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"A SAGA DO JUDEU BRASILEIRO"
Imigração vista sem rigor acadêmico
MOACYR SCLIAR
COLUNISTA DA FOLHA
A presença judaica no Brasil
é muito mais antiga do que
se pensa e faz parte, inclusive, do
imaginário popular: lendas sobre
expedições judaicas à Amazônia
em tempos bíblicos são freqüentes no Norte do país.
Assim, o rio Solimões teria esse
nome em homenagem ao rei Salomão, que usou na construção
do Templo de Jerusalém madeiras e ouro da região amazônica.
Mais concretamente, sabe-se que
judeus estavam a bordo das primeiras naus que chegaram -na
condição de cristãos-novos, fugindo, muitas vezes da Inquisição.
Os judeus foram, sobretudo no
Nordeste, senhores de engenho,
médicos, comerciantes, poetas.
Ao tempo dos descobrimentos
marítimos, a população judaica
de Portugal crescera muito, com o
afluxo de judeus que fugiam da
perseguição em terras de Espanha
e que, de Portugal, vieram para o
Brasil. Recife tinha, inclusive,
uma rua dos Judeus e uma sinagoga que funcionou ativamente à
época do domínio holandês.
Nos séculos 19 e 20, viriam os judeus da Europa Oriental (Rússia,
Polônia) e da Alemanha, dentro
daquele grande fluxo migratório
para a América do Sul, então um
continente escassamente povoado; como dizia então o intelectual
argentino Juan Alberdi, "governar é povoar", e os governos seguiram à risca essa diretriz, abrindo as portas aos recém-chegados.
Os europeus dirigiam-se principalmente para o Cone Sul do continente: para a Argentina, para o
Chile e, no caso do Brasil, para o
Rio Grande do Sul. Nesse Estado,
a imigração judaica completa,
neste ano, um século.
História
Esta é a história que nos conta
Hersch W. Basbaum em "A Saga
do Judeu Brasileiro: A Presença
Judaica em Terras de Santa Cruz"
(São Paulo, Edições Inteligentes).
Como diz o autor, a obra não tem
qualquer pretensão acadêmica e
não segue as normas clássicas do
gênero. É antes um trabalho de divulgação, escrito em linguagem
acessível, mas que cumpre o papel
de informar o leitor sobre um assunto que, num país de mistura
cultural como é o Brasil, tem
grande interesse.
Basbaum cita vários e importantes autores e acrescenta a seu
trabalho tabelas que dão uma
idéia da extensão do movimento
migratório. No capítulo final, e
como contribuição pessoal, acrescenta alguma entrevistas feitas
com judeus brasileiros, nas quais
as pessoas falam de como se posicionam e se sentem diante de sua
condição judaica.
Um dos entrevistados fala da
"risadinha interior de satisfação",
cada vez que toma conhecimento
de que um judeu "conquistou isso
ou aquilo, ganhou este ou aquele
prêmio, encabeça lista de aprovados no vestibular", para acrescentar em seguida que "me desagrada o establishment judaico, me
desagradam muitos dos super-ricos". Uma doutoranda de história, filha de casamento misto
(eventualidade cada vez mais freqüente nas comunidades judaicas
de todo o mundo), diz: "O judaísmo para mim não está ligado aos
preceitos religiosos. Antes, o que
me faz sentir judia é a cultura ou o
sentimento de pertencer ao povo
judeu".
Mas também há respostas iradas: "Para que essas perguntas?
Aonde você quer chegar? Pra teu
governo, sinto-me cercado pela
judeuzada o tempo todo, olhando-me como se fosse ovelha desgarrada. O judeu não suporta que
alguém deixe de ser judeu. E não
vem com essa de orgulho. Orgulho porra nenhuma". E, em contrapartida, a resposta de um cineasta: "Acho que ser judeu ou
membro de qualquer outro credo,
nacionalidade, povo, não é questão de orgulho. As pessoas devem
ser o que são por amor, por aceitação. Eu sou judeu, sou brasileiro, sou polonês e amo a humanidade".
A Saga do Judeu Brasileiro: A
Presença Judaica em Terras de
Santa Cruz
Autor: Hersch W. Basbaum
Editora: Edições Inteligentes
Quanto: R$ 30 (191 págs.)
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