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GUILHERME WISNIK
Culturas e estruturas em raio-X
Editora lança livro que serve de guia para a compreensão do comportamento estrutural das edificações
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"Porque os edifícios ficam de
pé". Este é o sugestivo título do livro que a Martins
Fontes acaba de lançar pela "Coleção A" (384 págs., R$ 49,80), dedicada à história e crítica das artes visuais. O autor é o italiano Mario Salvadori, professor emérito de engenharia civil na Universidade de Columbia, Nova York.
Escrito em 1980, o livro é um generoso guia para a compreensão do
comportamento estrutural das edificações, noção que está na base das
soluções formais.
Buscando as permanências históricas, ao invés de um evolucionismo
técnico, o autor analisa casos clássicos como as pirâmides egípcias (séc.
27 ao 22 a.C.), as catedrais góticas
(séc. 12 e 13), a Torre Eiffel (1889), a
ponte do Brooklin (1883) e os arranha-céus modernos. Esse caminho
converge para o estudo mais aprofundado dos domos, que considera
"a maior conquista arquitetônica e
estrutural da humanidade", já que
sua natureza monolítica, em forma
de anéis sucessivos, permite grande
resistência à deformação. Para tanto, compara os exemplos do Panteão
de Roma (séc. 2 d.C.), da Igreja de
Santa Sofia, em Constantinopla
(séc. 6), e da Catedral de Santa Maria
del Fiori, em Florença (séc. 15).
O primeiro, um edifício circular
definido pela inscrição de uma esfera perfeita, cobre um vão livre de 43
metros, audácia estrutural que se
explica pelo uso precoce do concreto pozolânico. O segundo, montado
sobre uma planta de formato alongado, na tradição das basílicas romanas, inaugura um novo modo de
apoiar a cúpula: não mais ao longo
de todo o seu perímetro circular,
mas pontualmente sobre arcos que
ligam os quatro pilares centrais da
nave, sujeitos a dramáticos empuxos laterais. Reflexão que está na
origem tanto dos arcobotantes góticos, quanto dos semidomos auxiliares das mesquitas otomanas. No terceiro caso, Salvadori explica como a
cúpula octogonal de Brunelleschi,
feita com uma alvenaria dupla, dispensou a necessidade de escoras de
madeira. Revolução técnica e formal
que, no entanto, veio a cobrir um vão
apenas dois metros maior que o do
"velho" Panteão.
A capa do livro, mostrando o pilar
"iluminante" da rodoviária de Jaú,
projetada por Artigas, é inteligente.
No entanto, cabe aqui um comentário mais amplo sobre as capas da
"Coleção A". Estas, que sempre alternaram desenhos e fotografias
sem qualquer unidade temática ou
cromática, foram recentemente
substituídas por belas fotos de Nelson Kon, focalizando em branco e
preto obras-chave da arquitetura
brasileira. Mudança que garantiu
inegável qualidade visual, além de
uniformidade gráfica, à série. Mas
que, por outro lado, acabou induzindo a alguns erros cruciais de leitura.
O caso mais grave ocorre com "Espaço, Tempo e Arquitetura" (1941),
de Sigfried Giedion, e "Complexidade e Contradição em Arquitetura"
(1966), de Robert Venturi, cujas capas apresentam, ambas, fotos internas da Oca, de Niemeyer. Aproximação visual que esconde o absoluto
antagonismo entre os dois livros, tidos, respectivamente, como os ícones da teoria crítica moderna e pós-moderna.
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