São Paulo, sexta-feira, 14 de setembro de 2007

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THIAGO NEY

Discolândia


Por meio de DJs como o norueguês Lindstrom e de bandas como Chromatics, a disco music é revisitada


O PUNK é tido genericamente como um movimento libertário, que rompeu com os paradigmas quatrocentões da indústria musical. No revisionismo cultural dos anos 70, o punk é normalmente descrito com romantismo e reverência. Pouco se nota sobre o caráter totalitarista desse revisionismo e desse movimento, que se negam/negavam a reconhecer tudo o que estava fora dessa turma.
Claro que algo que surgiu para combater o status quo deveria renegar, por princípio, o já estabelecido, mas muita coisa boa entrou no saco. Bandas como Devo foram desprezadas por serem "muito intelectuais"; e um das injustiças que aos poucos estão sendo corrigidas é com a disco music, que, diferentemente do senso comum (é ainda hoje chamada de "música de alienados"), foi tão libertária e contestadora quanto o punk.
Foi com a disco music que apareceu o conceito do remix (quer coisa mais libertária do que mexer com a música dos outros...); foi ali que o trabalho do DJ pôde começar a ser encarado como arte (com nomes como Larry Levan, Frankie Knuckles); e eram nos clubes noturnos, e não nos porões roqueiros, que a liberação sexual realmente acontecia.
Bem, toda essa lengalenga para dizer que a disco music está sendo revolvida atualmente.
No Tim Festival, por exemplo, a disco music aparecerá na forma de "space disco", pelas mãos do norueguês Lindstrom, DJ e produtor que tocará em uma das tendas de sábado, no Rio, e na The Week, em SP. Lindstrom parte da disco music, de seus baixos grooveados, para construir uma atmosfera eletrônica com o auxílio de elementos modernos.
A disco music também está bem representada pela banda norte-americana Chromatics. O grupo, natural de Portland, não vem ao Brasil, mas acaba de lançar um álbum que resgata a disco music por meio de conceitos roqueiros. O Chromatics é um grupo misterioso. Começou punk, noise, há uns seis anos (quando excursionavam com gente como o indie Calvin Johnson).
O grupo gira em torno do multi-instrumentista Adam Miller, do produtor Johnny Jewel e, atualmente, conta com a Ruth, cantora cuja voz provoca calafrios.
(Johnny Jewel está também em outra banda de sonoridade semelhante, a Glass Candy.)
Por meio do selo Italians Do It Better, temos este novo disco do Chromatics, "Night Drive". São dez faixas etéreas, como se as músicas de um clube estivessem sendo tocadas num ritmo lento.
Se Antonioni dirigisse "Nos embalos de Sábado à Noite", ele certamente usaria como trilha uma faixa como "Running Up that Hill" (dá para ouvi-la no blog Dominódromo: http://dominodromo.blogspot.com/). Mais: www.myspace.com/chromaticsmusics.

 

Semana que vem chega a SP a nova edição da Invasão Sueca. Corra, pois o Studio SP ficará pequeno para o excelente Love Is All (quinta) e para os elogiados Suburban Kids with Biblical Names (sexta).

thiago@folhasp.com.br


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