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Crítica/cinema/"Lady Vingança"
Coreano cria montanha-russa de emoções
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Exibido no Festival de
Veneza de 2005, "Lady
Vingança", do sul-coreano Park Chan-wook, procura um espaço no circuito brasileiro há dois anos.
Só foi encontrá-lo agora,
quando "Old Boy", do mesmo
diretor, voltou a ocupar a mídia, acusado de ter inspirado o
massacre de Virgínia, nos Estados Unidos.
"Lady Vingança" encerra a
trilogia que começou com
"Sympathy for Mr. Vengeance"
(2002), inédito no Brasil, e teve
seu ápice de popularidade com
"Old Boy", que, em 2004, recebeu o Prêmio Especial do Júri
no Festival de Cannes.
Se o lançamento é oportunismo ou coincidência, não importa. O velho problema da relação entre a violência imaginária e a violência real, em contextos como esse, sempre ganha contornos mesquinhos,
quando não perversos.
Evidentemente, "OldBoy" só
foi "acusado" de incitar a violência por ser uma produção
coreana, da mesma nacionalidade do responsável pelo massacre, ignorando-se o imenso
portfólio de imagens violentas
do próprio cinema americano.
O cinema de Park Chan-wook é um cinema de excessos.
Seus filmes submetem o espectador a uma imensa quantidade
de estímulos visuais e sonoros
que transformam a experiência
da sala escura em uma espécie
de montanha-russa de estados
emocionais.
Em segundos, o riso se transforma em repulsa, a repulsa em
tristeza, e a tristeza em riso novamente. O diretor se faz valer
desse fluxo como um elemento
de exacerbação da linguagem,
criando uma paisagem fantasiosa em que os desejos humanos mais mesquinhos e sublimes se realizam com avidez.
Não há nenhuma ambição de
um registro realista: tudo é fantasia, tudo remete à imagem.
Trata-se, portanto, de um cinema irregular por natureza.
"Lady Vingança" é o mais estilizado dos três filmes e até certo
ponto o menos violento, pelo
menos graficamente. Mas não
em intensidade. Se Park Chan-wook em vários pontos se aproxima de Quentin Tarantino
principalmente na violência estilizada e no humor negro, a diferença está no aspecto trágico
de seus heróis.
Nesse ponto, a poderosa Noiva de "Kill Bill", de Tarantino, e
a aparentemente ingênua
Geum Ja-lee, protagonista de
"Lady Vingança", estão separadas por um oceano de distância.
"Lady Vingança" se dá ao luxo de ser mais lírico e, ocasionalmente, mais brutal que "Old
Boy". A trajetória de Geum Ja-lee (a ótima Yeong-ae Lee), jovem de rosto angelical injustamente acusada pelo seqüestro e
morte de uma criança, é pontuada por uma ambigüidade
moral digna de Fritz Lang, mas
que avança para um incômodo
final redentor, mais apelativo
do que os desfechos de "Mr
Vengeance" e "Old Boy".
É inegável, no entanto, que
Park Chan-Wook é um diretor
com grandes qualidades. Podem até rejeitar seu estilo de
tintas carregadas e traços fortes, mas ele imprime uma marca intensa, algo cada vez mais
escasso no panorama pasteurizado do cinema.
LADY VINGANÇA
Direção: Park Chan-wook
Produção: Coréia do Sul, 2005
Com: Yeong-ae Lee, Choi Min-sik
Quando: em cartaz no Cine Tam/Sala
Milão, Frei Caneca Unibanco Arteplex e
HSBC Belas Artes
Avaliação: bom
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