São Paulo, sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/"Kirikou - Os Animais Selvagens"

Técnica "ultrapassada" garante animação

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

O desembarque regular dos desenhos do francês Michel Ocelot e do japonês Hazao Miyazaki funciona como uma máquina do tempo para quem aprendeu a gostar de cinema no século passado. Para os que cresceram na era das produções digitais da Pixar e dos "Shreks", um filme como "Kirikou - Os Animais Selvagens" pode parecer ultrapassado. Mas há nele um efeito de tradição que nunca esgota seu charme.
A animação de Ocelot utiliza técnicas de desenho artesanais que fazem toda a diferença para a história que conta. O longa recupera os personagens de "Kirikou e a Feiticeira" (1998) e narra as confusões de um pequeno integrante de uma tribo africana sob o qual a malvada Karaba lança uma maldição. Apesar de suas diminutas dimensões, Kirikou usa sua inteligência em manobras para se safar da perseguição e com isso salva sua tribo dos riscos e ameaças. Trata-se de um diálogo de forças entre o engenho humano e a natureza.
Nesse sentido, a fábula de Kirikou é a atualização do mito, tipo de relato das origens em que se fundam os valores e os significados de uma cultura por meio das peripécias de um herói em confronto com forças divinas que o ultrapassam.
E é essa história de sabor quase arcaico que justifica o uso de técnicas de animação que podem ser consideradas ultrapassadas, pois com elas o resultado lança o espectador numa viagem estética que apela diretamente para os domínios da imaginação.
É o contrário do tipo de animação surgida a partir de "Toy Story" e que predomina até os recentes "Shrek 3" e "Ratatouille", na qual objetos e personagens são moldados e representados numa escala de semelhança com nossa experiência concreta, em que brinquedos, peixes, carros, ogros e ratos são sempre antropomorfizados, agem e reagem como humanos.
Nos trabalhos de Ocelot (assim como nos de Miyazaki) predomina a separação entre o humano e o inumano. E é justamente nesta distância que se abre espaço para o predomínio da fantasia.


KIRIKOU - OS ANIMAIS SELVAGENS
Direção: Michel Ocelot
Produção: França, 2005
Quando: em cartaz nos cines Interlagos, Villa-Lobos e circuito
Avaliação: bom



Texto Anterior: Crítica/"O Vigarista...": Indefinição de gênero enfraquece história sobre farsa
Próximo Texto: Crítica/"Instinto...": Didatismo banaliza trama sobre assassino
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.