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"Senhora Macbeth" investiga sede de poder
Peça que estréia no Sesc Vila Mariana reforça personagem antes secundário
Montagem da argentina Giselda Gambaro mistura tragédia e comédia, tem Marília Gabriela no elenco e cenário de J.C. Serroni
GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Senhora Macbeth é apenas
uma esposa devota ao marido, e
essa é uma leitura mais plausível para Antonio Abujamra,
tradutor e diretor de "Senhora
Macbeth", da argentina Griselda Gambaro -que estréia hoje
para o público, no Sesc Vila Mariana. Já pelas impressões de
Marília Gabriela, que assume o
papel da personagem-título na
montagem, "ela é uma mulher
de alma quase masculina, com
sede de poder".
São análises possíveis, entre
tantas outras, para uma personagem que exige leitura demorada, motivo de diversas teses
literárias e psicanalíticas. Seu
papel, antes secundário em
"Macbeth", uma das obras monumentais de Shakespeare, de
onde foi retirada por Griselda
Gambaro, ganha mais luz e
tempo sobre o palco. Em "Senhora Macbeth" (2004), ela se
torna o pivô de uma história
sangrenta, ainda que higienizada pelas raízes de sua melhor
ferramenta de jogo, a palavra.
Um símbolo, enfim, do "poder do travesseiro", como define Marília, redesenhando a
manipulação dissimulada que
exerce a Senhora Macbeth sobre seu marido em instância
doméstica. Quem quer o poder
é ela, aparentemente. Mas por
ser mulher numa época em que
homens ditam as regras, a personagem só pode conquistá-lo
pelas mãos do macho -"macho" no sentido mais estrito da
palavra, "porque no fundo, ela
sente um imenso tesão por
aquele militar que vai à luta",
diz Marília.
Na peça, essas possibilidades
de perfil chegam ao público por
meio de diálogos de Senhora
Macbeth, em sua casa à espera
do marido, com três espécies de
servas -no original de Shakespeare, três irmãs bruxas com o
dom de prever o futuro-interpretadas por Selma Egrei, Natália Correa e Danielle Farnezi.
As caracterizações têm algo
cômico em contrapeso ao tom
trágico shakespeariano. Em determinado momento, Senhora
Macbeth é definida por uma
das bruxas como "um travesti"
ou "uma criatura que não esconde a sua alma".
A combinação entre tragédia
e comédia trava outras batalhas
no texto, sublinhadas pela co-direção de Hugo Rodas, que é
mais propenso à comicidade,
ao contrário de Abujamra.
"Uma hora eu enlouqueci por
ter que atuar nos dois estilos e
comecei a dizer, "eu não vou
conseguir, eu não sei se é comédia, se é tragédia", e o Abujamra
falou que era daquele jeito mesmo, uma mistura", diz Marília
Gabriela, que chega a sua terceira atuação no teatro (depois
de "Esperando Beckett" e "A
Peça sobre o Bebê").
Hugo Rodas também faz o figurino, moldando-o a sobriedade operística presente também
na trilha de André Abujamra e
no cenário de J.C. Serroni.
SENHORA MACBETH
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas,
141, SP, tel. 0/xx/11/5080-3000)
Quando: estréia hoje; sex. e sáb., às
21h; dom., às 18h
Quanto: R$ 10 a R$ 30
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