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música
MEMÓRIA
Obra de Paulo Moura ficará como exemplo de liberdade
Morto anteontem, músico mesclou gêneros e teve trajetória incomum
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A música brasileira perdeu
um de seus instrumentistas
mais brilhantes.
Morreu anteontem, vítima
de linfoma (câncer no sistema linfático), o clarinetista,
saxofonista, compositor, arranjador e regente Paulo
Moura. Nascido em São José
do Rio Preto (SP), ele completaria 78 anos amanhã.
Sua trajetória musical foi
incomum. Filho de um mestre de banda de coreto, radicou-se com a família em
1945, no Rio de Janeiro.
Aos 19 anos estreou como
solista da Orquestra Sinfônica Brasileira. Foi clarinetista
da Sinfônica do Teatro Municipal carioca, mas a formação erudita não o impediu de
cultivar sua intensa paixão
pela música popular brasileira e pelo jazz.
"Praticamente, me criei na
gafieira", dizia Moura, que
na década de 1950 também
tocou em bailes e emissoras
de rádio, integrando as orquestras de Zacharias e Oswaldo Borba, época em que
acompanhou cantores de sucesso, como Nelson Gonçalves, Dircinha Batista e Carlos
Galhardo.
Já na década seguinte, frequentou o Beco das Garrafas,
templo da bossa nova e do
samba-jazz.
Como saxofonista do sexteto Bossa Rio, liderado por
Sérgio Mendes, em 1962, tocou até no histórico concerto
de bossa nova no Carnegie
Hall, em Nova York, ao lado
de Tom Jobim, João Gilberto
e Luiz Bonfá, entre outros.
Em meio a uma carreira
musical tão eclética, uma das
contribuições mais originais
de Moura surgiu em 1976, sinalizando seu reencontro
com o universo do samba e
do choro.
INOVAÇÃO
Depois de tocar por alguns
meses com o sambista Martinho da Vila, gravou o inovador "Confusão Urbana, Suburbana e Rural", álbum que
contribuiu ativamente para
reacender o interesse pelo
samba-choro das orquestras
de gafieira.
Esse projeto também marcou de forma definitiva sua
obra. Na época voltou até a
tocar em uma gafieira da praça Tiradentes, no centro do
Rio, despertando a atenção
de outros músicos, que iam
ouvi-lo.
Desde então seu crescente
interesse pela rítmica brasileira gerou outros álbuns
nessa linha musical, como
"Mistura e Manda" (1983),
"Gafieira Etc. e Tal" (1986) e
"Pixinguinha" (1988).
Ainda na década de 1980,
sua prolífica parceria com a
pianista Clara Sverner, registrada em três álbuns com repertório erudito e popular,
abriu caminho para preciosas colaborações com outros
figurões da música instrumental, como Raphael Rabello, Arthur Moreira Lima,
Wagner Tiso, Nivaldo Ornelas, João Donato e Yamandu
Costa, todas registradas em
disco.
A associação mais recente,
com o bandolinista baiano
Armandinho, rendeu o CD
"AfroBossaNova" (2009).
Num cenário em que ainda
se insiste em criar fronteiras
rígidas entre gêneros e estilos, a música do grande Paulo Moura ficará para sempre
como um exemplo vital de liberdade.
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