São Paulo, quarta-feira, 14 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

música

MEMÓRIA

Obra de Paulo Moura ficará como exemplo de liberdade

Morto anteontem, músico mesclou gêneros e teve trajetória incomum

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A música brasileira perdeu um de seus instrumentistas mais brilhantes.
Morreu anteontem, vítima de linfoma (câncer no sistema linfático), o clarinetista, saxofonista, compositor, arranjador e regente Paulo Moura. Nascido em São José do Rio Preto (SP), ele completaria 78 anos amanhã.
Sua trajetória musical foi incomum. Filho de um mestre de banda de coreto, radicou-se com a família em 1945, no Rio de Janeiro.
Aos 19 anos estreou como solista da Orquestra Sinfônica Brasileira. Foi clarinetista da Sinfônica do Teatro Municipal carioca, mas a formação erudita não o impediu de cultivar sua intensa paixão pela música popular brasileira e pelo jazz.
"Praticamente, me criei na gafieira", dizia Moura, que na década de 1950 também tocou em bailes e emissoras de rádio, integrando as orquestras de Zacharias e Oswaldo Borba, época em que acompanhou cantores de sucesso, como Nelson Gonçalves, Dircinha Batista e Carlos Galhardo.
Já na década seguinte, frequentou o Beco das Garrafas, templo da bossa nova e do samba-jazz.
Como saxofonista do sexteto Bossa Rio, liderado por Sérgio Mendes, em 1962, tocou até no histórico concerto de bossa nova no Carnegie Hall, em Nova York, ao lado de Tom Jobim, João Gilberto e Luiz Bonfá, entre outros.
Em meio a uma carreira musical tão eclética, uma das contribuições mais originais de Moura surgiu em 1976, sinalizando seu reencontro com o universo do samba e do choro.

INOVAÇÃO
Depois de tocar por alguns meses com o sambista Martinho da Vila, gravou o inovador "Confusão Urbana, Suburbana e Rural", álbum que contribuiu ativamente para reacender o interesse pelo samba-choro das orquestras de gafieira.
Esse projeto também marcou de forma definitiva sua obra. Na época voltou até a tocar em uma gafieira da praça Tiradentes, no centro do Rio, despertando a atenção de outros músicos, que iam ouvi-lo.
Desde então seu crescente interesse pela rítmica brasileira gerou outros álbuns nessa linha musical, como "Mistura e Manda" (1983), "Gafieira Etc. e Tal" (1986) e "Pixinguinha" (1988).
Ainda na década de 1980, sua prolífica parceria com a pianista Clara Sverner, registrada em três álbuns com repertório erudito e popular, abriu caminho para preciosas colaborações com outros figurões da música instrumental, como Raphael Rabello, Arthur Moreira Lima, Wagner Tiso, Nivaldo Ornelas, João Donato e Yamandu Costa, todas registradas em disco.
A associação mais recente, com o bandolinista baiano Armandinho, rendeu o CD "AfroBossaNova" (2009).
Num cenário em que ainda se insiste em criar fronteiras rígidas entre gêneros e estilos, a música do grande Paulo Moura ficará para sempre como um exemplo vital de liberdade.


Texto Anterior: FOLHA.com
Próximo Texto: Música: Lançamentos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.