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Deu na "New Yorker"
Paulo Coelho, 59, ganha perfil elogioso de oito páginas na prestigiosa revista americana e conta que, a princípio, relutou, porque "ninguém é normal por 24 horas seguidas"
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Paulo Coelho é o personagem da hora. Protagonizou a
única manifestação de um escritor brasileiro contra a proibição da biografia "Roberto
Carlos em Detalhes". Estréia
hoje na Globo na pele do mago
Simon da novela "Eterna Magia". E ganhou, há uma semana,
um elogioso perfil de oito páginas na "New Yorker", a prestigiosa revista americana, que
chamou sua escrita de "simples
e agradável de ler". Leia a seguir
trechos da entrevista que o autor deu à Folha, por e-mail, durante viagem que fez na semana passada à Alemanha.
FOLHA - Como reagiu ao convite
para o perfil na "New Yorker"?
PAULO COELHO - [Inicialmente]
eu relutei. Isso significaria ficar
com uma jornalista durante
dez dias, vendo tudo da minha
vida. Ninguém é absolutamente normal por 24 horas seguidas, imagine por dez dias!
Christina, minha mulher, insistiu, disse que eu precisava aceitar, e eu segui seu conselho. Durante dez dias, a jornalista Dana Goodyear seguiu meus passos, conversou com amigos,
com editores, com críticos etc.
Por sinal, as duas únicas críticas negativas que aparecem na
revista vêm de brasileiros...
FOLHA - O que achou do resultado?
COELHO - Eu achava que já não
existia mais esse jornalismo em
que um tempo imenso é investido para uma matéria de oito
páginas. Dana não utilizou o
gravador, mas escreveu aproximadamente 20 blocos durante
a viagem que fizemos. A revista
não se satisfez quando a minha
agente informou que eu estava
próximo dos 100 milhões de livros vendidos e, pelo que entendi, mandou fazer uma auditoria. Chegou a 92 milhões. Não
houve "off" em nenhum momento. Tanto eu como a jornalista mantivemos nossas posturas, educados, mas profissionais -um não virou amigo do
outro. O processo de checagem
de tudo demorou mais de duas
semanas. Ligaram para todo
mundo, me perguntavam detalhes de que nem me lembrava
("É verdade que comeram penne al pesto no tal dia?"). Depois
de ler a matéria, enviei um e-mail para Dana cumprimentando pelo seu livro de poemas.
Achei que qualquer passo antes
poderia ser mal interpretado.
FOLHA - Qual o peso do reconhecimento da revista para o senhor?
COELHO - Na imprensa americana, é a bíblia dos intelectuais.
A "New Yorker" não aceita
press-release, contato com assessores de imprensa etc. Eles
dizem o que querem fazer e fazem, com ou sem a autorização
do entrevistado. Checam tudo,
mas fazem. Para mim, foi uma
surpresa, inclusive por ter chamada de capa, junto do Barack
Obama, o pré-candidato democrata à Presidência da República. Mas, embora a matéria seja
positiva, não creio que vá interferir nas vendas nos EUA.
FOLHA - O que o senhor acha de
avaliações presentes na reportagem
como "narrativa esotérica yuppie",
do professor de história Mário
Maestri, e "estilo não-literário, com
uma mensagem que confirma o
senso comum", de Manuel da Costa
Pinto, crítico da Folha?
COELHO - [A primeira avaliação] é a opinião de um crítico
brasileiro. Interessante como é
que bolam essas classificações!
Pelo menos ele teve a alegria de
ver seu nome impresso na revista, o que não é pouco. [Quanto à segunda] acho a frase um
pouco confusa. Mas acabamos
de inaugurar um novo estilo, o
"estilo não-literário" na literatura. Em breve teremos teses
sendo escritas a respeito.
FOLHA - Como anda a sua biografia
assinada pelo Fernando Morais?
COELHO - Fernando não me
conta absolutamente nada. A
única coisa que sei é que irá entregar a biografia no dia 30 de
maio. Empenhei minha palavra
junto a várias editoras que elas
terão o manuscrito nesta data.
Por causa da "New Yorker", cogitou-se fazer uma biografia
minha nos EUA. Quando esta
conversa veio à tona (por sinal,
tenho várias biografias não-autorizadas em muitos países, baseadas em entrevistas que dei
pelo mundo), eu me comprometi oficialmente com a Harper Collins, que aceitou minha
palavra. Afirmei, o que é verdade, que Fernando tem um material único, a que ninguém até
hoje teve acesso. Abri absolutamente todos os meus arquivos
para ele. Diz Jesus Cristo: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". Penso que
Fernando me conhece melhor
do que eu mesmo, que não fico
pensando no passado. Lerei
minha biografia e penso que
me surpreenderei muito. Minha mulher está um pouco assustada. Mas não vejo por que
razão. Afinal de contas, alguém
iria contar tudo algum dia.
FOLHA - Qual será seu papel em
"Eterna Magia"? O que o instigou?
COELHO - Uma carta da autora
[Elizabeth Jhin], em que solicitava meu apoio e se comprometia a tratar seriamente o tema
da magia. Já estive em momentos semelhantes, em que precisava de apoio, e ele nunca me
faltou. Farei o mago Simon, a
encarnação do deus Dragda,
que vem aconselhar as valentinas, espécie de feiticeiras celtas
que reencarnam no Brasil.
FOLHA - Em agosto o senhor comemora 60 anos. É uma data especial?
COELHO - Como não olho o passado, não vou fazer nada. Queriam dar uma festa em Frankfurt, na Feira do Livro, porque
também se festejam 20 anos do
lançamento do "Diário de um
Mago". Alguns editores pensaram em fazer estandes especiais em livrarias no mundo todo. Ótimas idéias, mas prefiro
comemorar outras coisas, como ver minha mulher dormindo tranqüila, aqui ao meu lado,
neste lindo hotel em Kronberg,
em uma noite de chuva.
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