São Paulo, segunda-feira, 14 de maio de 2007

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Crítica/cinema/"Lady Vingança"

Coreano cria montanha-russa de emoções

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Exibido no Festival de Veneza de 2005, "Lady Vingança", do sul-coreano Park Chan-wook, procura um espaço no circuito brasileiro há dois anos. Só foi encontrá-lo agora, quando "Old Boy", do mesmo diretor, voltou a ocupar a mídia, acusado de ter inspirado o massacre de Virgínia, nos Estados Unidos.
"Lady Vingança" encerra a trilogia que começou com "Sympathy for Mr. Vengeance" (2002), inédito no Brasil, e teve seu ápice de popularidade com "Old Boy", que, em 2004, recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes.
Se o lançamento é oportunismo ou coincidência, não importa. O velho problema da relação entre a violência imaginária e a violência real, em contextos como esse, sempre ganha contornos mesquinhos, quando não perversos.
Evidentemente, "OldBoy" só foi "acusado" de incitar a violência por ser uma produção coreana, da mesma nacionalidade do responsável pelo massacre, ignorando-se o imenso portfólio de imagens violentas do próprio cinema americano. O cinema de Park Chan-wook é um cinema de excessos.
Seus filmes submetem o espectador a uma imensa quantidade de estímulos visuais e sonoros que transformam a experiência da sala escura em uma espécie de montanha-russa de estados emocionais.
Em segundos, o riso se transforma em repulsa, a repulsa em tristeza, e a tristeza em riso novamente. O diretor se faz valer desse fluxo como um elemento de exacerbação da linguagem, criando uma paisagem fantasiosa em que os desejos humanos mais mesquinhos e sublimes se realizam com avidez.
Não há nenhuma ambição de um registro realista: tudo é fantasia, tudo remete à imagem. Trata-se, portanto, de um cinema irregular por natureza. "Lady Vingança" é o mais estilizado dos três filmes e até certo ponto o menos violento, pelo menos graficamente. Mas não em intensidade. Se Park Chan-wook em vários pontos se aproxima de Quentin Tarantino principalmente na violência estilizada e no humor negro, a diferença está no aspecto trágico de seus heróis.
Nesse ponto, a poderosa Noiva de "Kill Bill", de Tarantino, e a aparentemente ingênua Geum Ja-lee, protagonista de "Lady Vingança", estão separadas por um oceano de distância. "Lady Vingança" se dá ao luxo de ser mais lírico e, ocasionalmente, mais brutal que "Old Boy". A trajetória de Geum Ja-lee (a ótima Yeong-ae Lee), jovem de rosto angelical injustamente acusada pelo seqüestro e morte de uma criança, é pontuada por uma ambigüidade moral digna de Fritz Lang, mas que avança para um incômodo final redentor, mais apelativo do que os desfechos de "Mr Vengeance" e "Old Boy".
É inegável, no entanto, que Park Chan-Wook é um diretor com grandes qualidades. Podem até rejeitar seu estilo de tintas carregadas e traços fortes, mas ele imprime uma marca intensa, algo cada vez mais escasso no panorama pasteurizado do cinema.


LADY VINGANÇA
Direção:
Park Chan-wook
Produção: Coréia do Sul, 2005
Com: Yeong-ae Lee, Choi Min-sik
Quando: em cartaz no Cine Tam/Sala Milão, Frei Caneca Unibanco Arteplex e HSBC Belas Artes
Avaliação: bom


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