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CRÍTICA ROMANCE
Com notável segurança, autor coloca amantes para debater religião e ciência
NELSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
René Magritte é um dos
poucos pintores surrealistas
que também empolgam as
crianças e os jovens, sem escandalizá-los. A meninada
jamais fica indiferente a seus
paradoxos visuais.
Potencializadas por uma
técnica figurativa impessoal,
suas telas cutucam a reflexão
e mais ainda a fantasia.
Steinn (o cientificista) e
Solrun (a mística), protagonistas do livro de Jostein
Gaarder, gostam muito de
um quadro de Magritte, "O
Castelo nos Pirineus".
O quadro mostra um gigantesco rochedo pairando
na paisagem, com um castelinho no topo. E representa,
para o casal, o mundo flutuante em que vivemos.
O tema desse romance é a
morte e o sobrenatural. Aproveitando a divertida formulação de Monteiro Lobato, podemos dizer que, para
Steinn, a morte é ponto final.
Mas, para Solrun, é vírgula
ou ponto e vírgula.
"O Castelo nos Pirineus",
romance epistolar, cutuca a
reflexão e a fantasia tanto
quanto a pintura da qual herdou o título.
Começa com um reencontro inesperado. Mais de 30
anos depois do rompimento,
Steinn e Solrun se reveem,
por acaso, no mesmo hotel
em que ocorreu a separação.
"Por acaso?" Não para Solrun: "Não me diga que foi
mera casualidade. Não diga
que não foi orquestrado!".
Pelo destino, por forças ocultas, é no que ela acredita.
INVESTIGAÇÃO
O antigo amor volta com
força total. Mas, durante a separação, ambos constituíram família. Envelheceram.
Não são aqueles mais os jovens inquietos e aventureiros
de antes.
Não importa. Um diálogo
clandestino tem início. Porém apenas por e-mail. É preciso recuperar o tempo perdido, reviver e reavaliar o motivo do rompimento.
Três décadas atrás, um
evento grave promoveu a separação dos apaixonados.
Um segredo muito bem guardado. É preciso investigá-lo.
Em torno desse segredo,
Jostein Gaarder põe em movimento, com notável segurança, os temas permanentes em
seus livros: a natureza do conhecimento, a inteligibilidade do universo, a oposição
entre essência e aparência,
vida e morte.
Solrun, a certa altura, cita
o matemático e astrofísico James Jeans: "O universo parece-se mais com uma grande
ideia do que com uma grande
máquina".
Nas mensagens trocadas
pelo casal, o suspense evolui, enquanto sistemas distintos de crenças combatem
amorosamente. De um lado a
ciência, do outro a religião. O
universo-máquina contra o
universo-ideia.
NELSON DE OLIVEIRA é autor de "Poeira:
Demônios e Maldições" (Língua Geral)
O CASTELO NOS PIRINEUS
AUTOR Jostein Gaarder
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Luiz Antônio de Araújo
QUANTO R$ 34 (180 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo
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