que escrever um atestado de pobreza para pagar a viagem -o festival não ajudava em nada."
O périplo pelas gravadoras não foi pequeno também. O "prêmio" do "Rock in Rio" dava direito a um disco para cada vencedor -os outros foram o dinossáurico Serguei e a banda Vid & Sangue Azul-; o de Laura só foi sair um ano depois, pela BMG, sem qualquer divulgação.
"Fui percebendo que os caras de gravadoras queriam uma boneca, queriam mudar as coisas que eu fazia. Não soube fazer o jogo desses caras, e esses caras não me deram nada. Acho que no Brasil os artistas são coniventes com isso. Ficam em seus pedestais, "eu sou um Deus e o resto que se dane'. Só estar na resistência é um puta orgulho para mim."
Não há traço de ressentimento em seu discurso. "Vivo num país subdesenvolvido, sou mulher, guitarrista, arranjadora, cantora, compositora, tenho certas posturas sexuais. Talvez seja um carma, e sou feliz com esse carma."
"Ecoglitter" é a chegada da veterana roqueira ao universo do pop dançante, a algo "meio Mix Brasil", como ela define.
"Não é novidade. Comecei a fazer música eletrônica em 85, já usava violino elétrico em show. No primeiro disco, fui inventar de fazer aquele repertório meio étnico, ninguém entendeu. Mas era um disco basicamente eletrônico."
"Ecoglitter" gira em torno da faixa "Dinheiro", a constatação irônica de Laura de que "a roda da fortuna tá rodando ligeiro" e de que "na história da riqueza do homem quando um ganha é porque outro perdeu".
Em torno do tema também se desenvolve o show - "uma superprodução feita, como sempre, com quase nenhum dinheiro"-, que brinca com versões distorcidas de "Pecado Capital" ("dinheiro na mão é vendaval"), de Paulinho da Viola, e "Com Que Roupa", de Noel Rosa.
O conceito "Ecoglitter" ela explica de cor: "É a tentativa de encontrar um ponto de equilíbrio vivendo no caos da modernidade, da eletrônica, da cibernética, sem perder contato com elementos naturais, tentar harmonizar tudo".
Há quatro anos gravando e tentando lançar "Ecoglitter", Laura comemora seu acontecimento: "Hoje tenho certeza de que não perco mais minha integridade. Sou uma pessoa de sucesso, não há mais limite para mim".

Show: Laura Finocchiaro Onde: Sesc Pompéia (R. Clélia, 93, tel. 011/3871-7777) Quando: amanhã e quarta, às 21h Quanto: R$ 10


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