São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 2005

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Fashion Rio 2006 começa no MAM comemorando a retomada de relevância da moda da cidade

DNA carioca

Daniel Pinheiro
A modelo Fabiana Capra com look da Maria Bonita, que abre hoje o Fashion Rio, no MAM


ERIKA PALOMINO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

A 20ª edição da semana de lançamentos do Rio entra em cena a partir de hoje. É o Fashion Rio de verão 2006, que ocupa o Museu de Arte Moderna até domingo, comemorando a retomada de relevância da moda carioca e, como denominador, um certo orgulho do estilo dos habitantes da Cidade Maravilhosa inserido no vestir.
Claro, o verão é a estação nobre do Brasil, e desfilam 36 marcas no evento, em sua maior e mais cara versão, custando R$ 5 milhões. Mais do que números crescentes, percebe-se, desta vez, um status que ganha território na praia, nos jantares fechados, nas festas, nas páginas das revistas e nas conversas em todo o país. O Rio volta a criar moda e modismos.
Mas existe um DNA carioca? É realmente necessária uma outra semana de moda? A diretora do Fashion Rio, Eloysa Simão, acredita que sim e reforça o coro das estatísticas: "Não estamos preocupados só com a imagem das marcas, mas com o desenvolvimento e a capacidade desta indústria de gerar empregos". A empresária comemora um crescimento de 15% por edição em volumes de negócios, espaço ocupado e mídia espontânea. "A economia do país não cresce nessa proporção", festeja.
Aproveitando o verão, a atual temporada do Fashion Rio reforça mesmo sua identidade. Regina Lundgren, pernambucana com dez anos de Rio, dona do espaço que leva seu nome e que reúne marcas de luxo num casarão na av. Vieira Souto, de frente para o mar, tem em sua loja um lava-pé para quem vai direto da praia e está construindo um bicicletário. "É uma questão democrática e de comportamento." Ela acha que, no Rio, as pessoas se vestem para si mesmas. "Não há compromisso social, como em SP".
"Os paulistas se vestem fantasticamente bem. Já, no Rio, se você estiver bem-vestido, perguntam: "Onde você vai assim?'", diz Kátia Wille, da Zigfreda, um dos hypes da temporada. "Os cariocas são desleixados, mas com estilo", arrisca a designer, sobre essa nonchalance que o mundo todo tenta adquirir.
"Carioca parece que não está nem aí, mas cuida para ter essa aparência desleixada", confirma Luciano Canale, estilista da Sta. Ephigênia. Ele aponta as festas particulares, que fazem a alma do Rio, o foco principal do vestir carioca. "É lá que as pessoas ousam mais", diz. Verdade.
Se, por conta disso, a cultura da padronização das grifes não decola, crescem marcas que proporcionam diferenciação, como a Maria Bonita. Desenhada por Danielle Jensen, a grife se tornou uma unanimidade desse novo momento do Rio. "Sou contra falar "estilo paulista" ou "estilo carioca". Acho que dá para falar que o clima favorece roupas mais leves, e que talvez exista uma casualidade maior por ter praia", reclama. "O Rio é mais colorido", diz Isabela Capeto, carioca que trocou o Fashion Rio pela São Paulo Fashion Week e faz sucesso nas duas cidades. "As pessoas são largadas por causa da praia e usam menos jeans do que em SP", analisa.
A praia é mesmo determinante na personalidade do lugar e em seu estilo de vestir, e, nesta edição, o Fashion Rio tem de volta as marcas de beachwear, que desfilam somente no meio do ano. O clima também é decisivo na escolha dos materiais. O algodão e o linho são os preferidos, juntamente com a seda. "Nem pensar em sintético", diz Isabela Capeto. "O tecido natural é mais agradável por ser um lugar mais quente", confirma Jensen. No mesmo caminho, todos apontam a sandália rasteira como item oficial do guarda-roupa carioca. O salto alto, oficial entre as paulistanas, ganha na cidade contornos duvidosos, quando mal-usados. "Mulher carioca não sabe encarar o salto alto, usa na hora errada, fica montada demais", diz Kátia Wille.
"Uma das maneiras de ver o Brasil é ver o Rio, cuja identidade é a alma do brasileiro", avalia Carlos Pazetto, diretor de desfiles que atua nas duas cidades. "No Rio de Janeiro, a roupa é menos importante que a atitude, seu produto de exportação."

A jornalista Erika Palomino viaja a convite do Fashion Rio

Colaboraram André do Val e Hermano Silva (reportagem), José Camarano e Fabiano Soares (produção das fotos), colaboração para a Folha


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