São Paulo, terça-feira, 14 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA

"O Coronel e o Lobisomem" filma em Minas Gerais, que surge como alternativa às paisagens nordestinas e do eixo Rio-SP

Produções brasileiras ensaiam nova geografia nas telas

DA REPORTAGEM LOCAL

Antes de chegar ao estúdio no Rio de Janeiro, as filmagens de "O Coronel e o Lobisomem" passaram por Minas Gerais, com cenas rodadas na capital, Belo Horizonte, e na cidade de Tiradentes (a 190 km de BH), que serve de cenário à fazenda Sobradinho, domínio imobiliário e afetivo do protagonista Ponciano (Diogo Villela).
Pelo calendário de produção, o longa de Maurício Farias terá sua última cena filmada no próximo dia 30. O lançamento deve ocorrer em junho do ano que vem, reforçando uma tendência "geográfica" nas telas brasileiras -a opção por paisagens mineiras começa a dividir espaço com os territórios conhecidos do Nordeste e do eixo Rio-São Paulo.
Pertencem a essa safra de produções "estrangeiras" rodadas em Minas Gerais os dois grandes premiados do Festival de Gramado deste ano (16/8 a 21/8): "Vida de Menina", de Helena Solberg, vencedor do Kikito de melhor filme, e "Filhas do Vento", de Joel Zito Araújo, eleito melhor diretor.
Ambos ainda não têm data de estréia fixada e é provável que só cheguem aos cinemas em 2005.

Postes
Solberg ambientou seu longa na cidade de Diamantina (a 292 Km de Belo Horizonte), local onde a protagonista, Helena Morley, autora do livro "Minha Vida de Menina", no qual o filme se baseia, viveu a infância, no século 19.
"Tivemos um trabalho grande", diz a cineasta, citando que foi necessário até retirar postes de luz, incompatíveis com a época retratada no filme. Mas a diretora ressalta como ponto positivo da experiência "a participação grande da população da cidade" seja no envolvimento da mão-de-obra de artesãos, carpinteiros e pintores, seja na escalação dos aproximadamente 300 figurantes vistos em cena.
"Minas Gerais é uma locação di3ferente das paisagens brasileiras que nos acostumamos a ver no cinema. O governo deveria investir nisso", diz Solberg.
A Secretaria de Cultura de Minas Gerais tenta mostrar que está atenta ao potencial de divulgação turística e aquecimento das economias locais que o cinema pode representar preparando um site de divulgação das características do Estado e de facilidades oferecidas para filmar em suas regiões.
O secretário de Cultura, Luiz Roberto Nascimento Silva, diz que o apoio governamental pode ser feito "com uma série de ações não-monetárias". Ele cita a negociação com as administrações municipais para a interdição de ruas e praças e o fornecimento de energia elétrica sob medida para as equipes de filmagem como exemplos de apoios possíveis.
Sem excluir a possibilidade de atração internacional pelo Estado, a página que deverá entrar no ar em outubro será bilíngüe.

Potencial
Zito Araújo filmou em Lavras Novas, distrito de Ouro Preto, com a impressão de que o governo mineiro "ainda não despertou" para o potencial do Estado como cenário de filmes.
O diretor conta que a escolha do local foi feita a partir de um levantamento que identificou 19 cidades mineiras localizadas a média distância de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro. A facilidade para deslocamento do elenco, que muitas vezes mantém compromissos profissionais paralelos às filmagens, é aspecto importante na definição das locações.
Zito Araújo diz que "a interação com a comunidade" de Lavras Novas foi tão grande que resultará num documentário, de Luciana Burlamaqui, responsável pelo registro dos bastidores (making of) de "Filhas do Vento". (SA)


Texto Anterior: Sobre meninos e lobos
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.