São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2008

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A bela e as feras

Carla Bruni lança disco e enfrenta boicote por ser mulher de Sarkozy; apesar disso, 500 mil ouviram canções na web

Yannis Behrakis - 22.jun.08/Reuters
Carla Bruni sofre boicote de crítica e público com novo disco

GABRIELA LONGMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

"Comme si de Rien n'Était" (como se nada tivesse acontecido). Foi com o próprio título do novo disco de Carla Bruni, 40, que o jornal francês "Le Monde" comentou o silêncio de sites e blogs de música sobre o lançamento do álbum.
O disco está disponibilizado na internet desde a última quarta-feira (no site oficial da cantora www.carlabruni.com, o cadastro dá direito a duas horas de audição) e chegou às lojas na sexta, rodeado de polêmica.
"Talvez seja o melhor álbum já gravado pela esposa de um chefe de Estado", comentou com ironia um jornalista britânico do "The Times". "Apaixonado, mas não apaixonante", definiu o "Monde".
Na internet, sites como Pitchforkmedia (www.pitchforkmedia.com), Stereogum (www.stereogum.com) e La Blogothèque (www.blogotheque.net), tidos como referência junto à mídia especializada, não deram nem uma linha sobre o CD da atual primeira-dama francesa.
O diagnóstico é claro: Bruni parece ter perdido o respeito de boa parte da audiência depois dos passeios na Eurodisney e do casamento com Nicolas Sarkozy. No site Facebook (equivalente ao Orkut; mais popular na França) usuários criaram comunidades como: "Estou doando meus discos da Carla Bruni; alguém se interessa?" ou "Por um boicote imediato de Carla Bruni".

Barriga
Mas, se a cantora parece ter perdido a audiência "especializada" do meio musical, sua entrada na esfera política tende a aguçar a curiosidade do grande púbico. Para além dos arranjos e composições, a vida pessoal da primeira-dama parece mais interessante aos olhos do francês médio. "Você está grávida?" é a pergunta feita dia e noite pelos tablóides.
Bruni faz vender, e o sucesso do tema se estende também à imprensa de esquerda. Uma entrevista dada no final de junho ao jornal "Libération" bateu recorde de vendas, apesar das várias críticas dos leitores no site da publicação.
A curiosidade geral tende a se refletir na vendagem do disco. Na internet, o CD foi escutado por cerca de 500 mil pessoas na primeira tarde. No ano passado, a mesma operação para o lançamento de "No Promises", seu álbum anterior, rendeu 15 mil visitas no período equivalente.
De qualquer modo, parece difícil que o disco venha a vender tanto quanto seu primeiro álbum "Quelqu'un m'a Dit" (2003): 1 milhão de cópias, que tornaram a italiana mundialmente conhecida.
Um artigo da "L'Express" sugere que "Carla Bruni estava acostumada a contar suas vendas, mas desta vez terá de medir sua popularidade". Segundo uma pesquisa feita pela revista, 55% dos entrevistados acham que Sarkozy "utiliza a esposa para o fortalecimento de sua imagem pessoal".
Em entrevista, a cantora disse que não esperava que a recepção de seu disco pelo público fosse "apenas musical" e disse estar preparada "para todas as reações".
"É uma coisa contra a qual eu não posso lutar. Eu casei com um homem que é chefe de Estado. Deveria exigir que isso não seja levado em conta? Seria muita pretensão minha", disse ao "Le Figaro".

A mulher dupla
Dez das letras de "Comme si de Rien n'Était" são de autoria de Bruni. O disco contém ainda uma adaptação do romance "A Possibilidade de uma Ilha", do escritor francês Michel Houellebecq, uma transcrição de um lied de Schumann ("Je Suis une Enfant"), um standard em inglês ("You Belong to Me") e "Il Vecchio e il Bambino", do anarquista italiano Francesco Guccini. Segundo a cantora, as letras foram escritas antes de seu encontro com Sarkozy, ainda que algumas tenham sofrido modificações.
Embora insista no fato de que o casamento não interfere em sua atividade profissional e que é possível separar suas "duas funções" - cantora e primeira-dama-, o fato é que Carla Bruni não fará shows, turnês nem sessões de autógrafos. A promoção do disco ficará restrita à ida da cantora aos jornais, rádios e, sobretudo, à televisão.
"Não posso mobilizar toda uma infra-estrutura de segurança. Para mim seria chocante. Voltarei a fazer shows assim que meu marido não for mais o presidente da República."


Com agências internacionais


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