São Paulo, segunda-feira, 14 de maio de 2007

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Deu na "New Yorker"

Paulo Coelho, 59, ganha perfil elogioso de oito páginas na prestigiosa revista americana e conta que, a princípio, relutou, porque "ninguém é normal por 24 horas seguidas"

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Paulo Coelho é o personagem da hora. Protagonizou a única manifestação de um escritor brasileiro contra a proibição da biografia "Roberto Carlos em Detalhes". Estréia hoje na Globo na pele do mago Simon da novela "Eterna Magia". E ganhou, há uma semana, um elogioso perfil de oito páginas na "New Yorker", a prestigiosa revista americana, que chamou sua escrita de "simples e agradável de ler". Leia a seguir trechos da entrevista que o autor deu à Folha, por e-mail, durante viagem que fez na semana passada à Alemanha.  

FOLHA - Como reagiu ao convite para o perfil na "New Yorker"?
PAULO COELHO
- [Inicialmente] eu relutei. Isso significaria ficar com uma jornalista durante dez dias, vendo tudo da minha vida. Ninguém é absolutamente normal por 24 horas seguidas, imagine por dez dias! Christina, minha mulher, insistiu, disse que eu precisava aceitar, e eu segui seu conselho. Durante dez dias, a jornalista Dana Goodyear seguiu meus passos, conversou com amigos, com editores, com críticos etc. Por sinal, as duas únicas críticas negativas que aparecem na revista vêm de brasileiros...

FOLHA - O que achou do resultado?
COELHO
- Eu achava que já não existia mais esse jornalismo em que um tempo imenso é investido para uma matéria de oito páginas. Dana não utilizou o gravador, mas escreveu aproximadamente 20 blocos durante a viagem que fizemos. A revista não se satisfez quando a minha agente informou que eu estava próximo dos 100 milhões de livros vendidos e, pelo que entendi, mandou fazer uma auditoria. Chegou a 92 milhões. Não houve "off" em nenhum momento. Tanto eu como a jornalista mantivemos nossas posturas, educados, mas profissionais -um não virou amigo do outro. O processo de checagem de tudo demorou mais de duas semanas. Ligaram para todo mundo, me perguntavam detalhes de que nem me lembrava ("É verdade que comeram penne al pesto no tal dia?"). Depois de ler a matéria, enviei um e-mail para Dana cumprimentando pelo seu livro de poemas. Achei que qualquer passo antes poderia ser mal interpretado.

FOLHA - Qual o peso do reconhecimento da revista para o senhor?
COELHO
- Na imprensa americana, é a bíblia dos intelectuais. A "New Yorker" não aceita press-release, contato com assessores de imprensa etc. Eles dizem o que querem fazer e fazem, com ou sem a autorização do entrevistado. Checam tudo, mas fazem. Para mim, foi uma surpresa, inclusive por ter chamada de capa, junto do Barack Obama, o pré-candidato democrata à Presidência da República. Mas, embora a matéria seja positiva, não creio que vá interferir nas vendas nos EUA.

FOLHA - O que o senhor acha de avaliações presentes na reportagem como "narrativa esotérica yuppie", do professor de história Mário Maestri, e "estilo não-literário, com uma mensagem que confirma o senso comum", de Manuel da Costa Pinto, crítico da Folha?
COELHO
- [A primeira avaliação] é a opinião de um crítico brasileiro. Interessante como é que bolam essas classificações! Pelo menos ele teve a alegria de ver seu nome impresso na revista, o que não é pouco. [Quanto à segunda] acho a frase um pouco confusa. Mas acabamos de inaugurar um novo estilo, o "estilo não-literário" na literatura. Em breve teremos teses sendo escritas a respeito.

FOLHA - Como anda a sua biografia assinada pelo Fernando Morais?
COELHO
- Fernando não me conta absolutamente nada. A única coisa que sei é que irá entregar a biografia no dia 30 de maio. Empenhei minha palavra junto a várias editoras que elas terão o manuscrito nesta data. Por causa da "New Yorker", cogitou-se fazer uma biografia minha nos EUA. Quando esta conversa veio à tona (por sinal, tenho várias biografias não-autorizadas em muitos países, baseadas em entrevistas que dei pelo mundo), eu me comprometi oficialmente com a Harper Collins, que aceitou minha palavra. Afirmei, o que é verdade, que Fernando tem um material único, a que ninguém até hoje teve acesso. Abri absolutamente todos os meus arquivos para ele. Diz Jesus Cristo: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". Penso que Fernando me conhece melhor do que eu mesmo, que não fico pensando no passado. Lerei minha biografia e penso que me surpreenderei muito. Minha mulher está um pouco assustada. Mas não vejo por que razão. Afinal de contas, alguém iria contar tudo algum dia.

FOLHA - Qual será seu papel em "Eterna Magia"? O que o instigou?
COELHO
- Uma carta da autora [Elizabeth Jhin], em que solicitava meu apoio e se comprometia a tratar seriamente o tema da magia. Já estive em momentos semelhantes, em que precisava de apoio, e ele nunca me faltou. Farei o mago Simon, a encarnação do deus Dragda, que vem aconselhar as valentinas, espécie de feiticeiras celtas que reencarnam no Brasil.

FOLHA - Em agosto o senhor comemora 60 anos. É uma data especial?
COELHO
- Como não olho o passado, não vou fazer nada. Queriam dar uma festa em Frankfurt, na Feira do Livro, porque também se festejam 20 anos do lançamento do "Diário de um Mago". Alguns editores pensaram em fazer estandes especiais em livrarias no mundo todo. Ótimas idéias, mas prefiro comemorar outras coisas, como ver minha mulher dormindo tranqüila, aqui ao meu lado, neste lindo hotel em Kronberg, em uma noite de chuva.


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