São Paulo, domingo, 14 de junho de 2009

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BIA ABRAMO

As armadilhas da concorrência


"A Fazenda" repete em tom mais precário a mesma insignificância do "Big Brother Brasil"


A RECORD investiu pesado em "A Fazenda", reality show semelhante ao "Big Brother Brasil" que troca a malemolência da piscina no verão carioca pelos rigores dos trabalhos rurais no inverno paulista. Ah, sim, e em vez dos anônimos se tornarem celebridades, como no programa concorrente, seria a vez de celebridades se mostrarem "comuns" no trato com a terra, o tempo e os animais.
Fez uma insistente campanha de teasers antes da estreia, em que as celebridades seriam "flagradas" à distância, em situações comuns, na coreografia clássica daqueles que se escondem do assédio da imprensa e dos coreógrafos -óculos escuros, cabeça baixa, jornal tentando ocultar o rosto da mira dos fotógrafos. A locução concluía algo como "não dá para identificar, só se sabe que é alguém famoso".
A tática foi melhor do que, digamos, o resultado: "alguma fama" é o máximo que dá para atribuir ao time que se reuniu em "A Fazenda". Como a "Casa dos Artistas" do SBT já tinha revelado anos atrás, e programas como "Superpop" e revistas muito ilustradas o fazem todos os dias, o mundo dos famosos tem uma hierarquia bastante complexa, quase que um sistema de castas, no qual há lugar para muita, muita gente.
Uma das grandes armadilhas de estabelecer uma concorrência pela semelhança, como tem feito a Record com a Globo de uns anos para cá, consiste em oferecer mais ou menos a mesma coisa em tom tão mais precário que soa a caricatura.
Os anônimos do "BBB" se tornam famosos em dois minutos; já as celebridades de "A Fazenda", com seus créditos do tipo "irmão/irmã de...", "namorada de..." e verbos no passado para definir o que fazem (trabalhou em, posou, fotografou etc.), tornam-se objeto de perplexidade.
Ainda que esse lado da caricatura tenha conferido um ar "camp" ao programa -a estreia foi acompanhada com enorme interesse no Twitter, por exemplo-, não deve ser esse exatamente o maior objetivo da Record.
A segunda e mais arriscada armadilha da concorrência é criar um programa só para ocupar espaço -e não saber direito o que fazer com isso. O apresentador Britto Jr., ao se defender de críticas feitas por Boninho (via Twitter), andou declarando que não é um "animador de auditório". A comparação é com o estilo de Pedro Bial, estrela do programa dirigido por Boninho. Mas, se não se trata de insuflar a audiência a dar importância a uma série de acontecimentos desimportantes, irrelevantes, insignificantes, do que se trata este ou qualquer outro reality show, afinal?


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