São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2008

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Alice na cidade

Em sua primeira minissérie ambientada em São Paulo, HBO mostra garota do interior transformada pela metrópole

Beatriz Lefèvre/Divulgação
Karim Aïnouz dirige Andréia Horta em cena de "Alice' gravada no edifício Copan, em São Paulo

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Garota de 20 e poucos anos alimenta a perspectiva de amadurecer ancorada num grande amor -e num casamento. Uma viagem (sem o par) muda seus planos e sua vida. Esse é o início da história de "Alice", que será contada em 13 episódios da minissérie que a HBO estréia no próximo domingo no Brasil e no restante da América Latina.
É assim também que começa o longa "O Céu de Suely" (2006). Filme e série têm direção do cineasta Karim Aïnouz e pouco mais em comum. Quando migrou (temporariamente) do cinema para a TV, era a diferença que Aïnouz buscava.
O amplo sucesso de crítica de "O Céu de Suely" e seu relativo fracasso de público (46 mil espectadores, com dez cópias em cartaz) deixaram o diretor "confuso" e cheio de interrogações, que enumera: "Qual a função do cinema no Brasil? Os filmes são produto de massa ou de luxo? Onde estou inserido?".
No convite para dirigir "Alice" -em parceria com o também cineasta Sérgio Machado ("Cidade Baixa")-, Aïnouz viu a chance de "experimentar um formato [de produção audiovisual] com distribuição previamente arquitetada".
A HBO possui 1,5 milhão de assinantes no país (incluindo os canais Cinemax e Max Prime). A empresa aposta no potencial de expansão dessa base e projeta o Brasil como seu principal mercado na América Latina. Para "ter um diferencial que faça o assinante pagar a mensalidade contente", o executivo da empresa na região, Luis Peraza, investe no incremento da produção de séries no Brasil, ainda que, para isso, tenha que gastar um pouco mais.

Episódio a R$ 1 milhão
Segundo Peraza, cada episódio da série no Brasil custa em torno de R$ 1 milhão. "Produzir com qualidade equivalente no México custa 80% disso e, na Argentina, a metade", afirma.
Seguindo a "decisão de ter um projeto na maior cidade do país", conforme diz Peraza, "Alice" é a primeira série do canal gravada em São Paulo. "Filhos do Carnaval" e "Mandrake" têm o Rio como cenário.
Por sugestão de Aïnouz, Alice, a personagem-título, é uma migrante na cidade. Essa condição permitiu ao diretor fotografar São Paulo com cores intensas, como "num mundo um pouco alterado, distante do naturalismo no sentido televisivo", porque essa é a perspectiva pela qual Alice a vê.
Na opinião de Aïnouz, "existe uma sub-representação de São Paulo na TV". Ele cita a atual novela das oito da Globo, "A Favorita", em que "a cidade não é porosa, parece que os personagens não estão em São Paulo".

Tocantins, o contraponto
O ponto de partida de Alice, interpretada pela atriz Andréia Horta, é Palmas, a capital planejada do Tocantins, projeto pelo qual Aïnouz, formado em arquitetura, cultiva "certa fascinação" e em cuja paisagem "rarefeita" ele vê um bom "contraponto de São Paulo".
Peraza diz que "é cedo" para dizer se "Alice" terá uma segunda temporada. Quer, antes, ver "a reação dos assinantes".
Aïnouz prepara a volta ao cinema, com seu terceiro longa, "Praia do Futuro" (título provisório), um projeto "superpessoal", regado pela vontade de "fazer um filme em que a ação gere vida, não tiros e morte".


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