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ANÁLISE
Modelo de televisão brasileira está esgotado
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
No último dia 6 de julho,
uma comissão representando os participantes do Seminário
de Valorização da Produção Cultural Brasileira, promovido pela
Rede Globo, na PUC-SP, entregou, nas mãos do presidente Lula,
um documento contendo conclusões dos debates.
O texto, de cerca de 20 laudas,
discute temas de enorme relevância para o país. Os signatários, em
sua maioria profissionais da
emissora e cineastas, mas também funcionários governamentais, clamam por medidas que defendam a produção nacional da
concorrência estrangeira, que impeçam empresas de telefonia de
produzir e difundir conteúdos,
que regulamentem a internet, que
tomem logo as decisões necessárias à implantação da TV digital,
entre outras propostas.
É comum que empresas de telecomunicação se manifestem contra medidas regulatórias. A intenção de diversos governos de introduzir mecanismos de controle de
qualidade, classificações de horário, quotas de programação nacional, regional ou de produção
independente, é, em geral, rechaçada pelas emissoras de TV como
ingerência externa e indevida.
Nesse sentido, parece salutar e
sintomático que um documento
que não representa a Rede Globo,
mas está certamente em sintonia
com os anseios da emissora, reconheça justamente a necessidade
de regulamentar o setor.
Desde o início desse governo,
fala-se em ajuda governamental
às empresas de comunicação. A
dificuldade tem sido definir formas aceitáveis de investimento
público. Divergências entre as
emissoras são fator complicador.
O setor, especialmente a emissora líder, continua carente. Enquanto não equaciona o problema, o governo improvisa, injetando recursos via merchandising de
estatais, como a Petrobras, em novela. A ocasião é especialmente
propícia para que se repense a estrutura da TV brasileira. O modelo em vigor -inspirado na Hollywood dos anos 40 e adequado aos
anos de autoritarismo- está esgotado.
A complexidade do problema é
enorme. Os interesses em jogo
também. O setor cultural é estratégico e merece crédito. Cabe ao
governo aproveitar o momento
privilegiado para negociar medidas de desconcentração que prezem e estimulem a criatividade
que celebrizou a TV brasileira
aqui e no mundo.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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