São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Selton Mello "nasce" melancólico

Estreando na direção com "Feliz Natal", o ator lança mão da "data obrigatória" para tratar de reencontro familiar

Na exibição do filme em Paulínia, o novo diretor pediu aos seus fãs que esquecessem seus trabalhos na frente das câmeras


SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A PAULÍNIA (SP)

Uma legião de fãs do ator Selton Mello, 35, lotou o Teatro Municipal de Paulínia (1.350 lugares), na noite da última sexta, para conferir "Feliz Natal", sua estréia como diretor de longas.
"As pessoas não me conhecem, na verdade. Conhecem meus personagens", diz Mello. Por isso ele pediu à platéia: "Tentem esquecer o que apresentei nesses anos todos como ator. Estou nascendo hoje".
O nascimento do cineasta Selton Mello foi coroado, no sábado, com o troféu de melhor diretor. "Feliz Natal" disputou o 1º Festival Paulínia de Cinema com outros seis longas de ficção (leia texto ao lado).
Na sexta, 30 pessoas da equipe que realizou "Feliz Natal" (com R$ 2,4 milhões de orçamento) subiram ao palco com Mello, para apresentar o filme. Entre elas, o diretor destacou a atriz Darlene Glória (de "Toda Nudez Será Castigada").
"Minha Gena Rowlands, minha Bette Davis, minha musa, voltando ao lugar de onde nunca devia ter saído -o centro de uma tela de cinema. Darlene Glória é a alma do meu filme."
Mércia, a personagem dela em "Feliz Natal", tem a alma fraturada. Mãe de dois filhos, separada do marido (Lúcio Mauro), vive escanteada na casa da nora (Graziella Moretto).
No Natal da família que o filme acompanha, Caio (Leonardo Medeiros), o caçula de Mércia, retorna, após quatro anos ausente e com as emoções feridas por um episódio trágico. É no choque do reencontro de Caio com os parentes e amigos que "Feliz Natal" se concentra.
"O final de ano para mim é sempre uma melancolia sem precedentes", diz Mello, que aniversaria em 30 de dezembro. "O Natal é uma data obrigatória, na qual você tem que encontrar pessoas que não quer. Num deles, me ocorreu fazer um filme em que o Natal desse o tom", disse.
Com poucos diálogos e uma câmera (de Lula Carvalho) atenta aos olhares e aos pequenos gestos dos atores, o filme revisita uma linhagem de autores de cinema que Mello admira, como o norte-americano John Cassavetes e o brasileiro Luiz Fernando Carvalho, que o dirigiu em "Lavoura Arcaica", adaptação do livro homônimo de Raduan Nassar.
Foi citando outra obra da dupla Carvalho/Nassar que Selton Mello entregou seu longa ao público: "O filme se completa agora, com o olhar de vocês. "Que seus olhos sejam atendidos" [título de um documentário anterior à "Lavoura Arcaica']".

Pronto
Mello diz sentir-se "pronto" para também atuar em seu segundo filme como diretor. Em "Feliz Natal", ele assina também o roteiro (com Marcelo Vindicatto), a montagem (com Marília Moraes) e a produção (com Vânia Catani). O filme tem estréia nos cinemas prevista para 21 de novembro.
No próximo longa, no entanto, Mello volta a ser "apenas" ator. A partir do mês que vem, ele interpretará o eletricista Jean Charles de Menezes, assassinado pela polícia inglesa numa estação de metrô em Londres, em 2005.
Com produção de Stephen Frears (diretor de "Minha Adorável Lavanderia") e parte dos R$ 8 milhões de seu orçamento subsidiada pelo governo britânico, "Jean Charles" será "um filme sobre a diáspora brasileira", segundo seu diretor, Henrique Goldman.



Texto Anterior: HQ homenageia Japão além do mangá
Próximo Texto: Zé do Caixão leva 7 prêmios em Paulínia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.