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DVDS
CRÍTICA
Diretor assina episódio inicial da série musical; Wenders também participa
Scorsese comanda viagem em busca do espírito do blues
CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Apoiada no prestígio do cineasta Martin Scorsese e em aparições
de vários astros da música, a série
"The Blues" (2003) chega ao formato DVD, um ano depois de ser
exibida na TV paga brasileira.
Aqui o lançamento foi planejado
em duas fases: só quatro dos sete
longas-metragens que a compõem já estão nas lojas.
Produtor-executivo do projeto,
Scorsese também assina o episódio inicial. Em depoimento incluído no DVD, ele conta que
pensou em imprimir à série um
tom semelhante ao de outros documentários que já fez, como "Il
Mio Viaggio in Italia", espécie de
"viagem" analítica pelos filmes
italianos que o influenciaram.
Para mergulhar no universo do
blues (gênero que serve de matriz
para toda a música negra norte-americana do século 20), Scorsese
preferiu dividir a tarefa. Entregou
os episódios restantes a seis cineastas que, como ele, têm uma
relação próxima com a música.
Quem espera encontrar algo
mais convencional, na linha da série correlata de Ken Burns
("Jazz", 2001), pode estranhar.
Além de não narrar a história do
blues de maneira cronológica, a
série inclui até episódios que recorrem à ficção.
"Talvez, com os sete filmes reunidos, você consiga uma imagem
melhor da essência do blues. Você
precisa sentir o espírito da música, em vez de só exibir fatos", justifica Scorsese.
O primeiro episódio, "Feel Like
Going Home", é o mais ambicioso. A câmera de Scorsese acompanha o bluesman Corey Harris em
uma singela peregrinação por cidades do delta do rio Mississipi,
no sul dos EUA. Depois de tocar
com carismáticos veteranos do
gênero, como Willie King, Otha
Turner e Taj Mahal, Harris segue
para Mali, na África Ocidental.
Ali, o peregrino transforma-se
em pesquisador: encontra semelhanças musicais que revelam a
ancestralidade africana do blues.
Em "The Soul of a Man", Wim
Wenders optou por um viés bem
pessoal. Misturando fotos e filmes
antigos com cenas ficcionais, recupera as histórias de seus músicos favoritos: Blind Willie Johnson, Skip James e J. B. Lenoir.
"Warming by the Devil's Fire",
de Charles Burnett, é o episódio
que mais dá espaço à ficção. O
enredo um garoto é introduzido
ao universo da música negra norte-americana por seu tio "bon vivant" serve de artifício narrativo
para que o cineasta recupere imagens e obras de vários bluesmen
hoje quase esquecidos.
Já o inglês Mike Figgis reuniu
medalhões do jazz e do pop de seu
país, para lembrar como o blues
foi redescoberto na Inglaterra dos
anos 50 e devolvido aos EUA sob
a forma de rock. Que venham logo os restantes.
Carlos Calado é jornalista e crítico musical, autor do livro "A Divina Comédia dos Mutantes", entre outros
The Blues
Direção: Martin Scorsese, Wim
Wenders, Charles Burnett, Mike Figgis
Distribuição: Focus Filmes (R$ 150, a
caixa com quatro DVDs)
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